Eemza dá exemplo de resistência e rejeita escola cívico-militar, enquanto Major Lage e Antônio Linhares aprovam retrocesso proposto por Zema

Fotos: Carlos Cruz

Escola histórica de Itabira se posiciona contra militarização da educação na rede estadual

A Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio (Eemza), segunda maior em número de estudantes da rede estadual em Itabira e a primeira fundada na cidade, tornou-se até o momento a única instituição local a rejeitar formalmente a proposta do governo Romeu Zema (Novo) de adesão ao Programa de Escolas Cívico-Militares.

Já a Escola Estadual Trajano Procópio da Silva Monteiro (Premem), maior da cidade em número de alunos, optou por não se candidatar à implementação do modelo.

Em votação realizada nessa quinta-feira (10), a comunidade escolar da Eemza se posicionou de forma contrária ao projeto, com 178 votos desfavoráveis e 115 favoráveis. O resultado reforça o engajamento político da instituição na defesa de uma educação democrática e inclusiva.

Diferentemente, outras escolas de Itabira já aprovaram a proposta com ampla margem de votos favoráveis. A Escola Major Lage registrou 232 votos a favor, 111 contrários e duas abstenções. A Escola Marciana Magalhães teve 501 votos pela adesão e apenas 21 contrários.

Já Antônio Linhares Guerra contabilizou 259 votos favoráveis, 30 contrários e sete nulos. As escolas Dona Eleonora e Palmira de Morais ainda devem decidir sobre a adesão nos dias 14 e 15 de julho, respectivamente.

Escola Major Lage aprova proposta de gestão cívico-militar e pode ter militares ditando disciplina, ordem e moralidade na tradicional escola itabirana
Um projeto com raízes bolsonaristas

O modelo cívico-militar foi concebido originalmente pelo governo Jair Bolsonaro em 2019 e descontinuado em nível federal em 2023, devido à falta de resultados pedagógicos concretos e ao alto custo de implementação.

Ainda assim, o governador Romeu Zema, pré-candidato a presidente nas eleições de 2026, mantém a proposta em Minas Gerais, mesmo diante das críticas de entidades educacionais, especialistas e parlamentares da oposição, certamente buscando fazer acenos aos eleitores bolsonaristas.

O programa prevê a atuação de militares da reserva em funções de gestão escolar, especialmente nas áreas de disciplina e organização, o que compromete a autonomia pedagógica e os princípios democráticos da escola pública.

Modelo representa um retrocesso

A proposta vem sendo amplamente criticada por especialistas e pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE-MG), que a considera autoritária, ineficaz e desconectada das necessidades reais das escolas públicas.

Os militares envolvidos não possuem formação pedagógica e passam a atuar em ambientes escolares que demandam sensibilidade, escuta e conhecimento específico.

Além disso, o modelo impõe regras comportamentais rígidas, ignora a diversidade cultural e social dos estudantes e desvia recursos públicos, como os do Fundeb, para remunerar militares, em vez de investir em infraestrutura e valorização profissional.

A disputa pela escola pública e seus valores

A tentativa de militarizar a educação é vista por parlamentares e analistas como uma manobra ideológica alinhada à pré-candidatura presidencial de Zema em 2026.

Segundo a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), trata-se de um projeto que ameaça o pluralismo de ideias, a liberdade de expressão e a construção de espaços educacionais abertos à diversidade.

Os dados apresentados pelo governo para justificar o modelo carecem de estudos independentes e mostram resultados pontuais, sem comprovação de impacto duradouro.

É assim que o posicionamento da Eemza assume, nesse contexto, papel simbólico e estratégico. Isso por reafirmar que educação pública se constrói com participação, inclusão e liberdade de pensamento.

Em tempos de avanço de agendas conservadoras e autoritárias, a decisão tomada por seus profissionais demonstra que ainda há espaço para resistência e compromisso com uma escola verdadeiramente democrática.

Diferença entre escola cívico-militar e Colégio Militar

É importante esclarecer que o modelo cívico-militar não se confunde com os Colégios Militares já existentes em diversas cidades, como o Colégio Tiradentes da Polícia Militar, situado no bairro Amazonas, em Itabira.

O Tiradentes possui estrutura própria, currículo diferenciado e atende prioritariamente filhos de policiais militares, e também civis, mediante processo seletivo.

Já as escolas cívico-militares são instituições regulares da rede estadual que passam por transformação administrativa, com inserção de militares em funções diretivas, sem critério pedagógico ou acadêmico consistente.

 

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