Denes Lott quer que a Semad promova audiência pública antes de renovar a licença ambiental da Vale para o complexo minerador de Itabira

Fotos: Carlos Cruz e Reprodução

O secretário municipal de Meio Ambiente, Denes Martins da Costa Lott, na reunião de sexta-feira (14) do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), que ele preside, informa que se reuniu com a secretária de Estado de Meio Ambiente, Maria de Carvalho Melo.

Na ocasião, por meio de ofício, ele pede a realização de audiência pública em Itabira antes de ser concedida a renovação ambiental da Vale para o complexo minerador de Itabira, conforme antecipou este site em reportagem.

Leia aqui:

O risco que Itabira corre: Vale está com licença ambiental vencida desde 2017

A licença ambiental da mineradora está vencida desde 16 de outubro de 2016, tendo sido prorrogada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) depois de a empresa requerer a sua revalidação, em 17 de março do ano anterior.

A prorrogação tem validade até que o órgão ambiental estadual se manifeste sobre o pedido de renovação, o que se arrasta desde então na Superintendência de Projetos Prioritários (Suppri).

Questionada pela reportagem deste site, a Vale diz não ter como prever data para a renovação da necessária licença pelo órgão ambiental. Sustenta que cabe ao empreendedor apresentar todas as informações e estudos exigidos pela legislação ou pelo órgão ambiental, no prazo respectivamente determinado. “É o que tem sido cumprido.”

Denes Lott lê no Codema trechos do ofício encaminhado à Semad pedindo a realização de audiência pública para discutir os impactos da mineração em Itabira

Expectativa

Denes Lott espera que a partir de agora seja dada celeridade ao processo de licenciamento. “Ainda não tivemos resposta e aguardamos um posicionamento positivo da Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável)”, informa Denes Lott.

No ofício encaminhado à Semad, Lott enfatiza: “Tendo em vista a relevância, porte e impactos do empreendimento que opera há 80 anos em Itabira, será de todo conveniente a realização de uma audiência pública para que esse processo de licenciamento seja adequadamente compartilhado com a comunidade”.

E acrescenta: “É desejável que o tema Poluição do Ar tenha uma análise mais criteriosa e deve integrar como arcabouço de uma condicionante específica, perfeitamente atualizada ao material poluente gerado atualmente e aos novos índices de monitoramento aplicáveis”.

Para o secretário de Meio Ambiente é urgente que a mineradora implemente medidas mitigadoras que possibilitem a melhoria da qualidade do ar, “bem como os demais aspectos ambientais impactados pela atividade da mineradora”.

Cinismo

Conselheiros do Codema devem negar, na próxima reunião, pedido da Vale para que torne menos restritivos os parâmetros da poluição do ar em Itabira

O que ele pede é bem diferente do que requer a mineradora ao Codema. A Vale quer distender os atuais parâmetros municipais de monitoramento da qualidade do ar, tornando-os mais flexíveis, ao invés de aprimorar e intensificar as medidas de controle de poeira na cidade.

Poeira que vem aumentando ano a ano sem que a empresa sequer peça desculpas à população itabirana por sujar as suas residências e aumentar as doenças respiratórias. E chega a ser cínica, conforme relata o secretário de Meio Ambiente no ofício encaminhado à Semad.

“No início deste ano, a empresa Vale S.A., por seus representantes institucionais em Itabira, manteve contato com a Secretaria de Meio Ambiente, dando-nos conta que a empresa chegou à conclusão que não conseguiria atender aos padrões de material particulado estabelecido pela DN (Deliberação Normativa) 02/2022.”

Saiba mais aqui:

Consultor da Vale diz que legislação restritiva da poluição do ar espanta novas indústrias. Mineradora pede flexbilização de norma do Codema

A referida DN foi discutida e aprovada pelos conselheiros do Codema, que consideraram a necessidade de se ter um padrão mais restritivo para a qualidade do ar em Itabira que, como nenhuma outra cidade no país, sofre com tantos impactos da mineração.

“O fato é que após os eventos do ano de 2021, apesar da aplicação dos Autos de Infração pelo município, da realização de fiscalização conjunta entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e os representantes da Feam (Fundação Estadual de Meio Ambiente), os episódios com grande concentração de material particulado (poeira) sobre Itabira aconteceram novamente em 2022”, relata Denes Lott no ofício.

E que, com certeza, vão se repetir neste ano, conforme já pode ser observado neste início de estiagem. Daí que Denes Lott reivindica ao órgão ambiental estadual:

“Diante das condições meteorológicas colaborarem para a suspensão de sedimentos, precisamos de ações mais eficientes da empresa mineradora, com aplicação de medidas técnicas que sejam eficazes para que os episódios não se repitam, evitando os transtornos causados à comunidade itabirana.”

O secretário municipal de Meio Ambiente anexou ao ofício relatórios de episódios críticos ocorridos na cidade que geraram sucessivas multas, sobre as quais a mineradora recorre na Justiça e nunca paga. E fica por isso mesmo.

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