Desigualdade na distribuição de vacinas e fake news afetam resposta à covid-19
Arte: Jornal da USP sobre imagem Freepik
É o que avalia a Profª Dra. Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina, que foi Reitora da Unifesp no período 2013-2021 e é coordenadora no Centro de Saúde Global (CSG) da universidade e do Centro SOU Ciência, lançado em julho de 2021.
Por Ana Paula Rogers e Suely Melo
EcoDebate – “As UTIs estão novamente lotadas em muitas cidades do Brasil, dado o avanço da variante Ômicron. Esta é uma situação que está estimulando o movimento antivacina, no Brasil e no mundo, a atacar a ciência, na tentativa de desmoralizar o esforço de vacinação da população. O que eles não mencionam é que levantamentos atuais nos EUA e na Europa têm demonstrado que de 80% a 90% dos hospitalizados são não-vacinados ou que tomaram apenas uma dose, sem a vacinação completa”, ressalta a professora.
Soraya frisa ainda que a desigualdade na distribuição de vacinas e a disseminação de fake news afetam a resposta à covid-19. Neste contexto, é preciso seguir a Ciência, que vem trazendo respostas que contribuem para que a pandemia chegue ao fim.
“O melhor a fazer neste momento, é nos adaptarmos à situação. Não adiantará refutar, minimizar os danos ou distorcer os dados, como tanto gostam os que negam a Ciência. Teremos que combater a Ômicron com a perseverança e com o conhecimento que adquirimos até aqui. Graças aos estudos e à busca do conhecimento constante, temos mais ferramentas hoje do que há 2 anos. Além disso, a prevenção continua e deve ser reforçada com o uso de máscaras adequadas, fugir das aglomerações e isolamento dos casos positivos”, analisa.
A farmacologista reforça que a variante pode ser 3 a 4 vezes mais contagiosa do que a anterior e pode se alastrar rapidamente, como aconteceu na África do Sul, depois na Europa e nos Estados Unidos.
“Em uma parcela significativa de pessoas, a Ômicron parece causar uma doença aparentemente mais leve, o que fez com que alguns mais entusiasmados declarassem que estaríamos próximos do fim da pandemia, que o vírus estaria sendo atenuado pelas mutações e que em breve a pandemia seria endemia. Porém, de verdade, não é bem isso que está acontecendo no Brasil e no mundo. Aqui, corremos um sério risco com o número elevado de casos que já estamos verificando em pouco tempo”, alerta.
Importância da vacinação
Dados compilados pelo pediatra e infectologista Filipe Da Veiga mostram que 90% dos que tomaram dose de reforço possuem proteção contra as hospitalizações. Entre os adultos não vacinados, há uma chance 13 vezes maior de hospitalizações em comparação com vacinados.
“Temos ainda cerca de 30% da população brasileira que ainda não está completamente vacinada. Conforme mostrou levantamento do SoU_Ciência, somente 5,5% da população declarou que não pretende se vacinar em hipótese alguma. E somente 9% da população confia nas informações que o presidente Jair Bolsonaro fornece sobre vacinas”, aponta a farmacologista.
Soraya detalha ainda que, entre os 25% ainda não totalmente vacinados, há algumas questões como as dimensões continentais do país, com locais nos quais as vacinas não chegam tão facilmente. Há estados onde a vacinação está ainda abaixo de 50%.
“Mas, o pior de tudo, é a falta de diretrizes claras e unificadas por parte do Ministério da Saúde, já que o Programa Nacional de Imunização (PNI) encontra-se há meses sem comando. Com o PNI e o SUS em pleno vapor, poderíamos esperar campanhas maciças de informação, calendários bem definidos nos mais de 5 mil municípios, estruturas de testagem e, principalmente, de notificação”, afirma a professora.
“Como se não bastasse, temos também que investigar e combater a contrainformação que vem de todos os lados, inclusive com ameaças aos cientistas e médicos, por meio de mídias sociais e outros mecanismos pouco transparentes. Tudo isso atrasa a vacinação, a exemplo do que ocorreu recentemente com a vacinação infantil”, acrescenta.