Esquerda vence no Chile com a eleição de Gabriel Boric para presidente
Rafael Jasovich*
Além de ser o presidente eleito mais jovem da história do Chile, aos 35 anos, Gabriel Boric, ex-líder estudantil, candidato de esquerda pela aliança Apruebo Dignidad (Aprovo Dignidade), é o presidente eleito com mais votos na história do país da América do Sul.
Com 8.320.488 votos no total, a participação dos chilenos no segundo turno das eleições presidenciais foi também a maior da história desde a redemocratização do país, em 1988 – cerca de 15 milhões de chilenos estavam aptos a votar nesse domingo (19).
No Chile, o voto não é obrigatório. As eleições chilenas foram consideradas as mais polarizadas desde o fim do regime militar.
Com a aliança Aprovo Dignidade, Boric obteve apoio da Frente Ampla e do Partido Comunista e de toda centro-esquerda no segundo turno.
Crítico do neoliberalismo do atual presidente Sebastián Piñera Echenique, ex-ministro de Pinochet (1973/90), o presidente eleito propõe avançar para um Estado do Bem-Estar social, com uma série de direitos básicos garantidos.
Deputado de 35 anos – a idade mínima para se candidatar – Boric é vinculado aos protestos massivos de 2019. Ele defende um Estado com atenção especial às pautas feministas, ambientalistas e regionalistas.
“Somos novas gerações que entram na política com as mãos limpas, o coração quente, mas com a cabeça fria”, disse Boric, após votar em Punta Arenas, sua cidade natal.
Já o seu adversário da extrema-direita derrotado nas urnas, José Antônio Kast, advogado católico de 55 anos, da aliança Frente Social-Cristã, combate a migração irregular, além de se posicionar contrário ao casamento gay e ao aborto. Defende o modelo neoliberal imposto pela ditadura de Pinochet.
Com o neoliberalismo derrotado. o Chile é mais um país da América do Sul a caminhar para um governo de características populares e desenvolvimentistas, se opondo fortemente ao neoliberalismo.
Argentina, Peru, Bolívia e agora Chile elegeram candidatos de esquerda e formam um cordão em volta do Brasil que, com certeza, também elegerá um presidente com essas características no dia 2 de outubro de 2021, com eventual segundo turno em 30 do mesmo mês.
É assim que América do Sul avança para a formação de acordos e coalizões internacionais de oposição às políticas neoliberais.
Desse modo, certamente avançará com as reformas necessárias para o fortalecimento do Estado do Bem-Estar Social, assegurando e retornando com direitos sociais que foram extintos por governos de direita, como ocorre no Brasil atual.
A utopia avança para se tornar realidade na América do Sul. A esperança está de volta para criar novas utopias e avançar com as reformas sociais e humanitárias.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional.