COP29: fracasso esperado expõe crise climática global

Conferência climática, em Baku, Azerbaijão,  repete inação global. Falta de metas realistas e de ações efetivas e mensuráveis agravam o caos ambiental

Por Henrique Cortez*

EcoDebate – OK, a 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima COP29) aconteceu em Baku, Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro de 2024, fracassou, mas e daí? Essa foi a regra de todas as conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. E, sério, alguém realmente esperava um resultado diferente?

Mais uma vez as delegações decidiram nada decidir de importante e ‘empurraram’ as decisões urgentes para o futuro, talvez a COP30, em Belém.

Fracassou, como era esperado e nós, ambientalistas, temos uma boa parte da responsabilidade nos continuados fracassos, porque insistimos em acreditar que estes convescotes climáticos, na forma em que foram concebidos e estruturados, tem alguma razão de ser.

Gigantescas delegações, somando mais de 60 mil participantes registrados, reuniram-se, e, em termos realmente práticos, nada além disto.

Destaque para mais de 1,7 mil lobistas dos combustíveis fósseis e centenas de lobistas do agro predatório, que foram os grandes ‘ativistas’ desta COP, ainda mais do que nas anteriores.

Uma avaliação minimamente crítica, permite perceber que as Conferências do Clima são estruturadas para fracassar ou, na melhor das hipóteses, para avanços milimétricos.

Os diplomatas e dirigentes de tantos países apenas são tão omissos quanto as populações dos países que representam. Nós e nossos países somos favoráveis a tudo, desde que o tudo apenas se refira aos outros, pessoas e países.

A declaração final, de um financiamento climático de US$ 300 bilhões ao ano até 2035 e uma vaga proposta de arrecadar US$ 1,3 trilhão, é inacreditavelmente insuficiente. Uma ‘meia’ solução que significa um fracasso completo.

O jornalista Ed King, do Global Strategic Communications Council, lista, de forma muito precisa, os principais questionamentos em relação à proposta de financiamento, destacando 7 elementos a serem observados:

(i) Números: O compromisso de financiamento climático básico de US$ 300 bilhões aumentará? O que está incluído?

(ii) Base de doadores: a proposta garante que os países desenvolvidos entreguem primeiro e forneçam espaço para novos doadores se envolverem? No momento, a AOSIS argumenta que isso confunde os dois, diluindo assim o compromisso dos países desenvolvidos.

(iii) Garantias de adaptação: Há dinheiro público designado para adaptação?

(iv) Mecanismo de revisão/catraca: Como revisamos o progresso em direção à meta de US$ 1,3 trilhão até 2035?

(v) $$$ específico para pequenas ilhas/LDCs/África: Quantos dólares foram reservados para os grupos mais vulneráveis?

(vi) Qualidade do $$ (subsídios x empréstimos): O texto é claro sobre que tipo de financiamento está sendo fornecido, que subsídios são necessários, que o dinheiro deve ser fácil de acessar e é justo em todas as geografias?

(vii) Perdas e danos: caminho a seguir, incluído como uma submeta ou reconhecimento especial do fundo?

Além do lero-lero do financiamento, na COP29, as metas de redução da exploração, produção e uso de combustíveis fósseis não fizeram parte da discussão final, objetivo dos lobistas dos combustíveis fósseis.

Sem metas definidas e efetivamente comprometidas por todos os países, tudo mais, torna-se irrelevante diante da crise climática, que se agrava de forma exponencial.

O caos climático é um fato e suas consequências são crescentes e para isto não precisamos de tantas COPs que nada significam e nada resolvem. Chega de turismo climático.

As COPs, portanto, são apenas turísticas porque o essencial, a ser decidido por uns 15 países, pode ser perfeitamente discutido e resolvido por videoconferência.

Sofreremos as terríveis consequências do aquecimento global, porque não somos capazes de reconhecer que a economia baseada em carbono e nosso padrão de consumo são insustentáveis e não temos coragem de assumir que nosso modelo de desenvolvimento é predatório e injusto.

Quanto mais protelamos as decisões, mais agravamos o desastre que se anuncia.

Se nossa irresponsabilidade continuar sem limites, acabaremos com a natureza tal como ainda conhecemos. Mas a história do planeta demonstra que a natureza encontrará uma alternativa, porque, mesmo com vários episódios de extinções maciças, a natureza sempre recomeçou.

Ainda não estamos diante de um cenário apocalíptico, mas quase.

Em todo caso, nem tudo está perdido e uma catástrofe climática ainda pode ser evitada. Se perdemos a batalha contra o aquecimento, ainda assim, podemos vencer a guerra contra as suas piores consequências.

Precisamos vencer a luta contra nós mesmos ou muito perderemos. Muito mais do que apenas o nosso perdulário e irresponsável padrão de consumo.

Mas, enquanto isto, chega de turismo climático.

*Henrique Cortez, jornalista e ambientalista, editor do EcoDebate.

 

 

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