Damon abre o verbo e nega dívida de R$ 146 milhões

Em sua primeira entrevista para a imprensa itabirana desde que deixou o governo em 31 de dezembro de 2016, o médico e ex-prefeito de Itabira Damon Lázaro de Sena (PV) não poupa críticas aos adversários e diz ter sido vítima de uma bem orquestra campanha difamatória dos opositores, com a “participação de uma imprensa venal e chantagista”. “Dizem que a imprensa é o quarto poder. Não é verdade. É o primeiro poder, seja no país ou aqui em Itabira.”

Ele afirma ter ficado calado todo esse tempo para ver até aonde os adversários chegariam com as calúnias e maledicências contra a sua pessoa. E que agora decidiu não mais boquifechar-se. E põe a boca no trombone. Para isso, ele já abriu página numa rede social para não deixar nada do que o acusam sem resposta.

“Fui execrado como poucos políticos foram aqui em Itabira. Chegou ao ponto de eu evitar sair para rua”, disse ele. “Muitas pessoas, inclusive ex-assessores, têm-me evitado, como se eu fosse um leproso. Outros me agridem. Como eu tenho estopim curto, prefiro não ir a lugares públicos, que é para evitar confusão.”

Confira o que o ex-prefeito tem a dizer e aguarde as novas revelações que virão na segunda parte da entrevista, a sair na próxima semana. Não deixe de ler, seja você correligionário ou adversário do ex-prefeito Damon. E tire as suas conclusões. (Carlos Cruz

Damon contesta o valor da dívida deixada ao seu sucessor e fala das dificuldades e realizações de seu governo (Fotos: Carlos Cruz)

O senhor foi acusado pelo prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) de deixar uma dívida de R$ 146 milhões. Responde algum processo por crime de responsabilidade fiscal?

Damon: Que eu tenha conhecimento, ainda não. Se você observar a fala do governo, ele fala que a dívida é do município. Não se fala da dívida que Damon deixou, até porque foi incluída a dívida de R$ 15 milhões com a Itaurb, que vem desde os governos de Ronaldo e João Izael (PSL). Herdei ainda R$ 46 milhões de dívida fundada. Desse total, eu paguei R$ 21 milhões durante os quatro anos que eu fiquei na Prefeitura.

O que é dívida fundada?

Damon: São empréstimos para obras, dívidas trabalhistas, parcelamento de INSS e que se arrastam desde governos anteriores. Essa dívida foi dividida e tem sido paga pelos sucessivos governos. Têm dívidas que só irão vencer em 2022. Juntaram tudo isso e falaram que são dívidas do município. No início do meu governo, saiu uma divulgação de que estávamos endividando a Prefeitura em R$ 38 milhões, espalharam faixas com “denúncia” pelo centro da cidade. Esses R$ 38 milhões foram tomados emprestados para a área de saneamento básico, para abastecimento de água e tratamento de esgoto. Esse dinheiro veio do Fundo de Garantia para construir uma unidade de tratamento de resíduos na ETA (Estação de Tratamento de Água) da Pureza, que é para reutilizar uma parte da água que se perdia no processo. Outra parte é para duplicar a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Laboreaux, que irá tratar de quase todo esgoto urbano da cidade. O empréstimo foi necessário pois a ETE só tinha capacidade para tratar 50% do esgoto. Então, dá para imaginar a quantidade de esgoto que seguia sem tratamento, poluindo a natureza. São empréstimos de longo prazo e foram relacionados como parte da dívida do município.

São obras que estão sendo ou que deveriam ser executadas pela atual administração?

Damon: Eu não sei se eles estão executando, mas deveriam. Outra obra incluída nesse empréstimo é a construção da ETE da Pedreira, que atrasou em nosso governo devido ao fato de a comunidade não concordar com a sua construção abaixo de um campo que existe lá. Alegaram que iria dar mau cheiro. Não dá mau cheiro, mas a comunidade pediu e temos que atender. A ETE vai ser construída abaixo da Rocinha, para que a água siga limpa para a barragem Santana, onde está sendo construída a captação de água a um custo de R$ 17 milhões.

Os recursos desses empréstimos estão disponíveis para o governo dar continuidade a essas obras?

Damon: Exato. Deixamos os recursos, os projetos e as licitações prontas e cabe ao governo dar continuidade a tudo isso. É parte do pacote de R$ 38 milhões que pegamos de empréstimo para execução dessas obras e que estão entrando na dívida que Ronaldo diz que herdou.

De onde vieram esses recursos?

Damon: São recursos do Fundo de Garantia, empréstimo do governo federal, e que são repassados para o município na medida em que as obras são executadas. Com esses recursos, já foi construída parte da estação de resíduos na ETA da Pureza. Inclusive a empresa que ganhou a concorrência foi a MD Predial (empresa do empresário Emerson Barbosa, que é muito próximo politicamente do grupo do prefeito Ronaldo Magalhães).

O que o senhor está insinuando com essa informação?

Damon: Não estou insinuando nada, apensas dizendo que no meu governo não discriminamos e nem privilegiamos ninguém nas licitações, independentemente de ser apoiador ou adversário do chamado “grupão”. Fizemos um processo licitatório limpo e quem ofereceu o menor preço, ganhou.

Os recursos para o restaurante popular estão incluídos nesse pacote de empréstimos?

Damon: Não, é outro recurso que conseguimos. A história do restaurante popular teve início na minha primeira candidatura e o Alexandre “Banana”, do PT, era o meu vice. Fizemos um contato com Patrus Ananias (do PT, ex-ministro do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome) e pedimos recursos para a construção do restaurante popular. Naquele momento ainda não sabíamos toda a dimensão de um restaurante popular, mas pensávamos no povo que precisa comer uma comida de qualidade e barata. Mas o restaurante popular vai além disso, representa também o fomento da agricultura familiar, ajuda a fixar o homem no campo, agrega valor e contribui diretamente para a nossa diversificação econômica. Mesmo não ganhando aquela eleição, o processo continuou, com Patrus dando prosseguimento ao nosso pedido e destinando o recurso para Itabira. E o recurso só veio porque o então vereador Tãozinho Leite, que era presidente da Câmara, manteve as portas abertas com o governo federal. Se dependesse da administração de João Izael esse dinheiro não teria vindo ´– e que acabou vindo em 2010, ainda no seu governo. Até 2013, quando entramos na Prefeitura, não havia nada executado, nem projeto existia. Quando eu cheguei, pedi até que fosse trocado o arquiteto do projeto, marido de uma promotora, porque ele não dava as respostas que eu solicitava. Entrou R$ 1,8 milhão em 2010 para o restaurante. A obra está 80% pronta – e está parada, com o recurso na conta da Prefeitura. O secretário de Obras (Ronaldo Lott) foi na Câmara e passou por mentiroso quando disse que não tem o recurso em conta. É só verificar, inclusive está na dívida que o Ronaldo disse que herdou. É dívida sim, mas o dinheiro que falta para concluir o restaurante está lá na conta da Prefeitura – e é para ser quitada no longo prazo.

Construção de restaurante popular teve início no governo de Damon. Ronaldo Magalhães disse que não irá concluir a obra e colocar para funcionar

O que o senhor acha do argumento contrário ao restaurante popular, de que afetaria os comerciantes, donos de restaurantes?

Damon: Isso é conversa para boi dormir, de gestão de quem não tem por princípio trabalhar para o povo que mais precisa, de quem não tem visão de futuro. Itabira tem uma área rural muito grande, que é produtiva, sim. Mas pode ser mais produtiva se houver estímulos. Nós fomentamos e ampliamos o banco de alimentos, um programa do governo federal, ampliando a compra de alimentos em nossa região. Mas os agricultores de Itabira ainda não dão conta de suprir a demanda de alimentos nas escolas. O restaurante seria mais um estímulo para aumentar a produção com garantia de mercado consumidor.

Qual é efetivamente a dívida que o senhor reconhece?

Damon: A dívida que nós deixamos, incluída a dívida com ItabiraPrev, atraso no plano de saúde do servidor, está em torno de R$ 70 milhões.

Mas mesmo essa a dívida que o senhor assume é muito grande. Por que tudo isso?

Damon: Eu preferia receber a administração da cidade com a dívida que deixei, do que com a que recebi, com uma dívida estrutural. Recebi uma Itaurb sucateada, quebrada com equipamentos penhorados. Recebi uma prefeitura sem um parque tecnológico na prefeitura, tive que comprar mais de 600 computadores. O computador mais novo levava uma hora para ser aberto. Os funcionários da Prefeitura trabalham muito, só um por cento não trabalha e mancha a imagem do restante. Pois bem, esses funcionários que trabalham deixavam os computadores ligados para não perderem tempo no dia seguinte. Na área de educação, a maior parte das escolas estava há mais de dez anos sem reforma e sem ampliação, não tinham carteiras. As diretoras das escolas Coronel José Batista e Nico Andrade levavam carteiras para os maridos consertarem. Havia mais de 800 crianças com idade de até três anos fora da escola. Recebi mais da metade dos PSFs (Programa de Saúde da Família) sem médicos e sem casas alugadas para o seu funcionamento. Gastavam-se R$ 3,8 milhões com medicamentos. E quando fomos ver qual era a demanda, para supri-la, tivemos que investir R$ 6 milhões. Metade dos PSFs estava sem médicos. Quando eu fiz o concurso e coloquei médicos em todos, passei a gastar em torno de R$ 2,5 milhões a mais com salários. Recebi o Hospital Carlos Chagas com obras para terminar da década de 1990 e uma outra também para terminar de 2010. Terminei as duas obras e o hospital saltou de 81 para 151 leitos, que é a sua capacidade instalada. A gestão anterior à minha repassava R$ 26 milhões para o hospital Nossa Senhora das Dores. Já no primeiro ano de meu mandato, em 2013, repassei R$ 38 milhões. Em 2014, foram repassados R$ 42 milhões. No ano que foi o pior da crise, quando o preço do minério chegou a US$ 37 a tonelada, repassei mais de R$ 41 milhões.

Em um eventual processo por crime de responsabilidade fiscal, como o senhor irá se defender?

Damon: Eu não tinha como prever que a economia iria ter essa crise tão grande, infelizmente. Quando eu entrei na Prefeitura precisava oferecer uma educação e saúde de qualidade. Tinha como principio trazer a qualidade de vida para o nível da cidade que tem um PIB entre os dez maiores do estado e não tem correspondência em qualidade de vida. Já em 2014, o índice Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e que faz aferição da qualidade de vida em todo o país), reconheceu que a nossa administração tinha melhorado a qualidade da educação em 21 posições. Estávamos em 46º lugar em saúde e educação no estado e evoluímos para a 25ª posição. 

A sua defesa seria então embasada na crise econômica e na consequente queda da receita com o minério em baixa?

Damon: Sim, em decorrência da crise não tivemos como pagar todas as obrigações.

O que mais pesou para o descontrole dos gastos públicos?

Damon: Quando eu entrei, com relação aos medicamentos, eu achei que íamos aumentar os gastos em torno R$ 500 mil. Mas como antes não havia controle e quando vimos a real demanda, tivemos que aumentar em R$ 2,2 milhões para atender bem a população. Saltei de R$ 3,8 milhões para R$ 6 milhões. Foram despesas a mais com medicamentos e salários de médicos.

Mas mesmo assim, houve falta de medicamentos em seu governo?

Damon: Sim, faltou e faltou muito. Faltou porque caíram os recursos de livre aplicação (ICMS, ISS) e não usávamos a Cfem (Compensação Financeira pela Exploração Mineral, os royalties do minério) para comprar remédio. Consultei a Amig (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais) e me disseram que eu podia usar recursos da Cfem para comprar remédios. Nem o Tribunal de Contas sabe direito o que pode e o que não pode ser pago com o dinheiro da Cfem. Trouxe a informação da Amig de que esse recurso podia ser usado para pagar medicamentos, mas mesmo assim o meu corpo jurídico ficou inseguro. Acabamos pagando os laboratórios com recursos da Cfem, conforme parecer da Amig.

O que mais explica a dívida?

Damon: A Itaurb custa aos cofres da Prefeitura entre R$ 24 e R$ 30 milhões/ano. A Itaurb não tem receita própria, não temos taxa de coleta de lixo na cidade. Isso tem de ser criado, além de combater a sonegação e a corrupção. Quando eu entrei no governo, pagava-se a Itaurb com recursos da Cfem. Só que com essa bagunça jurídica que o país virou, o Tribunal de Contas teve um outro entendimento de que pagar Itaurb com a Cfem é folha de pagamento, o que é vedado pela legislação – pode apenas pagar folha de pagamento da educação básica. Mas o interessante foi que só no meu governo tiveram esse entendimento. Isso depois de eu ter feito o pagamento da Itaurb de R$ 12 milhões com recursos da Cfem. É por isso que respondo a um processo do Ministério Público. Depois disso, corrigimos e fizemos a reposição do dinheiro. Mas com a queda dos recursos livres, a dívida com a Itaurb voltou a crescer.

O senhor disse que não tinha como prever a crise, mas o índice VAF (Valor Adicionado Fiscal), que define o rateio do ICMS com base na média do que foi apurado nos dois anos anteriores, já indicava que haveria queda na receita. O seu governo teve os dois primeiros anos com o VAF refletindo numa receita ainda em alta, o que só repercutiu negativamente nos dois últimos anos de seu mandato. Por que o senhor não fez o dever de casa, cortando despesas, uma vez que sabia, ou deveria saber, que a crise refletiria nos anos seguintes?

Damon: Sim, a receita de fato caiu no final de 2014 e em 2015. Nós tentamos um planejamento, mas isso não se faz da noite para o dia na administração pública. Tínhamos, por exemplo, contratos para dar manutenção nas estradas rurais. Quando recebemos a Prefeitura, esse contrato era de aproximadamente R$ 17 milhões. A decisão que tomamos foi comprar maquinário próprio para fazer a redução dos gastos. Assim fizemos e reduzimos bastante os custos com manutenção de estradas vicinais. Hoje eu vi uma postagem na rede social de que a Prefeitura está tendo um déficit mensal de mais de R$ 3 milhões. Se isso for verdade, irão deixar uma dívida maior que a dívida do município de muitos anos e mais que o dobro da dívida que eu deixei em quatro anos de governo.

A sua equipe falhou no planejamento diante da crise?

Damon: Sim. Apesar da previsibilidade em torno do VAF, conforme você falou, eu não tinha como acompanhar tudo isso. A minha equipe falhou quando tinha de trabalhar de forma harmônica. Nós vivemos em um país de cultura corrupta e desobediente. O que aconteceu? Eu tive de fazer trocas de secretários que iniciaram muito bem e depois desalinharam e deixaram de cumprir as determinações do governo. Essas trocas trouxeram aborrecimentos.

Houve muita corrupção em seu governo?

Damon: Que eu ficasse sabendo, não. Eu não admitiria. Se eu ficasse sabendo de algum caso que envolvesse secretário, demitiria na hora. Se a suspeição recaísse sobre algum servidor, mandava imediatamente instaurar um inquérito administrativo.

Damon culpa a crise pela dívida deixada para o seu sucessor pagar

Dizem também que o senhor contratou muitas consultorias desnecessárias e que muitos serviços não foram prestados, como a Prius, que teve inclusive CPI na Câmara. O senhor foi acusado de beneficiar alguém que trabalhou em sua campanha.

Damon: A Prius aparece como consultoria, mas não é bem uma consultoria. Teve o processo de licitação. Eu precisava ter uma estrutura de evolução tecnológica para poder ter conhecimento do que se passava na Prefeitura. A contratação da Prius era para modernizar a gestão pública, para ter conhecimento praticamente em tempo real dos problemas do município. Foi feito um voo tripulado para fazer o geoprocessamento. Os dados obtidos estão na Prefeitura no setor com a funcionária Gilza. Com ela estão todos esses dados. Foram pagos R$ 1,5 milhão para atualizar os dados da planta cadastral da área urbana, até para melhorar a receita do IPTU, que acarreta perda muito grande por não dispor de dados corretos, com valor venal dos imóveis muito baixo. Temos muitos imóveis isentos de IPTU na cidade.

Não atualizar os valores venais dos imóveis para cobrar o IPTU pode ser caracterizado como renúncia fiscal?

Damon: Como é que eu posso cobrar o preço real se não tenho conhecimento do real valor dos imóveis? Sem esse levantamento, sem a regularização, não havia como cobrar o valor real. O trabalho da Prius era para modernizar a gestão e ter esses dados em tempo real, racionalizando a gestão.

CPI da Prius foi composta pelos vereadores Sueliton, José Mauro e Bernardo Mucida, que não foram reeleitos. Mucida foi candidato a prefeito e ficou em segundo lugar (Foto: Átila Lemos)

Tem também a denúncia de que o senhor pagou a Prius por serviço não realizado. Como foi isso?

Damon: Ai cabe a justiça provar. Ninguém tinha autorização de pagar por serviço não realizado. O contrato com a Prius era de R$ 9 milhões, a empresa recebeu pouco mais de R$ 4 milhões. Começamos a ter problemas com a Prius quando ela quis receber recursos que eram indevidos. Aí eu bloqueei os pagamentos.

Quando teve início a CPI, o pagamento já estava bloqueado?

Damon: Sim, já estava bloqueado há muito tempo. Aquela CPI foi uma farsa. O vereador que relatou o processo me fez uma proposta de bastidor para fazer um relatório favorável, de acordo com o tratamento que ele recebesse da Prefeitura.

Quem era o vereador relator?

Damon. Era o Sueliton (Souza, que não se reelegeu). Mucida (Bernardo, ex-vereador e candidato a prefeito na última eleição) manipulava todo mundo. Ele agora sumiu, não tem mais imunidade parlamentar. A cidade está um caos e ele nada diz. Sumiu, se escondeu.

Se ele não tivesse imunidade parlamentar, o senhor o teria processado?

Damon: Com certeza. Eu cheguei a seguinte conclusão: no Brasil a política é feita com base em mentiras e boatos. Numa população que não tem educação de qualidade, uma população inocente ao ponto de ser manipulada, não se forma uma massa crítica pensante. Prevalece a troca de favores, infelizmente os políticos têm essa prática. Você não viu o meu governo comprando votos. E se você viu alguém fazendo isso, estava descumprindo as minhas ordens.

E o senhor sabe de histórias de adversários comprando votos?

Damon: Ouvi, principalmente na campanha de 2008. Sei da história de um cidadão que estava vindo justificar o voto no fórum e na pracinha do Pará uma pessoa o abordou, perguntando se queria vender o voto. Essa pessoa topou vender e comentou num bar: “compraram o meu voto agora e eu nem voto em Itabira.” Teve também a história de uma mulher com a bolsa cheia de dinheiro comprando votos na escola Coronel José Batista. Teve gente que me contou ter vendido o voto três, quatro vezes na mesma eleição.

E nessa campanha, o Ronaldo está para ser cassado por irregularidades na arrecadação de recursos. Teve compra de votos também?

Damon: Nessa campanha agora eu não sei. Mas digo o seguinte, essa história de falar em caixa 2… Eles (os candidatos) compõem o processo, tem um comportamento que favorece tudo isso. A maioria dos governos nesse país são perseguidores e se você declara que doou para um candidato e não doou para outro, e esse ganha, ele não vai ter obra no município. Essa perseguição não ocorreu em minha gestão. É um processo muito viciado.

O senhor perdeu o prazo para entregar o projeto para a Vale liberar os recursos para a central de resíduos. O que ocorreu?

Damon acusa o seu ex-vice Reginaldo Calixto de perder prazo para apresentar projeto de Central de Resíduos (Foto: Sílvio Andrade)

Damon: É engraçado dizer que eu perdi o prazo. Quem perdeu o prazo foi o secretário de Desenvolvimento Econômico, o Reginaldo Calixto, que era o meu vice. E quando ele veio entregar o projeto, foi no control C, control V. Por isso eu fui contra entregar o projeto daquela forma. O projeto não atendia todas as solicitações que a Vale pedia para instalar a central de resíduos no futuro distrito industrial que nós conquistamos na fazenda Palestina. E que será um dos cinco maiores distritos industriais do estado e que Ronaldo falou que não quer instalar.

Itabira precisa mesmo de um novo distrito, se existem áreas ociosas no Distrito Industrial I?

Damon: São poucas áreas ainda remanescentes, já que o distrito II ficou para a Unifei. Perdemos a vinda da Valourex, que foi para Jeceaba (MG), com pouco mais de 5 mil habitantes, por não haver área disponível aqui. Na Palestina teremos água com a duplicação da ETA dos Gatos e também com os recursos hídricos existentes na própria localidade. Além disso, existe uma população da Pedreira, em torno de 6 mil vidas, que está isolada e que não irá conseguir emprego no distrito I, pois tem que pegar dois ônibus. A localização permite acesso fácil à rodovia. Se não for ocupada essa área, há o risco de o município perder esse terreno. Se o Ronaldo não quer instalar o novo distrito agora, ele tem pelo menos demonstrar interesse, para que Itabira não perca o imóvel no futuro.

Existem casos de empresários ganharem terrenos no distrito industrial sem fazer uso e depois vender a preço exorbitante. O senhor sabe de algum caso? Isso ocorreu em seu governo?

Damon: Essa história que você está falando, de venda de terreno no Distrito Industrial I, acontecia nos governos anteriores ao meu. Para moralizar isso, eu enviei o meu vice-prefeito à Codemig (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, que detém parte dos lotes do distrito industrial) para apurar se de fato isso ocorria. Lá, o meu vice-prefeito foi abordado por funcionários da Codemig oferecendo terrenos para venda no distrito industrial daqui. Foi o que ele me disse. Reginaldo não aceitou e não deu atenção a esses funcionários.

O senhor tem conhecimento de alguém que ganhou terreno e depois vendeu sem sequer instalar um único galpão?

Damon: Eu não doei, mas tem histórico. Nós descobrimos no levantamento na Codemig que havia 12 terrenos que não estavam sendo utilizados. Retomamos o controle do distrito para a prefeitura, retiramos o controle da Codemig. Recebemos planos de trabalho de várias empresas para destinar os terrenos. Aquelas que tiveram mais pontuação, receberam esses terrenos.

E essas empresas se instalaram no distrito?

Damon: Até prova em contrário, quase todas se instalaram. Tinha uma no bairro da Água Fresca, se eu não me engano, a Casa do Padeiro, que no momento em que o projeto foi aprovado para ir para o distrito, veio a crise e ela não conseguiu se instalar. O terreno retornou para a Prefeitura repassar para outra empresa. Agora, eu tive sim, uma denúncia de que algumas pessoas foram privilegiadas com essas áreas no distrito industrial. Um cidadão procurou o meu irmão, que é policial, dizendo que um funcionário municipal estava cobrando propina de R$ 50 mil para liberar os documentos das áreas.

E que providência o senhor tomou? Abriu sindicância para apurar?

Damon: Eu encaminhei denúncia ao Ministério Público, está com o doutor Renato. Fui até lá duas vezes para saber como está o andamento do inquérito.

Quem é esse funcionário? Dê o nome.

Damon: Eu prefiro não dizer o nome agora, deixa ver como vai desenrolar o inquérito. Tentaram também desapropriar um terreno no final da avenida Machado de Assis, onde tem a quadra soçaite de um lado e de outro tem um barranco e lá em cima uma mata atlântica. Tentaram desapropriar esse terreno por R$ 1,5 milhão. Eu bloqueei a desapropriação, pois o terreno não tem utilidade nenhuma para a Prefeitura. O terreno é do Zé Romão e não deve valer nem R$ 300 mil. Eu cancelei a desapropriação e até hoje eu não sei quem tentou desapropriar esse terreno.

Como assim, não sabe? Certamente foi alguém que fazia parte de seu governo.

Damon: Não consegui descobrir.

O senhor cumpriu a portaria federal que obriga as prefeituras terem mais de 70% dos cargos comissionados ocupados por funcionários de carreira?

Damon: Talvez o meu governo tenha sido o único em Itabira que cumpriu essa portaria.

Por que o senhor mudou tanto o seu secretariado?

Damon: Quando eu entrei na Prefeitura, fui surpreendido pelo comportamento de muitos que entraram comigo. Vi que tinham os mesmos vícios que eu criticava nas gestões anteriores. Eu não concordo com o fisiologismo. Demiti a maioria por não ter alinhamento com o governo, alguns por processos irregulares.

A avaliação geral na cidade é que o seu secretariado era muito fraco, que o senhor foi muito mal assessorado. Como o senhor avalia?

Damon: Tive problemas, sim, com alguns secretários. Por questão de alinhamento e também por condutas não muito éticas. Mas eu tive uma secretária de Educação, a Luciane Ribeiro, que foi uma das melhores que já teve na cidade. O secretário de Meio Ambiente, o Nivaldo, que é integrado com os movimentos sociais. A Walquíria, na ação social, o Alfredo Lage, um jovem advogado íntegro que entrou na Procuradoria, o Gilberto da Ouvidoria, o Marco Túlio da Administração, o Marco Aurélio, o Tião Ayres que agregou muito ao meu governo. Se for colocar na balança, 95% dos secretários que terminaram o governo comigo, foram íntegros e excelentes no exercício de suas funções.

Fim da primeira parte da entrevista. Na próxima semana, não deixe de ler o que Damon tem a dizer sobre:

  • A relação com o funcionalismo, o fisiologismo e o nepotismo.
  • A questão da água e como o seu governo tratou o problema.
  • De como Itabira perde recursos com a sonegação de impostos (IPTU, ISS), inclusive por parte de grandes empresas.
  • A municipalização do hospital Carlos Chagas e os interesses contrariados de médicos que tornaram seus inimigos. Damon dá os nomes.
  • O difícil relacionamento com a imprensa, com jornalistas e radialistas que o perseguiram a soldo de seus adversários.
  • Se Ronaldo Magalhães for cassado, Damon sai candidato?

Essas e outras revelações, algumas bombásticas, serão publicadas na segunda parte da entrevista, na próxima semana. Aguarde e não deixe de ler.

 

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11 Comentários

  1. CaroCarlos, o prefeito Damon se deu bem ao conceder a primeira entrevista a VU, como jesus de Nazaré ele sacou que “da cruz se sai por cima”. Ótima entrevista, espero que seja pauta de uma série com os políticos. É essencial ouvir o que pensa, saber o propósito dos representantes do povo na política. O que vai dar o que falar da entrevista?
    Na disputa à presidência do eua-cia em 1968, a revista Esquire contratou um grupo de notáveis para entrevistar os candidatos. Entre eles, o sereno Jean Genet para perguntar ao candidato MaCarthy. A pergunta de Genet pode invalidar as possíveis seguintes: “… se ele se achava ser intelectual e psicologicamente adequado para ser presidente de um grande país e, nesse caso, como sabia disso? ” A maioria dos políticos não seria capaz de responder à pergunta do Genet. Do Brasil, Dilma Vana Rousseff sim, responderia.
    Meu diálogo com a versão dos fatos, as denúncias, os esclarecimentos do ex-prefeito:
    1. Fome Zero incomoda muita gente. Restaurante Popular Mata Fome de muito mais. Ignorância o achismo de que um prato nutricional, decente e cuidado, por Um Real, vá concorrer com a suruba gastronômica de que se serve o andar de cima. Restaurante popular é uma economia solidária, gera emprego, fortalece agricultura familiar (PT-MST-Paul Singer-Lula). A prefeitura deve esclarecimentos.
    2. Vergonhaço do João Izael. Os computadores, a memória, os dados, tudo destruído. Ignorância predatória. É mesquinho. É caso de polícia. O Damon esqueceu do rito de limpeza, pois que a camarilha tem medo é de despacho.
    3. Do ponto de vista do meu senso comum, os números em moeda destinados a compra de drogas, 6 milhões; aos PSFs, 2.5 milhões; ao hospital NSD, 42 milhões, são extravagantes. No caso das drogas, se dividir 6 mi por 120 mil habitantes, resulta em 50 mil cabeças. Para 50 mil cabeças quantas caixas do campeão de vendas nas drogarias, o Rivotril, se pode comprar, irmão? É reposta pro índice Firjan e seus associados da indústria farmacêutica. As ervas diversas são infinitamente mais baratas, sem efeito colateral e não aniquila mentes.
    4.Atualizar planta cadastral urbana, é justiça a ser feita. Rico não paga IPTU ao bom exemplo do prefeito de SP, o João Trabalhador, que sonega centenas de metros quadrados de luxo.
    5. Ele tem razão em desafiar os vereadores aprendizes de golpismo. Numa só entrevista o ex-prefeito comeu, fatiado no vinagre, o Ronaldo e o Mucida. O Ronaldo, ele encurralou ao apresentar denúncias, ao confrontá-lo no caso dos programas interrompidos. Desafiou os cacarejos do Mucida por causa daquela investida inconsequente, de excesso de ridículo, que foi o pedido de impeachment. Toque-Toque pleibói!
    6. O projeto control c, control d, deletado e perdido, é uma benção pra cidade. Central de Resíduo pode virar arma química. Cuidado!

    7.No caso dos terrenos doados ou não, do distrito industrial, por que não enquadrou o funcionário da Codemig?
    8. A inversão de valores: não perdeu a Valourex, ganhou uma Universidade, um Campus. É riqueza como o professor João Lucas da Silva, doutor em energia renovável. Axé!
    Itabira precisa de um prefeito astuto, liderança capaz de comportar com altivez, diante do “poder de fato”, a Vale.
    Por duas vezes a maioria do eleitorado de Itabira optou pelo mais pior (dr. Camões, favor não revisar), de Jackson pra Ronaldo e de Damon pra Ronaldo, que é reincidente, significa que os formadores de opinião da cidade são ignorantes, atrasados, mentes do século 17.
    Pronto escrevi o que queria e aguardo ansiosa a segunda parte.
    Abraço,
    Cristina

    1. pô damon, deu chabu! ninguém comentou a sua entrevista; nem você comentou. pensei que aqui, neste espaço para o debate democrático em itabira, fosse dar o que falar. nada. niente. mas prometo comentar a segunda parte.

  2. Resta saber o quanto foi pago ao FUNCAPI (ou outro nome qualquer do fundo de pensão dos funcionários municipais) do empréstimo tomado pelo Ronaldo em seu primeiro governo?
    Se nada foi pago, quanto monta esta dívida?

  3. antonio elias, finalmente mais uma pessoa para o debate neste espaço que pode ser colaborativo. elias, o sino
    toca pro cê acreditar nos comentários “BOÇAIS”, é tudo verdade. Eu, por exemplo não desacredito No Nada para o Nada escrito por você. E também não vou te chamar de POVIM, lhe reservo um adjetivo especial, depois te conto lindinho…

  4. Finalmente, até que enfim, alguém comenta a entrevista que pensei, ia ser bomba de pataco. E olha que o Mauro Aníbal só mira no certo. Quequié Mauro? a prefeitura valeu-se de fundo de pensão dos trabalhadores e não devolveu!! Prefeito sem pena e tinta! Putz, e foi reeleito pra “colocar Itabira de volta aos trilhos”, decerto que é pro trem passar por cima.

    Quando o Ronaldo foi candidato pela primeira vez teve gente que votou nele pra não votar no Jackson -, voto de rancor pessoal. Por motivos tão insignificantes é que a cidade se empobrece e não se aborrece.

    —-um amigo me contou que “doou” um cheque de 10 mil pra campanha do candidato, eleito mais de uma vez, e de imediato recebeu 10 mil em espécie, mole assim. E se o congresso aprovar o sistema Distritão de voto, os corruptos vão deitar e rolar em malas de dinheiro e vai faltar folha de cheques—

    Eu acuso, Cabeça de Burro -molestada na cava funda do Caué- e a Serpente enterrada no cemitério da igrejinha do Rosário dos Pretos, de conspirarem contra a Cidadezinha. Acredito piamente que as duas poderosas entidades se uniram pra vingança longa e cruel. Dias piores estão por vir? Ou haverá uma saída?

    Para desfazer a malquerença, revogar a praga, sair do buraco, o recurso se encontra na porta ancestral, por meio do Despacho Coletivo. Dada a gravidade do feitiço é prudente encomendar o melhor Despacho do Mundo, diretamente de Salvador da Bahia. O rito de lavagem da purificação deve iniciar o combate pelo cemitério do Cruzeiro das Almas, em cantoria descer até a porta da Rosarinho e despertar os escravos mortos; ao som de atabaques e tambores seguir no rumo da prefeitura e da câmara, e com todo respeito, atirar cusparada nas entradas; avançar pela rua de Santana para desterrar de vez a malquerença com o bate macumba bate, no Portão da Vale, que não nos vale em nada. É praga consumada.

    PS. Estou na expectativa de ouvir o ex-prefeito Jackson, que é de pouca fala mas sabe usar muitíssimo bem o bisturi. Fala Jackson, conta a sua experiência como prefeito vermelho da cidade.

    Um comentário desencaixado, mas pertinente:
    Certos políticos vivem de factoides, imaginam por exemplo, que o poeta Drummond faz falta pra cidade. E aí eu fico me perguntando, em que e quando o poeta Drummond faz falta à Itabira. Faz falta nenhuma. Ele é poeta, seu legado é o que escreveu. Enquanto houver livros os poetas viverão. Na década de 90 o Jornal do Brasil fez uma enquete com trabalhadoras (res) de segundo, terceiro plano pedindo que citasse o nome de um (a) poeta. Incrivelmente o tímido, o gauche ganhou de balaiada. Quadrilha e Agora José?, jorraram como chuva de verão da boca das empregadas domésticas, dos faxineiros, enfim o andar de baixo lê poesia. Mas se fosse candidato a cargo político, tão pouco seriam os votos…, afinal ele é poeta carioca de minas. A fotografia na parede dói, talvez pela impossibilidade do cidadão agir contra os donos do poder. Não é justo com o poeta que escreveu, Só Isso?, a crônica sobre o quase nada de minério que fica pra Itabira. Enquanto o poeta viveu sofreu difamação pela língua do povo da cidade, quem o levou de volta a Itabira foi o Jornal O Cometa Itabirano e, como diria Arp Procópio: “Amém, como dizia Marinhaminhamãe”

  5. Your comment is awaiting moderation = censura em inglês?

    chiii…., agora deu chabu mesmo, censura na Vila.

    Tó fora, eu vou é ouvir Lula e Dilma, sem censura, na faculdade de direito.

    de BOSSAIS em BOSSAIS meu saco tá cheio, saturei…

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