E se os jogadores da Seleção desistirem da copa América
Rafael Jasovich*
É possível que empresários e patrocinadores forcem seus “jogadores-clientes” a entrarem em campo – mas mesmo esse argumento é relativo. Não há clamor popular pela realização de um evento de baixo prestígio esportivo em plena pandemia
É atribuída a Sir Alfred Hitchcock (1899-1980), o “mestre do suspense”, uma das mais conhecidas citações sobre a relação entre diretores e artistas: “Eu nunca disse que atores são gado. O que eu disse é que todos os atores devem ser tratados como gado”.
Pois foi justamente assim – como gados – que os jogadores da Seleção Brasileira se sentiram quando a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o governo Jair Bolsonaro anunciaram o acerto para trazer ao País a Copa América 2021.
Tratando o Brasil como uma “grande pátria desimportante”, cartolas e governantes esperavam que os atletas repetissem os versos de Cazuza: “Em nenhum instante/Eu vou te trair/Não, não vou te trair”.
Deu-se o contrário. Conforme anunciou o jornal espanhol As nessa sexta-feira (4), os jogadores bateram o martelo: nenhum deles jogará a Copa América, prevista para o período de 13 de junho a 9 de julho.
Não bastasse o flagelo da pandemia no Brasil, pesou para os atletas a postura desrespeitosa e irresponsável da entidade, alinhada uma vez mais ao negacionismo bolsonarista.
Nas palavras do As, eles se sentiram “traídos e usados” pela CBF, “principalmente por seu presidente, Rogério Caboclo”, que, diga-se de passagem, está sendo denunciado por abusos vários.
Jogadores de Argentina, Uruguay, Peru e Bolívia mantém conversas e se negariam também a participar desta competição.
Se isto acontecer, não havendo jogadores, não tem COVA AMERICA.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional