Em pleno sono, vão nos entregando
Igor Guerra*
Os tempos Temerosos nos ensinam. O fracasso dos políticos corruptos está deixando claro o papel das grandes empresas, agentes corruptoras, modeladoras desse espetáculo midiático manipulador. A globo, por exemplo, opera as linhas teatrais como convém, sempre por interesses econômicos maiores “Agro é Tech, Agro é Pop, Agro é tudo”.
As revelações de Temer e Aécio, suas relações com as empresas e juízes parciais (escolhe quem pode ser corrupto) deixam claro a nossa situação de país periférico no sistema capitalista. Onde a preocupação da classe dominante e seus representantes (Aécio, Temer, Bolsonaro, Dória) sempre foi entregar a nação, manipulando o que for necessário.
Enquanto dormimos, eles constroem nossa casa com apenas uma saída: a que leva nossas riquezas ao cofre dos países ricos e daqueles que entregam o Brasil. Não só as riquezas materiais, mas o conhecimento, a cultura e o trabalho do povo.
Anna Primavesi, em seu livro “Agroecologia: ecosfera, tecnosfera e agricultura”, relata a década de 60, quando o presidente Kennedy dos EUA lançou a campanha “Alimentos para a paz” como lema para aumentar o mercado, industrializando a agricultura do terceiro mundo: Ásia, África, América do Sul. Foi quando se abriram as suas fronteiras às máquinas, adubos e agrotóxicos. Essa abertura foi chamada “Revolução Verde”, que contou com bolsas de estudos nos EUA e treinamento de extensionistas para levar a “nova” tecnologia às fazendas.
Nessa época, JK com seu governo entreguista e com a melhor propaganda de todos os tempos, atrai subsidiárias de multinacionais para o Brasil. Concede todo tipo de subsídio: terrenos, isenção de impostos e empréstimos. Faz propagandas para mobilizar mão de obra para as cidades (êxodo rural), sem que tivessem condições de receber tanta gente. Além disso, boa parte da população rural foi expulsa do campo, dando lugar ao latifúndio.
E após o governo de João Goulart, que propunha fazer reformas estruturais no capitalismo, veio o Golpe de 64 em que os milicos “entreguistas” intensificaram a via colonial no Brasil, perpetuando a dependência e o subdesenvolvimento brasileiro, conforme bem relata Darcy Ribeiro (1922/97), em seu livro O Povo Brasileiro.
O capital estrangeiro adora nos classificar como “em desenvolvimento”, sendo esse o pretexto para as suas intervenções nos rumos alheios. Na verdade, imposições imperialistas. Um dreno do trabalho humano e das riquezas naturais. Um exemplo: as mercadorias circulam livremente no mundo. Os países pobres produzem as commodities e peças industriais para as empresas multinacionais dos países ricos. Esses, por sua vez, criam os muros sociais e os criatórios de “recursos humanos” para produzirem toda a matéria-prima de sua riqueza.
Assim é o agronegócio no Brasil, bombardeado de investimentos, enquanto a agricultura familiar fica estagnada. O campo, chamado de agroindústria, produz apenas bens exportáveis (soja, café, animais de corte, via JBS, Sadia), polue nossos solos e rios e gera um problema: a questão agrária, que é o entrave à real produção de alimentos e ao desenvolvimento campesino do verdadeiro campo. O agronegócio é o pesadelo que promovem nos destruindo.
As grandes empresas também contam com a ideologia da social-democracia, que difundida por representantes liberais nos países marginais, ilude o povo à medida em que as instituições parecem funcionar: o judiciário, o congresso e o senado totalmente parciais não são populares. Agem em prol do lucro dos bancos, do agronegócio e do liberalismo que enriquece ricos e empobrece mais ainda os pobres.
Enquanto a mídia amortece e intensifica as informações a seu ver, as universidades reproduzem o conservadorismo, enquanto o consumo tranquiliza a classe média. Já os dominadores continuam a construir a nossa única saída.
Adormecido, o povo acredita que esse é o destino pleno de seu país, mesmo estando submetido à tamanha exploração (poucos direitos trabalhistas e alta taxa de impostos para os pobres, não para os ricos). Nas universidades, aprendemos a lição de sermos subdesenvolvidos. Os estudantes estão ocupados em produzir, formarem-se como mão de obra para gringos, ter currículo Lattes e não se perguntam – qual a função da educação no projeto político em curso?
Para tanto, neste momento de golpe em cima de golpe, em que a mídia cria situações oportunas aos “entreguistas” que lhe convém, é bom abrirmos os olhos, pois a classe dominante (globo, grandes empresas e seus políticos) observa e controla nosso repouso em pleno sono. Estão agindo, e já projetam a manutenção de seu lucro para 2018.
Ariano Suassuna (1927/2014) ao ser entrevistado pelo professor de economia Nildo Ouriques (UFSC), disse que não dorme com alguém olhando para ele. Acho que a arte, à medida que der acesso ao conhecimento de nossa cultura brasileira, indo às ruas apesar de toda a censura, impedindo a perda pelo imperialismo cultural, nos tornará mais “suassunas”.
E à medida que tivermos uma consciência de que é preciso uma reforma política das bases estruturais, anti-imperialista, seremos uma verdadeira nação. E, na medida em que enfrente as multinacionais e o poder político dos entreguistas, além de fortalecer a agroecologia, a reforma agrária popular e o povo brasileiro, nos aproximaremos da nossa utopia, de um Brasil que seja nossa casa. Assim, de olhos abertos, criaremos nossas próprias saídas. Como disse o músico mineiro: “que nos levem aonde o povo está”.
https://www.youtube.com/watch?v=ikFyr2-Qi4Q– Entrevista com Ariano Suassuna
*Igor Guerra bate enxada sem agrotóxico e estuda agronomia nas horas vagas
Esse Igor é porreta! E ainda, bate enxada e faz agronomia nas horas vagas… Verdade! Só manipulação. Bem disse Ariano Suassuna, não dorme com alguém olhando pra ele.