Fotos: Agência Brasil

Rafael Jasovich*

Assisti hoje pela manhã o desfile dos blindados com uma mistura de lembranças do passado de uma época nefasta de América Latina e também com a convicção que isso foi uma demonstração de desespero do capitão-presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Foi um espetáculo lamentável.

Participaram da parada militar cerca de 40 veículos, entre blindados, caminhões e jipes. O desfile passou ao lado da praça dos Três Poderes, onde estão localizados o Palácio do Planalto (sede do Executivo), o Congresso Nacional (Legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (Judiciário).

De figuras importantes para assistir ao desfile da rampa do Palácio do Planalto só compareceram o presidente e o seu ministro da Defesa, general Braga Neto, além dos comandantes das três forças que perfilaram com a passagem do comboio.

Também estavam presentes os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Anderson Torres (Justiça).

As poucas lideranças políticas na rampa estavam acompanhadas de figurantes indistinguíveis para a opinião pública, ou que se escondiam atrás do batalhão da frente na rampa. Nenhuma das principais celebridades chamadas pelo presidente da República aceitou seu convite.

Braga Netto, é claro que tinha que estar ali. Afinal, ele foi cúmplice de Bolsonaro na decisão de promover uma demonstração de força contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal no dia da votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso

O que se viu nesta manhã em Brasília foi uma exibição pública de equipamentos bélicos sucateados, caindo aos pedaços, com os motores queimando óleo, em visível mau estado de conservação.

Com duração de cerca de 10 minutos, um militar em traje de combate desceu de um blindado, subiu a rampa e entregou a Bolsonaro convite para comparecer a exercício militar da Marinha programado para agosto – este foi o “motivo” explicitado para a realização do patético desfile militar.

Golpistas assumidos, apoiadores de Bolsonaro, durante a passagem do desfile entoaram palavras de ordem em defesa da intervenção militar. Aos berros, gritaram “Eu Autorizo” e “142”, em referência a dispositivo constitucional que bolsonaristas dizem justificar uma eventual intervenção fardada.

Mas o tiro saiu pela culatra, para usar uma expressão que combina com o linguajar do capitão derrotista. Ainda hoje deputados devem enterrar de vez PEC do voto impresso e o desfile virou motivo de chacota nacional e internacional, como o Brasil voltando a ser chamado de “república de bananas”.

“Bolsonaro imagina com isso demonstrar força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção, inclusive desta CPI, e pela incompetência administrativa que provoca mortes, fome e desemprego em meio a uma pandemia ainda sem controle”, disse o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as ilicitudes e malversações do governo federal no mau gerenciamento da pandemia.

Partidos refutam intimidação com desfile militar e unem-se contra voto impresso

No dia que Bolsonaro leva tanques blindados para a Esplanada dos Ministérios, deputados de diferentes legendas realizam ato em defesa da democracia e reafirmam derrota do presidente sobre voto impresso.

A resposta ao desfile de blindados de Bolsonaro no centro político de Brasília saiu rápida.

Na manhã desta terça-feira (10), deputados de diferentes legendas realizaram ato contra os novos arroubos PEC 135/19, que trata do voto impresso.

Já derrotado em comissão especial, o texto será levado a voto nesta terça no Plenário da Casa. Mas a pauta defendida por Bolsonaro, e parte de sua base, já chega fadada ao fracasso.

Ao menos 15 partidos já se manifestaram contra o texto. Após a nova tentativa golpista de Bolsonaro com seu pífio desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios, o apoio à proposta deve minguar ainda mais.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado.