Dalton Albuquerque, publicitário bolsonarista itabirano, é indiciado pela Polícia Civil por crime homofóbico

Foto: Reprodução

Não deve ter sido difícil para a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluir que as postagens lesbofóbicas realizadas pelo publicitário bolsonarista itabirano Dalton Albuquerque na rede social configuraram a prática criminosa “popularmente conhecida como homofobia”.

As postagens tiveram início assim que o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) anunciou o nome da professora Laura Souza para assumir a Secretaria Municipal de Educação, em substituição à também professora Luziene Lage, pouco antes do Carnaval.

O inquérito foi instaurado no dia 2 de março. Nessa terça-feira (8) foi concluído pelo delegado Diogo Luna Moureira, para a quem “a conduta do investigado, além de promover o discurso de ódio, incita a discriminação, a hostilidade e a violência contra pessoas em razão da orientação sexual ou identidade de gênero”.

Ouvida no inquérito, a professora Laura Souza acentuou que o indiciado publicitário não questiona, em momento algum, a sua capacitação profissional para dirigir a pasta da Educação em Itabira. Segundo ela, os ataques se resumem à sua opção sexual, com o agora indiciado sustentando que a sua nomeação seria um “ato satânico”.

Foi o que entendeu também o delgado que presidiu o inquérito. “A incitação da discriminação evidencia-se pelo uso de imagens e vídeos de manifestações sociais, representativas da luta por reconhecimento e por direitos pelas pessoas LGBTQIA+, associadas a frases de ordem e incitadoras de repúdio social”, confirma o delegado aquilo que a opinião pública já havia antecipado também pela rede social.

“Tudo isso sob o som da música I Will Survive, hit que além de ser usado como marca do empoderamento feminino na luta por igualdade na década de 70, acabou sendo lema de resistência da comunidade LGBTQIA+.”

Culpabilidade

Helton Cota, delegado regional, e Diogo Luna Moureira: polícia civil não teve difiduldade em concluir que houve crime de homofobia nas postagens de Dalton Albuquerque (Foto: Divulgação/PCMG)

Para concluir pela culpabilidade do autor, incurso no crime de homofobia, o delegado não aceitou o argumento de que as postagens têm caráter informativo, publicitário e jornalístico, procurando orientar os pais da má educação que os seus filhos poderiam receber nas escolas, conforme tentou sustentar o indiciado.

“O dissenso acerca do reconhecimento de direitos e do alinhamento de políticas públicas pode existir em uma democracia madura e sadia, desde que ancorado no respeito pela diversidade constitutiva da comunidade política”, concluiu o delegado Diogo Luna Moureira no encerramento do inquérito policial.

Pelo crime de homofobia, Dalton Albuquerque foi indiciado com base no artigo 20, parágrafo 2º, da Lei 7.716/89. Ele agora vai responder a uma ação penal na Justiça Criminal, na Comarca de Itabira.

Se condenado pelo crime de discriminação ou preconceito manifesto pela opção sexual da secretária de Educação, o publicitário pode ser condenado à pena de reclusão de um a três anos.

Fantasias tresloucadas

Durante interrogatório, o autor foi questionado sobre o emprego reiterado da palavra de ordem “se você AMA seu filho, DEFENDA-O” em suas postagens. Embora tenha dito que se baseou em reportagens para gravar o vídeo, ao ser solicitado que apresentasse as fontes, alegou que “se tratava de uma interpretação pessoal sobre o que foi publicado pela imprensa”.

Esse suposto e fantasioso projeto de levar a “ideologia de gênero” para a sala de aula, segundo tem sustentado o publicitário bolsonarista, estaria sendo “diabolicamente” arquitetado pelo prefeito Marco Antônio Lage.

Isso ocorreria com a aprovação pela Câmara dos projetos de lei, de autoria do prefeito, que estabelecem políticas públicas que assegurem a diversidade, além da criação do Conselho Municipal LGBTQIA+.

Para o publicitário bolsonaristas, a nova secretária de Educação faria parte desse complô em curso contra a família, a tradição e a propriedade. Dalton Albuquerque repete o mesmo discurso conservador e reacionário da TFP (Tradição, Família e Propriedade), que culminou com o golpe militar de 1964.

Associação

Em postagem pela rede social, Dalton Albuquerque tem procurado associar a sua condenação pela opinião pública ao que ocorreu com o jogador de vôlei Maurício Souza.

O atleta bolsonarista foi demitido do Minas Tênis Clube por também postar comentário homofóbico, em outubro do ano passado, depois que a DC Comics revelou que o atual Superman, Joe Kent, é bissexual: “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”.

Segundo o publicitário, assim como Maurício Souza ele está sendo vítima do que chama de inquisição identitária. “Uma pessoa não pode emitir opinião. Se essa opinião desagradar o senso comum, ela corre o risco de se ver no tribunal inquisitório”, escreveu em sua autodefesa postada na rede social.

“Se alguém acusar de homofóbico ou machista ou racista ou qualquer coisa, uma horda de histéricos começa a pedir a cabeça do acusado. Sem haver necessidade de provas e direito de defesa, basta uma acusação histérica para que o acusado seja condenado sem importar o conteúdo do que foi dito.”

Não foi o que entendeu o delegado que conduziu o inquérito para apurar as responsabilidades criminais pelas suas postagens. Assim como também elas foram rechaçadas pela opinião pública nacional pelo seu conteúdo misógino e lesbofóbico.

Candidatura

Campanha fora de época

Mas para Dalton Albuquerque nada disso deve importar. Assim como vem fazendo Maurício Souza, o que ele quer mesmo é surfar na onda conservadora que elegeu o seu mito Jair Bolsonaro (PL).

É que ele ainda acredita ter essa onda força e apelo eleitoral suficiente para assegurar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Com esse discurso raivoso espera conquistar parcela significativa do eleitorado evangélico para se eleger deputado estadual.

Para isso, ele já está em campanha, extemporaneamente.

 

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