Carlos Drummond de Andrade
Pouca gente sabe que se cogitou de Itabira para sede de uma “Escola de Mineiros”, que afinal se instalou em Ouro Preto com o título de “Escola de Minas” – a famosa instituição hoje com 108 anos de funcionamento. Essa escola era um antigo sonho brasileiro: já em 1832, a Câmara dos Deputados decretava a organização de uma Academia de Mineralogia e Geologia em Minas Gerais.
Tempo passou, até que o imperador Pedro II chamou da França o físico e matemático Henri Gorceix para execução do projeto.
Em 1875, Gorceix entregava circunstanciado relatório, dando conta do exame que fizera das condições exigíveis para o funcionamento dessa casa de ensino especializado.
Visitou Itabira, Sabará e Ouro Preto, concluindo por ser a então Capital da Província o lugar recomendável.
Graças à gentileza do estudioso da história econômica do Brasil, dr. Geraldo Mendes Barros, tive em mãos o relatório de Gorceix, encontrado no Arquivo Nacional, que aquele meu amigo fez xerocar.
Aqui reproduzo o tópico referente a Itabira, cujo conhecimento, presumo deva interessar aos itabiranos de hoje. A pouca sorte de nossa terra está manifesta: com abundante material de estudo para a Escola, Itabira não pôde tê-la por causa da distância e da falta de comunicações…
Relatório de Henri Gorceix, de 1875, desaprova Itabira para sediar a Escola de Minas
“Graças à inteligente iniciativa de alguns dos principais habitantes, a cidade de Itabira, situada ao pé da serra do seu nome, tem escapado de certo modo à decadência que, há mais de meio século, tem invadido quase todos os centros de população dessa parte da Província.
A salubridade do clima, as vantagens de situação em região fértil e a boa construção das casas proporcionariam grandes facilidades aos alunos e ao pessoal docente que dos habitantes receberiam bom acolhimento.
Existem nas portas da cidade as três explorações auríferas d’Itabira, Sta Ana e Conceição, cujos trabalhos recomeçaram há pouco e já dão resultados satisfatórios.
Infelizmente, em consequência da natureza do minério e da falta de força motora, são pouco importantes os engenhos empregados e pouco interesse oferecem ao estudo.
Demais, como a cidade está no meio da formação de ferro oligisto pertencente ao sistema dos itabiritos, fundaram-se com um raio pouco considerável grande número de pequenas fábricas de ferro cujo mecanismo atual, muito grosseiro, apenas pode servir de ponto de partida para aperfeiçoamento que lhes darão em breve mais desenvolvimento.
Em algumas, como o Onça, a uma légua ao N. de Itabira e Monlevade, a cinco légua a L. acham-se estabelecidas forjas catalonas, e nesta última o maquinismo poderia se prestar a alguns estudos interessantes.
Mas sem contraposição a essas condições favoráveis devo lembrar a distância da cidade a 18 léguas ao N. de Ouro Preto e a 30 das vias férreas atualmente projetadas.
A dificuldade de transporte e lentidão da viagem que, já grandes em toda essa região, muito aumentam com as distâncias, tornam bem sensível o afastamento da costa e fazem nascer o receio de que o demasiado isolamento da Escola traga a dificuldade de obter o pessoal docente e alunos. Nas circunstâncias, os terrenos não apresentam grande variedade e muito poucas jazidas interessantes de minerais.
A cidade, que não tem mais de 2.000 almas, não possui biblioteca, nem casa que possa servir provisoriamente para a Escola.” (Henri Gorceix).
*O texto de Drummond apresentando o relatório que desaconselhou a instalação da Escola de Minas em Itabira, que acabou se instalando em Ouro Preto, foi originalmente publicado no jornal O Cometa, edição 64, maio de 1984.
O relatório de Henri Gorceix, de 1875, foi gentilmente encaminhado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade ao jornal itabirano.
1 comentário
Itabira perdeu a Escola de Minas e a Humanidade ganhou a preservação de Ouro Preto.
Quando da transferência da capital para Belo Horizonte, ocorreu o esvaziamento de Ouro Preto e com o tempo a UFOP foi ocupando os espaços e com as repúblicas ou moradias estudantis, com isto o casario colonial foi preservado.