Diversidade brasileira nas Olimpíadas de Tóquio
Marta e Paulinho, no futebol, e Douglas, no voleibol, marcaram os primeiros dias da Olimpíada de Tóquio
Rafael Jasovich*
Mesmo que para alguns brasileiros, a emoção de torcer pela conquista do ouro esbarre no sentimento preocupante de ainda o mundo atravessar a pandemia da Covid-19 e as inúmeras crises, econômica, social e política, que o Brasil enfrenta, não contávamos que em meio ao arrevesado cenário assistiríamos a diversidade brasileira sendo bem representada em suas diversas formas.
É o que vemos na luta de Marta [maior jogadora de futebol de todos os tempos] por reconhecimento, o carisma de Douglas Souza, primeiro jogador da seleção masculina brasileira de vôlei a se declarar gay, ou na fé de Paulinho, ao comemorar a sua vitória agradecendo seu Orixá.
A luta de Marta: rainha do futebol brasileiro
É no campo de futebol que Marta Vieira dos Santos projeta sua representatividade. Mulher, casada com a também jogadora de futebol, Toni Deion, é considerada a maior futebolista dos últimos tempos.
Aclamada por Pelé e por milhares de mulheres que sonham em se tornar jogadoras profissionais, Marta também se destaca pela luta diária pelo reconhecimento. A atleta não possui patrocínios de grandes empresas, batalha por uma remuneração adequada às grandes atletas e parceiras de campo.
Paulinho leva o candomblé às Olimpíadas
O candomblé, alvo da intolerância religiosa no Brasil, assim como outras religiões de matriz africana, ocupa pouco ou quase nenhum espaço de grande visibilidade na mídia por ser uma das religiões mais perseguidas, proveniente de um racismo estrutural que acompanha o povo negro há séculos.
E é nesse contexto que o jogador de futebol Paulinho, de 21 anos, deu voz à resistência de sua religião ao comemorar um gol simbolizando a flecha em agradecimento à Oxóssi, orixá das florestas.
Aos 17 anos de idade Paulinho contou à mãe Ana Cristina o desejo de descobrir sua ancestralidade e espiritualidade por meio do Candomblé. Hoje o camisa sete da seleção brasileira rompe o tabu e expõe para o mundo a reverencia a Exu. “Eu quero buscar o conhecimento dos meus orixás, quero saber quem me guia, quem habita em mim”, ressaltou o atleta.
Em campo, durante a primeira disputa, nas Olimpíadas, contra a Alemanha, Paulinho marcou um dos quatro gols, resultando em sua comemoração. Mas fora dele, o atleta também dribla os desafios, marcados pelo preconceito e a intolerância religiosa, utilizando as redes sociais para pregar o respeito.
O Brasil é um país de contraste. Sua diversidade pode ser observada na música, no clima e em cada região do mapa, mas ainda há muitos espaços a serem ocupados por essa diversidade que é alvo de preconceito, discriminação e perseguição.
Marta, Douglas, Paulinho e a equipe de atletismo brasileiro que compete nas olimpíadas são reflexos dessa pluralidade e vê-los ocupando espaços tão importantes e visibilizados, erguendo suas vozes em resistência, é ser espelho e reflexo àqueles que não se sentem representados nesta sociedade.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado.