Damon detona médicos contrários à municipalização do HCC, fala de sonegação e de outras mazelas itabiranas
Nesta segunda e última parte da entrevista com Damon Lázaro de Sena (PV), o ex-prefeito de Itabira apresenta a sua versão sobre a municipalização do Hospital Carlos Chagas. “Contrariei muitos interesses, inclusive de médicos que se achavam donos do hospital”, disse ele, entre outras declarações igualmente, no mínimo, provocativas.
Após passar mais de seis meses calado, Damon garante que daqui para frente não deixa nenhuma acusação à sua pessoa sem resposta. “Não serei como o Jackson, que aguentou tudo calado.”
Com certeza, nesta entrevista não foram feitas todas as perguntas que o leitor gostaria de ver respondidas sobre os inúmeros questionamentos que a população tem feito à sua controvertida gestão. Muitas dúvidas ficaram de fora não por falta de espaço, já que aqui no mundo virtual não há limite nas “nuvens”.
Personagens controversas de seu governo deixaram de ter as suas condutas questionadas, embora muitas dúvidas a respeito desses assessores persistam. Cabe a Justiça apurar e punir, se forem merecedores de punição.
Mas muitas perguntas deixaram de ser feitas também para não tornar a entrevista ainda mais cansativa. E, também, pelo fato de o repórter não conhecer todos os detalhes do que foi a sua administração.
Com o tempo, a história se encarregará de mostrar o que foi de fato e o que é ficção nas respostas que dadas nesta entrevista, como também na de sexta-feira passada (Leia aqui). Cabe ao leitor, mais uma vez, tirar as suas conclusões. (Carlos Cruz)
Por que o senhor tomou a decisão de transformar o Carlos Chagas em hospital municipal? Os convênios com a medicina suplementar não eram uma forma de complementar a receita?
Damon: Ainda quando eu estava trabalhando no hospital, já percebia uma situação que me causava desconforto: era sempre muito grande a dificuldade de pacientes do Pronto-Socorro subirem para atendimento no HCC. Também é bom que se diga que o hospital não foi doado pela Vale para o município, foi uma permuta pela área da Camarinha. Na época, ficou acordado que quando terminasse o contrato com a Fundação São Camilo, outra entidade assumiria mediante licitação, pois passou a ser um hospital público, do município. Mas não houve licitação. O prefeito da época (João Izael) não fez licitação e colocou a Funcesi, que fez até uma boa administração. Quando eu entrei para trabalhar no hospital, por ainda ter uma visão míope do processo, entendia que havendo 60% do atendimento de pacientes SUS e 40% privado estava de acordo. Só que, com o tempo fui percebendo que não era bem assim. Ai, eu pergunto: no ambulatório do HCC, naquela época, a cada dez consultas, seis eram do SUS? Não. No bloco cirúrgico também não. Só nas internações o hospital cumpia próximo desse percentual de 60%. Havia então uma inversão de papéis: o HNSD, que não é público, atendia até 80% do SUS, e cada vez mais ia ficando no vermelho. Isso enquanto a estrutura hospitalar pública, que é o Carlos Chagas, não atendia esse percentual. Estava errado a Unimed, o Pasa e a Vale, com a medicina suplementar, ocuparem as vagas que eram para atendimento SUS.
Qual outra vantagem para o município tornar o HCC 100% SUS?
Damon: Com o hospital 100% SUS é obrigatória a vinda de verba federal para a manutenção do hospital. Cabe a administração dar continuidade ao processo de credenciamentos que começamos. Foram investidos muito dinheiro público nos hospitais, do município e do Estado. Quando eu assumi, Itabira contava com 16 leitos para atendimento no CTI, seis no Carlos Chagas e dez no HNSD. Hoje essa capacidade instalada é de 40 leitos, que são os dez no HNSD, outros dez na unidade coronariana, que ainda não começou a funcionar, mas está pronto para começar a funcionar, só falta contratar o corpo clínico. E temos o HCC com capacidade instalada para 20 leitos, todo equipado, mas com apenas seis funcionando. Por que isso? Porquê ainda falta cumprir os processos burocráticos para os credenciamentos. O HCC hoje tem uma capacidade instalada para 160 leitos, mas apenas 81 estão à disposição da população de Itabira e da região.
Como o HCC faz atendimento regional, isso não onera o município, que deixa de contar com os R$ 2 milhões mensais que entravam da medicina suplementar?
Damon: São consequências que em um primeiro momento temos que sofrer para sair na frente. Se a gente quer diversificar a economia, e a saúde é uma das alternativas, temos que correr riscos. Santa Maria, Ferros, Itambé e demais cidades da região não têm CTIs. Itabira é polo e não tem condições de fechar os olhos para essa condição, estamos numa microrregião. Temos que buscar recursos estaduais e federais para suprir a demanda que é regional. E Itabira tem tudo para virar polo macrorregional, o que traz mais recursos.
O que levou o Ministério Público intervir e exigir a municipalização?
Damon: Foi João Izael ter colocado a Funcesi na administração sem licitação e pelo fato de que o Carlos Chagas não estava atendendo 60% de pacientes SUS em todos os setores. O desembargador de segunda instância decidiu que se não fizesse a licitação, a prefeitura teria que assumir o gerenciamento do hospital. E eu estava batalhando para manter o mesmo perfil, só que com o hospital atendendo 60% SUS em todas as áreas. Eles (os médicos) sabem disso.
Exames de mamografia eram realizados no HCC, com atendimento de pacientes SUS sem limites, assim como consultas em várias especialidades eram também agendadas. Hoje, o hospital não tem recursos para prover tudo isso, faltam recursos.
Damon: No meu governo havia recursos para fazer todo o atendimento SUS, hoje eu não sei. Quanto à mamografia, no governo de João Izael um aparelho de última geração ficou parado por dois anos no Centro Viva a Vida por falta de ar-condicionado e de uma tomada de 220 volts. Coloquei para funcionar, acabei com a fila de mamografia do município e das cidades da região. E assim que a Fundação São Francisco Xavier entrou, o hospital continuou fazendo exames de mamografia.
Como foi a licitação para a administração do HCC? Há rumores de que houve direcionamento para beneficiar a Fundação São Francisco Xavier.
Damon: Fizemos uma licitação na qual a Funcesi não participou por ter demandas na justiça, mas outros concorrentes participaram. Porém, a que atendeu as prerrogativas do processo foi a Fundação São Francisco Xavier. O que muitos reclamam é que se trata de uma entidade muito séria para o padrão Brasil. Aquela história do jeitinho brasileiro, com ela não funciona. Eu fui lá procurar emprego depois que sai da Prefeitura e eles disseram que não estavam admitindo.
A Prefeitura recebeu recursos do governo federal para construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no bairro João XXIII. Por que o senhor não a equipou e colocou para funcionar? Dizem que foi um presente de grego, pois os recursos não são suficientes para a sua manutenção.
Damon: É um presente de grego para quem não tem conhecimento e não precisa de UPA para ser atendido. Ela é importante para descentralizar o atendimento de urgência. Itabira está crescendo para o lado da Unifei. A UPA terá, ou pelo menos deveria ter, atendimento odontológico e também uma base do SAMU. Não se trata de um presente, é uma conquista do meu governo para Itabira. Foram R$ 3,6 milhões que conseguimos do governo federal.
E por que ela não foi inaugurada? O que houve de irregular?
Damon: O governo atual é que está pregando isso, que a UPA está irregular. Não existe irregularidade, essa alegação é mais uma forma de manipular a opinião pública com boatos. A UPA só não está funcionando por ter tido uns entraves burocráticos e por um problema no piso, que tem uma membrana plástica para facilitar a higienização. Deu umas bolhas, o piso estufou. A empresa ofereceu resistência em fazer a correção, devido a um atraso no pagamento ocorrido em 2015, na parte que cabia ao município pagar. Isso atrasou o processo, mas eu deixei a obra pronta.
O Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacom) é uma reivindicação antiga de Itabira e foi inclusive de seu governo. Por que então, mesmo com os técnicos do Ministério da Saúde tendo aprovado após inspeção o credenciamento pelo SUS, o senhor não assinou convênio para que ocorresse o tratamento de câncer em Itabira. O que impediu o credenciamento?
Damon: Eu não podia permitir que viesse para cá um serviço que iria favorecer só quem ganha dinheiro, pois viria só a parte boa do serviço, a que dá lucro. Não viria toda a parte de tratamento, viria só “filé”, a parte que é o “osso” não viria. A parte que é o “filé” cobre os custos e ainda tem lucro, já o “osso” é a parte da oncologia que não paga o tratamento. Como a Prefeitura paga uma parte, eu não concordei. Com o credenciamento, é verdade que o paciente ganharia por não ter de ir a Belo Horizonte fazer quimioterapia, mas quando ele estivesse mais debilitado e precisando de outros procedimentos no tratamento, ele não teria como ser tratado em Itabira. No caso de precisar de uma cirurgia ou ser internado para tratamento, teria que ser levado para Belo Horizonte. Ou o HNSD é que arcaria com os custos da internação pelo SUS.
Por que essa hostilidade de muitos médicos com o senhor? As críticas são sempre contundentes.
Damon: Têm médicos como Zé Pinto, Carlão, Zé Estevão, Gastão Magalhães que fazem críticas, mas se for observar, não é difícil entender os motivos. Zé Pinto, por exemplo, tinha consultório particular no ambulatório do Carlos Chagas, explorava a estrutura do hospital sem ter gastos. E não atendia pacientes do SUS na proporção que deveria. Gastão teve por muitos anos o HCC como se fosse um hospital dele. Carlão diz ser comunista. Mas como ele é comunista se não quer atender o povo, só o particular?
Por que o senhor fechou a Farmácia Popular, se ainda havia recurso do governo federal?
Damon: Além de ter um custo grande para o município, os mesmos medicamentos havia na farmácia municipal. E estava ocorrendo um desabastecimento de medicamentos na Farmácia Popular. Então não tinha sentido ter gastos com os funcionários da farmácia do governo federal, que funcionava em ambiente irregular. Foi só o meu governo ter início para que fossem denunciar essa condição. Eu teria que mudar a farmácia para um outro lugar, o que implicaria em mais gastos. Optei por encerrar o convênio.
O senhor tem o mérito de construir o segundo prédio da Unifei. Com a crise, o senhor vê alguma ameaça ao projeto universitário que a cidade tanto deseja?
Damon: Investi R$ 48 milhões no segundo prédio, é o maior investimento em obra pública já realizado na história de Itabira. É três vezes maior que o primeiro prédio. E os dois prédios somam apenas 17% do que será o campus de Itabira. A obrigação da Prefeitura é construir o campus, da Vale equipar os laboratórios e do governo federal pagar os funcionários e manter a estrutura funcionando. Se o governo (municipal) anuncia que não ocorrerão novos investimentos no campus é por não haver gestão para obter novos recursos.
E como obter mais recursos?
Damon: Eu conversei com Ronaldo Magalhães ainda na transição e sugeri para ele fazer o que eu deveria ter feito, se tivesse o conhecimento da situação que tenho hoje. Implica em adotar medidas impopulares, mas que permitiriam surgir uma cidade com quase pleno emprego. Medidas que trariam recursos para investir no campus da Unifei e fazer outros investimentos igualmente necessários.
E como ocorreria esse milagre de multiplicação de recursos?
Damon: Se for feita a regularização fundiária e fazer todo mundo pagar o valor justo de IPTU, isso renderia no mínimo mais R$ 10 milhões anuais. Em Itabira não é cobrada taxa de lixo, precisa ser cobrada. E tem muita sonegação de impostos. A população também é conivente por não exigir nota fiscal. A sonegação é crime e é muito comum no comércio, que pratica caixa 2.
O senhor acha que a receita que vem do minério colocou a Prefeitura mal acostumada e com isso acaba ocorrendo renúncia fiscal?
Damon: É renúncia fiscal sim, é politicagem. É preciso fazer justiça tributária, cobrar o IPTU de quem não está pagando, assim como cobrar o ISS devido.
Quem sonega impostos ao município?
Damon: A Vale, por exemplo, pode estar sonegando. O município não tem como fiscalizar o pagamento dos royalties, o DNPM que devia fiscalizar, não fiscaliza. Os bancos sonegam, não pagam o que devem pagar de ISS. O cálculo é de que Itabira tem uma perda anual de R$ 1,1 milhão por ano de ISS bancário que deixa de ser pago. Aquilo que o Marcos Alvarenga (secretário municipal da Fazenda) disse, que eu contratei um software por R$ 200 mil, é uma das maiores mentiras que eu já ouvi na vida. Ele demonstra total conhecimento do processo. Eu não contratei um software, mas todo um processo de gestão da nota fiscal eletrônica, do ISS bancário, do cadastro único da Prefeitura, para fazer a gestão da dívida ativa.
E é grande essa dívida ativa?
Damon: Segundo levantou a empresa que contratei, 25% do que seria a receita do município cai na dívida ativa por ano. É muito dinheiro que deixa de ser recolhido. Só a Vale tem uma dívida ativa com o município superior a R$ 140 milhões, principalmente de IPTU. É cobrado dela anualmente cerca de R$ 10 milhões de IPTU e ela paga menos de 10%. Ela alega que há irregularidades na cobrança e não paga. Vai para a dívida ativa. A empresa teve algumas vitórias na justiça e se acha no direito de não pagar. A alegação é de que algumas áreas não recebem serviços públicos (iluminação, redes de esgoto e de água, pavimentação). Ora, foi a Prefeitura que asfaltou a estrada Cento e Cinco, que serve principalmente à Vale. Os profissionais liberais também sonegam muito ISS, assim como se perde muito com IPTU por defasagem do valor venal dos imóveis.
Uma das pedras no caminho mais apontada como entrave à diversificação econômica de Itabira é a questão da água. Há um ditado em Itabira que diz que água com água se paga. O senhor concorda?
Damon: Com certeza, mas observe bem. Itabira ficou 30 anos sem obras para captar água, não fizeram nada. Perdemos empresas que poderiam ter vindo para cá. Fizemos a ETA do Rio de Peixe e deixamos tudo pronto, com recursos e licitação feita, para captar água na barragem de Santana e também para a duplicação da ETA dos Gatos. Deixamos o projeto do rio Tanque em andamento. Ronaldo recebeu uma cidade estruturada, com os alicerces bem construídos. Porém, nesses seis meses que estou fora da Prefeitura, o que eu observo é uma destruição de tudo isso que deixei.
Existe mesmo a necessidade de captar água no rio Tanque? Com os investimentos na ETA do Rio de Peixe e captação da água na barragem de Santana, o balanço hídrico não foi equacionado?
Damon: Itabira, não no meu governo, mas no anterior, deixou de receber uma fábrica da Coca-Cola por não ter água potável suficiente para o empreendimento. A cidade precisa hoje de 485 litros por segundo (l/s) de água tratada para atender a demanda. Tem uma capacidade instalada para produzir 385 l/s, com a captação e tratamento do rio de Peixe. Eu recebi a cidade com uma capacidade instalada de 325 l/s. No pior momento da seca, que ocorreu no meu governo, em 2015, o manancial da Pureza (o principal da cidade, responsável por mais de 50% do abastecimento urbano), chegou a produzir 60 l/s. Se não fosse a construção da ETA do Rio de Peixe, em parceria com a Vale, nós estaríamos com uma capacidade de produção de 240 l/s, metade do que a cidade precisa. Seria um caos muito maior do que foi, em decorrência da irresponsabilidade dos gestores anteriores, que nada investiram. Além da ETA do Rio de Peixe, deixei o projeto pronto, fiz a licitação que a MD Predial venceu e já iniciou a obra para captar água na barragem Santana. Serão mais 100 l/s e haverá um reservatório com capacidade 2,5 milhões de litros lá na Pousada do Pinheiro. E o governo atual está dizendo que é obra deles. Não é. Os recursos são provenientes do Fundo de Garantia, que consegui com o governo federal.
Se o senhor fez tanto, como explica a sua popularidade ter despencado tanto depois de ser o prefeito mais votado na história de Itabira, com 70,3% dos votos válidos. Na eleição passada, a sua candidatura obteve pouco mais de 4 mil votos na tentativa de se reeleger?
Damon: Eu explico pela forma de fazer política. Não faço política de trocas, não compro votos. Muitas pessoas que vieram comigo, queriam ficar ricas na Prefeitura. E eu não aceitei isso. E a população foi vítima. O meu governo foi o que mais construiu em quatro anos. O servidor público teve 28,6% de aumento, o que dá mais de 31% de aumento sobre aumento. No meu governo, o servidor só ficou o último ano sem reajuste salarial.
Por que então tantas críticas do sindicato e da maioria dos servidores municipais à sua gestão?
Damon: O sindicato só sabe fazer bagunça, não tem diálogo, não tem conhecimento. É fraco.
O funcionário público queixa dos salários defasados e a folha de pagamento representa pouco mais de 30% do orçamento municipal. No entanto, quando se somam os serviços terceirizados, o que inclui a Itaurb, o gasto com mão de obra acaba ultrapassando o limite constitucional de 54%. Isso não é um artifício para burlar a Constituição?
Damon: De fato, os terceirizados não entram nessa conta, mas o administrador responsável tem que olhar isso. Quando chega no 54% já acende o sinal vermelho, que é o limite. Mas quanto aos funcionários públicos, com todo o respeito, a maior parte é muito dedicada, mas eles não são valorizados também por culpa deles. Falta a eles uma visão de futuro. Por exemplo, cada imóvel que deixa de ser fiscalizado e que teve um aumento de área, cada processo da dívida ativa que o jurídico deixa de acompanhar e que corre à revelia, representam perda de receitas. Se a Prefeitura deixa de arrecadar o que é devido, não tem recursos para dar aumento.
O senhor, como os seus antecessores, não fez concurso público.
Damon: Eu não fiz por entender que se os atuais funcionários forem capacitados e valorizados, a máquina administrativa dá conta do recado. Aliás, eu fiz concurso, sim. Fiz concurso para médicos e fiz um processo seletivo na educação. Foi quando eu tive um problema com os vereadores, que ficaram bravos comigo. Quando na crise, no final de 2014, a minha secretária de Educação trouxe a informação de que poderíamos economizar até R$ 3,8 milhões no ano se tirássemos as terceirizadas e fizesse processo seletivo. Foi o que eu fiz.
Por que os vereadores ficaram bravos?
Damon: Eles aprovaram o projeto que enviei de aumento de cargos, mas só depois viram que iam perder as “boquinhas” que tinham na empresa terceirizada. Vieram conversar comigo e com a Luciane (Ribeiro, ex-secretária de Educação), pedindo que a gente manipulasse o processo seletivo. A minha secretária de Educação foi feliz ao dizer que se fosse para fazer isso, ela entregaria o cargo. Fechamos questão, acabamos com a terceirização. Fizemos o processo seletivo e economizamos R$ 3,8 milhões.
Inclusive, havia rumores, como ainda há, de que as terceirizadas se tornaram a grande fonte de corrupção, como era até recentemente a realização de obras.
Damon: Foi o que eu vi no processo seletivo, vislumbrei a oportunidade de tirar as terceirizadas da educação e desmanchar qualquer esquema de corrupção que por ventura existisse ali e que eu não sabia. Economizamos e acabamos com o quem indica, dando condições para todos concorrerem em condições de igualdade.
Se Ronaldo Magalhães for cassado, o senhor vai se candidatar?
Damon: Isso vai depender da aceitação do meu nome. Como a população não vai ter o entendimento correto do que foi o meu governo no curto prazo… A população em sua inocência é manipulada pela mentira, pelos boatos.
O senhor, como a maioria dos governos, empregou muitos parentes. Isso também contribuiu para o seu desgaste?
Damon: Somos seres humanos e desde os primórdios da humanidade, favores acontecem. É muito difícil ver um irmão desempregado, sofrendo e tendo condições de ajudar. Foi o que aconteceu com o meu irmão Denilson. Ele trabalhou na Aprir (Associação dos Produtores Rurais de Itabira e Região) naquilo que ele tem competência de executar. Eu não nomeei o meu irmão, que não tem formação, para um cargo de superintendente para ganhar dinheiro e nada executar.
E a nomeação de sua esposa Áurea como secretária-adjunta de Saúde?
Damon: Ela é técnica em patologia e enfermeira – estava fazendo o curso, além de ser funcionária pública de carreira. E ficou um ano no cargo comissionado de secretária-adjunta. Foi tanto falatório que ela achou melhor sair. Hoje, ela está trabalhando na Policlínica, é profissional dedicada e competente. A orientação que eu recebi na ocasião do jurídico foi que não era nepotismo, pois ela não estava diretamente submetida a mim, mas ao secretário de Saúde.
Onde o senhor está trabalhando? Ou está carregando “malas” enquanto descansa?
Damon: Dizem as más-línguas que eu abri duas clínicas e que sai “malado” da Prefeitura. Eu estou procurando até hoje onde estão as “malas” com o dinheiro e também o endereço das duas clínicas. Desde março eu estou trabalhando na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Barreiro, em Belo Horizonte. Estava sem receber até semana passada, tive que entrar no cheque especial. E estou trabalhando no hospital padre Estevão, em Santa Maria. Não montei consultório ainda em Itabira. Pretendo montar, mas antes preciso fazer um ajuste financeiro.
O seu patrimônio cresceu enquanto esteve na Prefeitura?
Damon: Cresceu de acordo com o que ganhei e economizei. Comprei uma caminhonete e uma casa financiada por R$ 350 mil no bairro Jardim dos Ipês, dei uma entrada de R$ 100 mil e financiei o restante. Engraçado, pode observar: você não viu publicado na imprensa, na mídia social ou ouviu em alguma emissora de rádio que o Damon saiu “malado”, que abriu duas clínicas. Eles sabem que se alguém publicar, ou se disser isso em público, vai ser processado. É só de ouvir falar, é na base do futrico que eles gostam de agir.
O senhor sancionou o reajuste dos salários do prefeito, da vice e de secretários do atual governo? Qual foi o acordo que fez com o prefeito Ronaldo?
Damon: Eu não sancionei. Eu vetei. Quem aprovou foram os vereadores, em segunda votação. O acordo (de Ronaldo) foi com a Câmara, assim como eu fiz com o Torrinha (Geraldo Torres, ex-vereador e presidente da Câmara). Na ocasião, o João vetou e a Câmara aprovou em segunda votação. Os salários do prefeito, vice e secretário estavam de 2004 a 2012 sem aumento. No início do meu governo, a Prefeitura não vivia uma crise como agora. E eu não estava substituindo um prefeito que reduziu o seu próprio salário por causa da crise, como eu fiz, quando vi que não tinha como dar reajuste aos servidores no último ano de meu governo. Alguns me criticam dizendo que eu podia ter segurado o projeto de reajuste até passar a data do aumento. Só que eu não ajo assim, não tenho essa prática escusa.
Como foi o seu relacionamento com a imprensa no seu governo?
Damon: Eu tive muito problema com a mídia. Muitos veículos me fizeram oposição, faziam chantagens, que eu não cedia.
Que tipo de chantagem?
Damon: Era cada um querendo faturar mais que o outro, uma coisa muito podre. Dizem que a imprensa é o quarto poder, eu digo que é o primeiro. A mídia tem a capacidade de manipular a opinião pública. Eu não conheço, e espero que vocês sejam a exceção, um veículo de comunicação que informe de maneira correta e isenta, doa a quem doer, que paute pela verdade.
Acusam também o seu governo de ter tido muito gasto com a mídia.
Damon: Gastamos, isso é fato. Não que fosse a minha vontade, se fosse só por mim, não gastaria tanto.
O senhor comprava espaços e opiniões favoráveis?
Damon: Compramos espaços para divulgar as ações do governo. E, com isso, também opiniões. A mídia, infelizmente, se dá ao comportamento de não falar mal de quem está pagando. Mas fala muito mal quando deixa de receber o que querem ganhar.
Ronaldo Magalhães é acusado de pagar jornalistas, principalmente radialistas, para criticar os adversários e defender o seu governo. O senhor também fazia isso?
Damon: Não.
É por isso que o senhor também tem muitos desafetos na mídia?
Damon: O Zé Geraldo (radialista e editor do jornal O Espinhaço) é bom nem aparecer na minha frente. Ele era de dentro de minha cozinha, tinha conhecimento de minha vida e se deu o direito de falar mentiras sobre a minha pessoa. Foi na eleição de 2004, quando ele levou a informação sobre o meu filho, nascido quando eu ainda não era casado, para o comitê de meu adversário. O menino nunca foi abandonado por mim, só não tinha o reconhecimento de paternidade na certidão de nascimento. Mas o papel de pai, eu cumpri bem antes de sair a denúncia.
Heitor Bragança foi seu secretário e a emissora de rádio dele recebia dinheiro da Prefeitura?
Damon: Ele foi o meu secretário a pedido de Ermiton Gomes (ex-secretário de Governo), por achar que o Heitor ajudaria na divulgação e abrandaria os ânimos dos que estavam me criticando. Todas as emissoras de rádio, com exceção da Pontal, recebiam para divulgar as ações do governo. A rádio do Heitor recebia pelos anúncios que a sua emissora divulgava, mas era pago por meio de agência. A minha assessoria jurídica não viu ilegalidade no pagamento. Não havia favorecimento. Inclusive a rádio Caraça recebia mais que a dele, pois era de acordo com a audiência.
A imprensa áulica, que o bajulava no governo, passou a criticá-lo depois que o senhor saiu?
Damon: Você tem que indicar a imprensa que me bajulava, porque eu não vi isso. O Jornal Impacto sempre me apoiou antes de entrar no governo. Depois, como queria ganhar muito dinheiro, deixou de apoiar. O Alírio (Batista, editor do jornal Vox) fazia oposição ao governo de João. Com a minha eleição, achou que por isso devia receber mais do que eu pagava aos outros veículos. Como eu não paguei mais, ele também ficou bravo comigo. Cosme que está aí, fala que é da imprensa, e como muitos outros, não tem formação para exercer a profissão. E comete absurdos. Não devia ser permitido o exercício da profissão de jornalista sem a devida formação acadêmica. Acabar com a exigência do diploma virou um grande mal para a comunicação e para a sociedade. Foi assim que briguei com quase toda a imprensa. Eu não gosto de puxa-saquismo, nunca gostei.
Convenhamos, essa política fisiológica do toma lá dá cá é muita suja.
Damon: Sim, é muito suja. Mas, infelizmente, é o comportamento predominante das pessoas. A maioria quer tirar proveito, levar vantagem como na lei de Gerson (ex-jogador de futebol da seleção brasileira campeã de 1970, que numa propaganda de cigarro teve a infelicidade de dizer que o importante na vida é levar vantagem sobre tudo. Daí em diante, a lei de Gerson virou sinônimo de individualismo exacerbado, grave desvio de conduta de quem procura passar por cima de tudo e de todos em defesa de seus interesses particulares).
Mas o senhor também praticou o toma lá dá cá.
Damon: Um pouco sim, porque não dá para enfrentar a todos a ferro e fogo. Se fosse fazer isso, sem fazer algumas concessões, eu ficaria sozinho. A sociedade é toda viciada nesse fisiologismo do toma lá dá cá.
No fim da entrevista, Damon se queixou da falta de solidariedade e companheirismo de ex-correligionários na rede social.
Damon: Poucos curtem e compartilham o que posto na rede social. Que time é esse que não veste a camisa? Não participa, foge do debate. Por que? Eles têm medo de quê? As pessoas do mal não têm medo, já as do bem têm medo de se manifestar. Muita gente acha que eu não devo me expor, mas não sou de ficar calado. Não vou deixar que façam comigo o que fizeram com Jackson (Tavares, prefeito do PT entre 1997 e 2000). Ele foi um excelente prefeito para o povo pobre. Mas não teve o reconhecimento público, desconstruíram a sua imagem por meio de uma campanha sórdida que a mídia fez contra ele. Jackson acabou virando um dos ex-prefeitos mais desgastados. Aguentou calado. Eu não vou ficar calado. Vou continuar esclarecendo e respondendo tudo o que me acusarem publicamente.
Coitado! Querendo manter a chama acesa!
“a política, sem polêmica é a arma das elites.”
caro josé estevão, é verdade que o damon está com a centelha a brilhar. a mim ele provocou a discussão, chamou pro debate. penso que ele está certo ao colocar a sua experiencia como prefeito, de expor a sua versão dos fatos. estou apreciando o debate.
abraço
Dobre a língua para falar do Dr Carlos Roberto tenho dois cadernos aqui com quase mil cirurgias do Sus que fizemos juntos! Aquele é comunista da gema!
o mais importante na democracia não é dobrar a língua, é destravar a língua.
outra coisa sobre dobrar a língua: as civilizações indígenas do brasil tem em comum um fato extraordinário, trata-se da morte. Quando uma pessoa indígena deseja morrer ela vai dobrando a língua até sufocamento, e daí morre feliz da vida…
se o dotô carlos roberto é de fato comunista da gema defenderá o SUS. assim faz a deputada jandira fegalhi que defende o sus porque é comunista de carteirinha.
A mídia chapa branca de Itabira vem informando à população que o Hospital Carlos Chagas (HCC) será 100% SUS e que toda população será beneficiada o que não é bem a verdade. Vamos a alguns fatos:
1-O HCC atualmente atende 60% SUS e 40% de convênios e particulares. Com a mudança inicial proposta, a redução de 81leitos atuais no total, incluindo os seis leitos de UTI, cairá para 51 leitos e os mesmos seis leitos de UTI totalizando 57. Na realidade o SUS só ganhou mais nove leitos. Então, na verdade, o HCC será 70% SUS. As despesas do HCC triplicarão de 15 milhões ano para 45 milhões/ano por apenas nove leitos a mais para o SUS. Cada leito do SUS sairá pela quantia estratosférica de 65.000,00 reais por mês enquanto em um hospital de alta complexidade como o Albert Einstein de São Paulo, por exemplo, cada leito do SUS custa ao governo federal e municipal, cerca de 25 a 31.000,00 reais/ mês. Leito do SUS mais caro do mundo será em Itabira!
2- O HCC será um hospital de porta fechada com entrada apenas para pacientes que irão internar. Não haverá atendimento de urgência e nem emergência. Todas as pessoas que necessitarem de algum tipo de atendimento não eletivo (hora marcada) terão que ir para o antigo Pronto Socorro, que agora é denominado UPA três (unidade de pronto atendimento). Imaginem o caos. Todos sairão perdendo com essas mudanças. No HCC não existirá consultas especializadas, cirurgias, nem exames para pacientes externos. O HCC será de porta fechada com médicos plantonistas apenas para acolhimento para os pacientes que necessitarão ser internados, advindos de atendimento prévio da UPA três. Os internados serão acompanhados cada dia por um médico diferente. O paciente não terá um medico responsável pelo tratamento até a alta, como ocorre atualmente há vários anos.
3- A prefeitura de Itabira repassa para o HCC cerca de R$1.200.000,00 e agora irá repassar para nova administração R$ 3.770.000,00. São R$ 2.570.000,00 a mais que poderiam ser investidos nas três UPAS já existente, mas que ainda não estão em funcionamento por falta de recursos necessários e nos PSFs sucateados. Poderia ainda investir no próprio hospital Carlos Chagas que está com uma unidade de tratamento intensiva pronta e equipada com 20 leitos, portanto sem funcionamento. Por que não investir nestas unidades já existentes?
O Governo Federal já cortou as verbas do SUS para hospitais de Itabira em 50% este ano, gostaria de entender qual será a mágica da PMI para sustentar estes gastos.
4- O HCC diante do exposto acima corre sério risco de fechar as portas em curto espaço de tempo por falta de recursos financeiros para bancar um hospital ‘’100%” SUS. Outras cidades estão fazendo o caminho inverso na saúde e Itabira esta na contramão da direção, mais uma vez. E a população, como sempre é quem pagará a conta.
Tornem público esse manifesto para que a população não seja mais uma vez enganada. Vamos reagir Itabira. Compartilhem e repassem via redes sociais e whatsapp para o máximo de pessoas possíveis. Basta!
Dr. José Estevão de Oliveira Neto
Caro Damon, a segunda parte de sua entrevista revela muito, muitíssimo sobre a cidade, sobre o fazer política na Cidadezinha. Tó gostando de suas ideias sobre a necessária e justa revisão do IPTU (a velha demanda da Lei de Terra), do ISS (sonegação cruel) e no fortalecimento do SUS.
Rico odeia pagar impostos, eles vão te execrar. Despacho neles!!!
O SUS é uma criação brasileira e deve ser aprimorado para atender a nação. Tenho na carteira, o Cartão Cidadã que me dá acesso ao SUS. A médica que cuida do meu pulmão de tabagista, só atende em hospitais e clínicas públicas. É excelente médica, seu nome brilha nas revistas de medicina.
A franqueza em assumir os erros é essencial para a compreensão do que é governar Itabira. É dolor, que a mais valiosa parte do corpo da cidade seja de domínio cvrd-Vale, a prefeitura de fato. Para romper o absurdo que é a expropriação que a Cia fez/faz na cidade, é preciso que os partidos políticos caminhem em direção a parte pobre do povo, nos territórios empobrecidos, onde encontrarão apoio para executar a defesa da cidade e uma cachoeira de ideias viáveis e de baixo custo, pra melhorar a vida de todas as pessoas. –A Pessoa Que Conhece A Pobreza, Sabe Tudo, Jules Michelet.–
–Por favor, chamem a sociologia, a antropologia para a leitura e releitura da entrevista do Damon ao Carlos da Vila.–
A sua entrevista deve de ser analisada, destrinchar o conteúdo dela e debater o contraditório, porque é um depoimento revelador. E pode Provocar Consciências. É a primeira vez que leio entrevista de ex-prefeito da cidade. Você faz ideia do valor de sua entrevista? Você tem consciência de como a sua fala pode mudar a percepção que a cidadã (ão) têm do exercício da política no executivo? –perguntas pra reflexão e criar ideias–
Eu tenho ideia formada de que médico e prefeito são atividade incompatíveis porque são intensas, lidam com urgências, emergências. Mas, o que fazer? …Afinal… ouso fazer sugestões:
1.Você precisa de um partido forte; o PV é eleito pela pequena burguesia;
2.Sugiro confiante, que uma chapa Damon-Jackson, que, de verdade, vá na boca da pobreza e ouça a voz “inocente”, sábia, de quem de fato trabalha neste país miserável, ir até a maioria votante, terão louvação e glória de seus feitos aqui na terra. E convidem o Vicente Bernardes, que foi da SUMIM, imagine o quanto ele poderá contribuir dado que foi superintendente da Cia. Três pessoas que administraram o erário da cidade, que conhecem a cidade são essenciais para amadurecer o debate das alternativas para Itabira junto as massas, que é o que importa.
–Pra que a prefeitura, seu governo, entregou a Camarinha pra Vale? Perdeu grande riqueza.–
Agora Damon você está fazendo política, dialogando com a pequena burguesia, mas não deve esquecer das massas, de falar pras massas com a linguagem das massas.
Deixo o abraço vermelho de uma militante de esquerda populista, como resistência ao Golpe 16 no Brasil.
Deixo o abraço vermelho de uma apoiadora do Comitê de Solidariedade a Revolução Bolivariana.