Crescimento do Carnaval de Itabira destaca a necessidade de mais espaços noturnos durante os quatro dias de folia
Foto: Filipe Augusto/ Ascom/PMI
Carlos Cruz
Embora tenham ocorrido matinês carnavalescas em vários bairros da cidade, mais uma vez faltaram espaços mais amplos para eventos noturnos no carnaval de Itabira, que, como nos anos anteriores, se restringiram à praça José Máximo Resende, no Campestre, e à praça doutor Nelson Lima Guimarães, a pracinha do bairro Pará.
Diferentemente do pré-carnaval, que mobiliza foliões da cidade e também de outras localidades, o carnaval de Itabira é mais restrito a quem não viaja, por razões diversas. Nos últimos anos, a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) tem organizado anualmente a festa em homenagem a Momo, para gáudio desse público que permanece na cidade.
Não é pouca gente que fica na cidade e precisa desse momento de lazer e diversão. Mas com o crescente movimento ano a ano, é preciso pensar em novos locais para a sua realização, ficando como sugestão a praça do Areão, mais espaçosa, até por ser possível cercar o local para se fazer todo o monitoramento de segurança.
Impacto de vizinhança
Sem essa expansão, o carnaval na pracinha do Pará se sobrecarrega, virando um mega evento que deveria ter Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) antes de sua realização pela dimensão que tomou, diferentemente dos carnavais iniciais nesse local, quando o público predominante era do próprio bairro, assim como as bandas locais se apresentavam com antigas marchinhas carnavalescas.
Saudosismo conservador? Talvez seja, mas também necessidade de adequação. Se fosse feito o EIV, com certeza o carnaval na pracinha do Pará aconteceria, mas com dimensões menores, o que é possível de se fazer, sem prejuízo para a festa momesca na cidade, caso seja aberto um terceiro espaço para esse imprescindível evento durante a noite.
Pela legislação, o EIV deve ser realizado para todos grandes eventos, públicos e privados, em espaços abertos, como é o carnaval. Mas Itabira, historicamente, não cumpre essa legislação, a Lei Federal nº 10.257/2001, conhecida como Estatuto da Cidade.
É básico, mas aqui não acontece. E não se faz cumprir por quem é o guardião da legislação, no caso o Ministério Público de Minas Gerais. Essa lei estabelece diretrizes para a ocupação urbana e também para a realização de empreendimentos ou atividades que possam causar impactos significativos na vizinhança.
É esse desrespeito que muito se observa na cidade, inclusive em muitos barzinhos, com som alto que incomodam os vizinhos durante a noite, ferindo o direito à tranquilidade e bem-estar coletivos.
No caso da pracinha do Pará, caso fosse previamente cumprida a legislação, com certeza não seria recomendado o evento no porte que ocorreu nos últimos anos.
Isso porque a maioria dos moradores vizinhos é majoritariamente constituída de idosos, que sofrem com o som excessivamente alto, com músicas de gosto duvidoso, que em nada lembram as marchinhas carnavalescas.
São os tempos pós-modernos, mas prefiro a modernidade antropofágica e ancestral das marchinhas carnavalescas, que representam uma tradição cultural mais autêntica, uma valorização das raízes culturais brasileiras.
Basta observar: poucos moradores do bairro Pará compareceram à festa carnavalesca nesse espaço tradicional da cultura itabirana, que assim deve continuar sendo, mas com os cuidados para não impactar negativamente a qualidade de vida dos moradores vizinhos.
Deve-se creditar um ponto positivo ao cumprimento do horário, com as quatro noites de carnaval encerrando antes de meia-noite, geralmente às 23h45. Positivo também foi a organização da segurança, que, sem abuso de autoridade, impôs ordem e dispersou a multidão assim que a última banda se apresentava.
Também não foi permitida a presença de carros com som automotivo (que deveriam ser recolhidos se houvesse fiscalização da Transita e da própria PM, por ferirem o Código Nacional de Trânsito), que, em carnavais anteriores, permaneciam com o som ligado no volume máximo, mantendo a multidão de jovens durante toda a madrugada. Felizmente, isso não se repetiu neste ano

Mercantilismo
Outro ponto a observar foi a disposição do próprio espaço na pracinha do Pará, que neste ano retornou ao local inicial, em frente à escola Major Lage, quando deveria ter permanecido em frente ao Sindicato Rural, pelo espaço mais amplo e visibilidade.
Além de o espaço definido para o carnaval deste ano ter sido menor, ainda foi ocupado pelo food truck que tem ficado permanentemente no local, assim como outros trailers de vendas, ocupando espaço dos foliões e dificultando a visibilidade do palco onde as bandas se apresentavam.
Acrescente-se ainda que com isso foi criada uma situação de privilégio em relação aos demais vendedores ambulantes, que ficaram do outro lado da praça. É como se houvesse um Gold Card ou Visto Dourado para quem paga mais, única explicação plausível para se ter esse privilégio, que quebra o princípio constitucional da isonomia e da impessoalidade em espaços públicos.
Outro lado
Em resposta ao questionamento sobre a ocupação diferenciada para alguns vendedores e vendedoras na pracinha do Pará, a FCCDA encaminhou uma nota à redação:
“Nos eventos de Carnaval (28/02 a 04/03), a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade não realiza o credenciamento de barraqueiros, ambulantes, food trucks, destinados à exploração comercial de produtos alimentícios e bebidas nos espaços de eventos.
Nos bairros Pará e Campestre, os eventos são realizados em parceria com associações dos respectivos bairros, com a cessão de infraestrutura de palco, som, iluminação, banheiros, brigadistas e seguranças. Dessa forma, não há transferência de recursos públicos para essas associações e nem cobrança de valores de nenhum envolvido na realização dos eventos.
Já para as festas de Carnaval nos bairros (Carnaval Descentralizado), foi publicado pela FCCDA o edital (Processo Licitatório nº 021/2025 – Inexigibilidade/Credenciamento nº 001/2025) que estabelece as regras para o credenciamento de propostas artísticas culturais de criação, concepção, organização e execução de atividades de Carnaval direcionados para os bairros de Itabira, dentro do Projeto Circuito Carnaval de Rua.
Aos aprovados, são repassados R$ 20 mil e a execução do objeto é acompanhada e fiscalizada pela FCCDA. Após o evento, os habilitados devem prestar contas à instituição, conforme itens 2.4.5 e 2.4.6 do edital.”
Pesquisa
A FCCDA anuncia que vai realizar pesquisa de satisfação para avaliar como os foliões perceberam o carnaval Haja Amor! em Itabira. Deveria incluir na pesquisa os moradores vizinhos da pracinha do Pará e também do Campestre, visitando-os porta a porta.
Com certeza a maioria não é contra a realização da festa momesca, assim como de outros eventos culturais nas respectivas praças que são do povo e assim devem permanecer para sempre, mas com os cuidados devidos. Daí que um terceiro palco para os próximos carnavais noturnos será muito bem-vindo e necessário, pelo crescimento que a festa vem registrando nos últimos anos.
Fica a sugestão, como minha participação antecipada na pesquisa qualitativa da FCCDA: que a praça do Areão se torne o maior palco do carnaval itabirano que tem tudo para crescer em qualidade, atraindo também foliões de outras cidades.
É o que tem ocorrido com o pré-carnaval desde os primórdios na metade da década passada, com os blocos Madalena Não Gosta de Poema, e o percussivo Altamente, que geraram muitos outros blocos criativos e irreverentes, embora despolitizados, diferentemente do que se viu com outras agremiações carnavalescas nas capitais brasileiras.
Melhorias contínuas
A pesquisa da FCCDA visa, conforme foi assinalado, entender as opiniões sobre diversos aspectos do evento, como organização, segurança, infraestrutura, espaço, atrações e muito mais. “A participação da população é essencial para aprimorar a festa e torná-la cada vez mais incrível”, diz a superintendente Vanessa Silva de Faria.
“Precisamos entender os gargalos, o que não funcionou e o que deu certo. A ideia é que todas as ações da FCCDA, a partir de agora, contem com essas pesquisas qualitativas”, explica.
“Participe da pesquisa e ajude-nos a melhorar ainda mais. Sua contribuição é fundamental para que o próximo Carnaval de Itabira seja ainda mais incrível e atenda às expectativas de todos”, ressalta a superintendência.
O Carnaval Haja Amor! foi realizado pela Prefeitura de Itabira e a FCCDA entre os dias 28 de fevereiro e 4 de março, com eventos distribuídos por 12 pontos diferentes e a participação das comunidades locais.
Serviço
Para participar da pesquisa, basta acessar o link disponível no site da FCCDA ou na bio do Instagram da FCCDA:
- Acesse o link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScl9BlrsNyNFXaE4WkPI9lDp9Te-TJoNP-oiv9XlBoQ72kvGQ/viewform
- Instagram: @fccda