Colonialismo cultural e etarismo: o desrespeito com Milton Nascimento no Grammy 2025

Fotos: Reprodução/Instagram
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O tratamento desrespeitoso da organização do Grammy com Milton Nascimento evidencia uma visão colonialista e preconceituosa

Por José Alberto de Freitas Júnior*

Como se sabe, o Grammy 2025, patrocinado pela The Recording Academy, premiação ocorrida em 2 de fevereiro na Crypto.com Arena, em Los Angeles, ficou marcado por um grande desrespeito cultural e etarismo envolvendo o cantor e compositor brasileiro Milton Nascimento. Indicado na categoria de Melhor Álbum Vocal de Jazz pelo disco Milton + Esperanza, em colaboração com a cantora Esperanza Spalding.

Milton foi tratado de maneira desrespeitosa pela organização do Grammy. A polêmica começou quando a organização do Grammy não reservou um lugar para Milton nas mesas principais da cerimônia, mas o colocou na arquibancada. Essa decisão foi vista como um desrespeito à idade avançada do artista e à sua contribuição para a música brasileira.

A discriminação pode ser entendida também como mais uma manifestação do colonialismo cultural, ainda existente no mundo globalizado, uma desvalorização e desrespeito ao artista brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua rica contribuição à diversidade cultural existente no mundo.

O caso agrava-se ainda mais pelo desrespeito à idade avançada de Milton Nascimento, que, aos 82 anos, mesmo com a saúde debilitada, se deslocou até os Estados Unidos, numa demonstração de apreço desse grande artista à premiação para a qual foi indicado.

Premiação

Na categoria em que o músico brasileiro concorreu de Melhor Álbum Vocal de Jazz, venceu Samara Joy, com o álbum A Joyful Holiday. Cantora de jazz norte-americana, Samara Joy é também reconhecida pelo seu talento excepcional, já tendo ganhado vários prêmios Grammy, incluindo Melhor Artista Revelação em 2023 e Melhor Álbum Vocal de Jazz em 2023 e 2025.

Milton Nascimento e Esperanza Spalding não tiveram seus nomes citados nas menções honrosas. O cantor brasileiro venceu o Grammy em 1998, com o álbum Nascimento, lançado no ano anterior, na categoria de Melhor Álbum de Música Global.

A organização do Grammy alegou que Milton não foi barrado, mas que a decisão de o alocar na arquibancada foi tomada devido à escolha dos artistas que seriam incluídos nas mesas principais.

Segundo a organização, as mesas principais são reservadas para artistas que eles querem incluir no vídeo da transmissão da cerimônia, e que essa escolha foi baseada em critérios que não tinham a intenção de desrespeitar Milton Nascimento.

Apoio dos fãs e artistas

Explicação dada, mas sem convencer pelo claro desrespeito, não foi suficiente para aplacar a indignação dos fãs e da comunidade musical, que interpretaram a ação como uma clara demonstração de etarismo e desrespeito cultural.

Além do etarismo, a decisão de não reservar um lugar para Milton Nascimento entre os artistas principais foi vista como uma falta de reconhecimento adequado à sua trajetória e contribuição à música internacional. Reflete ainda um problema maior de colonialismo cultural e desvalorização de artistas veteranos e de outras culturas.

Milton Nascimento optou por não participar da cerimônia principal, gerando uma onda de apoio e solidariedade nas redes sociais. “Um dia antes, quando observamos os convites, constatamos que a Academia havia destinado um lugar para Esperanza, artista com quem Milton divide o disco indicado, nas mesas, entre os artistas principais ali presentes, enquanto destinaram para a lenda brasileira um lugar na arquibancada, desconsiderando não só toda a sua trajetória e prestígio em todo o mundo, como a sua idade avançada e impossibilidade de subir ou descer escadas”, registrou a página do cantor no Instagram.

“Quando questionados pela equipe de Esperanza, alegaram que ficariam nas mesas apenas os artistas que eles queriam no vídeo. Tendo em vista a carreira vitoriosa, o reconhecimento e o respeito conquistado pelo genial artista brasileiro, optamos pela ausência dele na cerimônia principal. Obrigado por todo o apoio, carinho e preocupação que todos estão nos dedicando.
O Brasil é gigante, tal qual é Milton Nascimento.”

Nota de Repúdio

O Ministério da Cultura também publicou uma nota de repúdio ao tratamento dado a Milton Nascimento. “O Ministério da Cultura manifesta repúdio ao tratamento dispensado ao cantor, compositor e multi-instrumentista brasileiro, Milton Nascimento. A decisão da Academia de posicioná-lo em um local incompatível com sua trajetória, prestígio internacional e necessidades físicas demonstra falta de sensibilidade e respeito a um dos maiores nomes da música brasileira”.

A música Milton + Esperanza está disponível em plataformas de streaming como Spotify e Apple Music, permitindo que os fãs apreciem os dois artistas.

E pode ser ouvida também no Youtube

Fontes: Rolling Stone, UOL, Globo, IstoÉ.

*José Alberto de Freitas Júnior é jornalista, crítico de música