Detonação de rocha em mina da Vale provoca tremor em Itabira e assusta principalmente quem mora abaixo de barragens

Fotos: Reprodução

A imagem que abre essa reportagem é ilustrativa. Trata-se de uma detonação realizada recentemente no “Chapéu Chinês”, na mesma mina Periquito onde ocorreu o desmonte com forte tremor nessa quarta-feira (19). A detonação anterior chamou atenção pela sua dimensão, mas diferentemente do que ocorreu ontem à tarde, não causou “abalos sísmicos” na cidade

Por Carlos Cruz

“Foi um estrondo seco seguido de um forte tremor nas residências, parecendo um terremoto”, descreveu um morador do bairro Pará.

“Tenho mais de 40 anos que resido no Pará e até me acostumei com os tremores das explosões da Vale. Mas tremor igual a esse, eu nunca tinha sentido. O chão abalou, as janelas de vidro tremeram, a terra toda tremeu. Achei que o prédio onde moro ia desabar”, contou esse morador à reportagem deste site.

Já um morador de um prédio no início do bairro Praia, próximo da antiga ponte do Aprígio, também sentiu o tremor e ficou ainda mais assustado. “Sai de casa e pensei até em pegar a rota de fuga. A primeira impressão foi que o barulho e o tremor eram de rompimento da barragem do Pontal”, chegou a temer.

Mas conversando com os vizinhos, tranquilizou-se. “Era a Vale explodindo minério em sua mina”, ele foi informado por um ex-empregado da mineradora, que trabalhou na empresa justamente na área de desmonte de rochas de minério.

André Viana, presidente do Sindicato Metabase de Itabira, conta ter sentido o tremor justamente quando estava em reunião virtual com representantes da Vale. “O prédio do sindicato tremeu, mas na hora não dei muita importância. Achei que era decorrente das máquinas trabalhando no recapeamento asfáltico na rua Mestre Emílio.”

Fois só depois de receber telefonema de um colega, que estava na avenida Mauro Ribeiro, que Viana se deu conta de que o tremor foi real e sentido em quase toda a cidade.

“Esse amigo estava no prédio Valparaíso e contou que temeu pelo pior. Achou que o prédio onde estava ia desabar”, conta o sindicalista, que notificou a Vale sobre o ocorrido, pedindo explicações e providências com medidas de segurança.

Vale responde

Procurada pela reportagem, a mineradora enviou a seguinte nota à redação:

“A Vale esclarece que as atividades de desmonte de rocha são realizadas conforme os padrões normativos, e monitoradas por equipe especializada e equipamentos específicos.”

“Os trabalhos executados na quarta-feira (19), na mina Periquito, em Itabira, mantiveram-se dentro dos limites preconizados na norma.”

“Reafirmando o compromisso com a segurança das pessoas das localidades onde atua e de seus empregados, a companhia tem investido continuamente em novas tecnologias, visando mitigar os efeitos de suas operações nessas comunidades.”

Detonação de rocha no “Chapéu Chinês” chamou atenção pela sua dimensão em vídeos divulgados por este site. Mas não causou tremor como ocorreu na tarde dessa quarta-feira

Para saber mais

Abalos e tremores são recorrentes em Itabira

Pela proximidade da cidade com as minas da Vale, é “comum” moradores sentirem tremores de terra e abalos nas residências em decorrência do desmonte de rochas de minério nas minas.

Não são poucas as residências em Itabira que apresentam trincas nas paredes, com risco inclusive de fragilizar a estrutura, devido a esses tremores.

Já houve, inclusive, no passado, lançamento de pedras de minério sobre a Vila Paciência, quebrando vidraças e telhas, por sorte sem atingir moradores.

Na ocasião, uma das respostas da Vale foi adquirir imóveis em parte do bairro Vila Paciência. A justificativa para essas aquisições foi para que fosse instalada uma faixa de amortecimento com um horto florestal, que serviria também para conter a poeira. Mas nada disso aconteceu. Os lotes estão vagos, apenas foram cercados.

No passado, quando moradores queixavam das rachaduras nas paredes de suas residências, engenheiros da Vale sustentavam que isso era devido à má qualidade construtiva das casas – e que nada tem a ver com as detonações nas minas, pois essas seguem os mais rígidos parâmetros da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Diziam ainda que as detonações são necessárias e imprescindíveis à atividade extrativista de minério de ferro, sempre que não é possível fazer o desmonte mecânico de rochas, por meio de enormes equipamentos que rompem os matacos de hematita, ou de itabiritos, fragmentando-os.

Para a Vale, o impacto maior é decorrente da “sensação de tremor provocada pelas ondas geradas no desmonte”. E que para diminuir esse impacto de vizinhança, utiliza uma carga menor de explosivos nas frentes de lavras mais próximas da cidade.

“Enquanto emprega uma carga de 500 quilos de explosivos na mina Conceição, nas Minas do Meio essa carga é de no máximo 75 quilos”, foi o que explicou um técnico da mineradora no jornal Vale Notícias.

E que, com precisão, por meio de um aparelho chamado Quarryman, determina a marcação e a inclinação dos furos na rocha, fazendo uma leitura precisa da frente de lavra para indicar a linha que os furos devem seguir. “O procedimento é fundamental para não ocorrer lançamento de material e também para amenizar as vibrações”, é o que assegura a mineradora.

Normas técnicas

O uso de explosivo em mineração observa a norma 9.653/86, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Por ela, a velocidade resultante da vibração não pode superar 15 milímetros por segundo (mm/s), enquanto o nível de ruído não pode passar de 134 decibéis.

A Vale diz que todas as suas detonações estão dentro dessa norma. E que, na maioria dos casos, as vibrações não ultrapassam 6 mm/s, enquanto o nível do ruído fica abaixo da norma, de acordo com dados monitorados pela própria mineradora.

É o que ocorre também com a poeira lançada sobre a cidade. De acordo com monitoramento realizado pela própria mineradora, os índices de poluição raramente ultrapassam os parâmetros estabelecidos na legislação, inclusive na municipal, que é mais restritiva.

As detonações da Vale podem até estar dentro das normas técnicas, que por certo foram definidas sem levar em consideração a proximidade das áreas de desmontes com as cidades, como é o caso de Itabira. O certo é que as detonações não só assustam, como causam também trincas em muitas residências na cidade. E fica tudo por isso mesmo.

Leia mais aqui:

Assista em vídeos inéditos (e assustadores) como são as detonações de rochas de minério nas minas de Itabira

 

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2 Comentários

  1. Como dizia meu saudoso pai, Itabira é a única cidade no mundo terremoto com hora marcada.
    E espero que essa mineradora pague pelos vidros trincados das casas de Itabira.

  2. Mauro, a maldita mineradora não vai parar até assassinar a última pessoa da cidade e dado que o povo não reagi ficará por isso mesmo e os brasileiros escravos da VALE, são cúmplices leais. Que tenho um triste fim. Ódio a essa canalhada!

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