É preciso amar Itabira! É preciso construir um projeto de amor para Itabira

Cristina Silveira*

Depois de alguns anos ausente, visitei Itabira. Surpreendente a forma como cresceu, admirável a quantidade de automóveis pelas ruas. A cidade cresceu sem pensar, sem projeto urbanístico. Como cidadã brasileira, de Ipoema das Itabira posso expressar minha indignação com a ausência de civismo, com a indiferença pela Cidade. Erário rico sem a civilidade urbana do século 21, uma brutal inversão de valores, dado que a riqueza cumpre melhorar as condições de vida do cidadão no território.

Era noite quando desembarquei na Genaro Mafra e entrei pela rua Água Santa, entre passeios deteriorados contei quatro postes sem luz no acesso direto ao centro histórico. Dias seguintes visitei dois lugares de referência coletiva: o poço da Água Santa e o cemitério do Cruzeiro. Lastimável! O poço é regaço de descarga sanitária, plástico e alumínio largados na grama sem jardinagem e a catinga intolerável, testemunham a indiferença popular e oficial por aquilo que se tem, que é patrimônio da Cidade. Que Cidade é esta a desdenhar seus cartões postais?

Recentemente o cemitério do Cruzeiro foi pintado e capinado pelo voluntário Wilson Couto, o Knor. Mas os jazigos da tradicional família itabirana continuam abandonados, assim como as obras do santeiro Alfredo Duval (Foto: Carlos Cruz)

Fui ao cemitério do Cruzeiro consagrar minhas almas mortas e bateu fundo o abandono do cemitério; lugar que os vivos reservam aos mortos como asilo eterno, inviolável. Qualquer urbanista poderá dissertar sobre este espaço de cidadania, espaço de cultura, espaço do sagrado. Como! os proprietários das sepulturas não se incomodam com o descaso, com a miserabilidade do Cruzeiro? Não se sentem constrangidos quando vão enterrar os seus familiares e amigos? O desleixo do Cruzeiro é uma derrota da Cidade. Cidade vencida. Dentre as inúmeras razões para preservar e cuidar do cemitério é preciso lembrar da valiosa obra de arte do mestre santeiro Alfredo Duval, talvez a maior coleção a céu aberto do santeiro em espaço público. E por demais, o Cruzeiro está encravado no centro da cidade e o centro de uma cidade deve ser o ponto de vivência, de apoderamento do que é público, é o lugar de travessias do povo.

Em se tratando de fazer cultural a Cidade está embriagada no interminável coquetel da drummondização. Itabira tem mais, sobretudo tem o presente, aqui agora. O poeta Drummond faz parte da história, assim como eu tu ele nós vós e eles. O coletivo é maior que o indivíduo. E assim, o dinheirinho cai no cofre dos pequenos e insignificantes projetos de elegia ao poeta e o restante do veio de cultura fica ao deus-dará.

Cadê a Prefeitura? Onde estão os funcionários graduados da Prefeitura? Onde estão os 20% puro sangue abastados, gordinhos, fartados da boa mesa mineira? Onde estão todos que não veem, não observam, não sentem a destruição progressiva-irremediável da Cidade toda de ferro?

Rejeito ao luar, no Pontal (Foto: Nandim)

O primeiro cartão postal da Itabira Antiga, da “celebre Itabira”, o Pico do Cauê, já era, é banzo de alguns e fotografia na parede para a maioria. “As jazidas do Caué, da Conceição, do Giráu, do Esmeril, do Periquito, do Andrade” todas elas exauridas ou não, ainda atendem ao chamado de guerra: “o mundo tem fome de ferro e sede de aço”. De ouvir dizer, a Vale tem a explorar 50 milhões de toneladas de minério de ferro em Itabira e em seu entorno. Pujança! Automóveis!

A única coisa visualmente melhor em Itabira é o enchimento do buraco do Cauê. Penso que a Vale deve ser justa e recompor a Serra em sua altitude original, é um dever, uma compensação a tantos problemas decorrentes da extração mineral impostos à Cidade.A terra precisa de descanso, da ausência das máquinas gigantes a comer o miolo de suas profundezas, a terra pede silêncio.

E uma última pergunta: Por que cobriram de eucalipto o Morro d’ Aparecida com árvores de reflorestamento? Ele nasceu careca, pô!

*Cristina Silveira, ferida pelos insultos dos alcaides municipais

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6 Comentários

  1. boa notícia. a atitude voluntária do wilson couto, é grandeza cidadã. wilson, eu vou lhe oferecer um presente, no reservado falo pro carlos que falará pra você. é preciso mais cidadãos como você wilson, muito obrigada pelo seu desprendimento, que a luz do céu proteja você.

  2. querida Irma. voce disse tudo. Ache que Itabira nunca teve uma administraçao responsavel e com o minimo di amor pela sua populaçao e seu territorio.
    uma lastima

  3. Como sempre Cristina, você faz das palavras poesia, que nos encanta e faz refletir sobre as possibilidades de um mundo melhor, de uma Itabira melhor.

    Ao amigo Carlinhos o desejo de que continue esse belo trabalho a exemplo de outros bons trabalhos e reportagens que sempre fez dignificando e elevando Itabira cada vez mais.

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