Chorographia Mineira – Município e Comarca de Itabira – Distritos do Carmo e Ipoema
Mauro Andrade Moura
A Chorographia Mineira, da parte de Itabira, foi-nos legada pelo Monsenhor Júlio Engrácia nos idos de 1897 como correspondente do “Archivo Mineiro”.
Revisão parte 13 – Final
“Posição – História – Na grande cordilheira da Mantiqueira, que corre ao norte, tomando diversos nomes segundo as paragens, está a denominada Serra das Bandeirinhas, cuja verdade de leste chama-se Serra dos Alves, por causa dos primeiros e atuais moradores. Nessa vertente está o distrito do Carmo.”
Aqui o Mons. Júlio Engrácia equivocou-se, pois a Serra da Mantiqueira nasce nos Campos das Vertentes (Barbacena/Prados/São João Del Rey) e segue no sentido noroeste.
O Quadrilátero Ferrífero é o ponto inicial da Serra do Espinhaço, tendo o seu contraforte em Ouro Branco e Ouro Preto percorrendo o sentido norte, findando no Recôncavo Baiano. Esta é a serra, que para muitos é uma cordilheira, na qual Itabira e região estão localizadas. É a mais extensa do Brasil, que vai recebendo vários nomes em seu traçado por localidade, porém é sempre uma só, a Serra do Espinhaço.
Interessante notar essa toponímia, pois no centro de Portugal existe a Serra Espinhaço-cão.
“Tendo como sede o pequeno arraial do mesmo nome, no extremo norte do distrito, que limita com a Diocese de Diamantina, o distrito de Itambé, no Ribeiro do Onça que atravessa a rua. Está situado a 19º 28’ latitude sul e 22’de longitude oeste do meridiano do Rio de Janeiro, a 28km a noroeste da cidade de Itabira. Oprimido entre a serrania que o limita com o distrito do Riacho Fundo, comarca da Conceição do Serro e as montanhas que servem de contraforte aos picos de Itabira (Cauê) e Itabiruçu, forma uma longa nesga de 30km de comprimento e 18 de largura, quase paralela.”
Caminho Novo do Ouro
Neste termo e ponto do Quadrilátero Ferrífero é a passagem do Caminho Novo do Ouro, erroneamente denominada de Estrada Real.
O Caminho Novo foi aberto em 1715 por Gonçalo Roiz Paes Leme, filho do Governador das Esmeraldas Fernão Dias Paes Leme, e inicialmente findou em Conceição do Mato Dentro, antiga Conceição do Serro, pois era ali que este empreiteiro tinha sua data mineral.
Tendo chegado o Caminho Novo bem após, considerando que as lavras diamantíferas do Tejuco foram abertas posteriormente ao início desta estrada, ocasionaram-se, assim, grandes equívocos quanto ao traçado inicial original.
O certo é que Senhora do Carmo era ponto de parada obrigatório para quem descia do Tejuco até o porto, o mar, na capital da colônia que era o Rio de Janeiro.
“Quase no extremo oposto (sul), formou-se há pouco outro povoado com a denominação de Aliança, que está em projeto de futuro e é distante do antigo 24 km. Uma capelinha hoje demolida, com a invocação de N. Sa. do Carmo, na fazenda das Cobras, agora pertencente ao cidadão João Alves da Costa, deu nome e princípio ao povoado ao lugar onde existe. A entrada de mineirantes e fazendeiros é antiquíssima, mas nenhum documento encontrei que me pudesse servir de base para determinar-lhe a época.”
Aliança é hoje conhecida por Ipoema, também distrito de Itabira e com formação mais recente, por volta de 1900. Os registros iniciais indicam que Senhora do Carmo é mais antiga, o início da colonização foi por volta de 1735.
Ipoema era ponto de convergência para quem vinha de Itabira e localidades mais a leste e necessitavam chegar ao traçado do Caminho Novo, ou Caminho do Ouro, descendo uns no sentido de Barão de Cocais ao sul e outros de Taquaraçú de Minas a leste, nos vários ramais que foram abertos no decorrer dos séculos XVIII e XIX.
Temos na formação de Ipoema a abertura, por volta de 1860/70, da sesmaria “Turvo”, a qual foi aberta pelo João Dionísio da Costa Lage, filho de Manoel da Costa Lage, ambos com grande geração.
Esta sesmaria servia para a criação de gado bovino (vacum) a fim de fornecer carne a Sabará e Santa Luzia, localidades estas ainda grandes produtoras de ouro e, consequentemente, número considerável de moradores.
“As construções existentes ainda, os largos caminhos hoje intransitáveis e os comoros de cascalho e as valas de talho aberto, fazem supô-la contemporânea ao movimento aurífero de Itabira e, talvez, do terreno diamantino do Tijuco e Serro, pois que o caminho para essas paragens era por esse estreito vale, banhado ao longo pelo rio Tanque, tendo como farol a nua cordilheira de toda a parte visível e as alcantiladas serras da Lapa e Cabeça de Boi.”
“Até 1870 foi simples curato pertencente a Itabira. Por essa política bairrista que todos os anos revolvia a face geográfica da província, foi indevidamente elevada à categoria de freguesia, para a qual ainda hoje não está preparada e, quiçá, só merecendo um presídio policial. Povoado é inabitável; ausência quase completa de meios necessários para nele residirem pessoas que não estejam sempre dispostas a morrer e matar. O outro povoado do extremo oposto não lhe é superior. São seus limites ao norte o distrito de Itambé, cujo marco é o Ribeirão do Onça, como já dissemos, dentro do arraial e dividindo-o em duas partes; estende-se o Tanque abaixo até dividir com Itabira à distância de 18km em trajetória de oeste a leste. A leste limita com Itabira a 9km e a sul com o distrito de Bom Jesus do Amparo, com 39km; a noroeste com 15 km na serra dos Alves em Bandeirinhas com os distritos de Jaboticatubas e Riacho Fundo; a sudoeste com o distrito da União com 24 km na serra do Macuco. Seu clima é variado, sendo que nas beiras do Tanque é quente e na raiz da serra é frio, porque esta está de contínuo coberta de chuva ou garoa.”
Cabeça de Boi
A proximidade com Itambé do Mato Dentro, que nessa época era distrito de Morro do Pilar, faz certa confusão em acharmos que a vizinha cidade pertencia a Itabira, embora tendo passado por lá as primeiras famílias que aqui chegaram e ficaram, conforme consta nesta mesma Chorographia em suas primeira e segunda partes.
Em Itambé também foi aberta a sesmaria Cabeça de Boi na mesma época da sesmaria do Turvo, pois ambos proprietários eram irmãos, sendo a segunda pertencente a Joanna Francisca da Costa Lage e a segunda de João Dionísio da Costa Lage. Esses irmãos nasceram na sesmaria Barra do Cacunda em Ferros. Depois migraram para mais a leste devido à disponibilidade de terras nuas.
Ambas as sesmarias, Cabeça de Boi e do Turvo, como dito acima, foram abertas com o fim da criação do gado bovino (vacum).
Violência e abandono
“Etnografia – Os habitantes todos meninos e ainda oriundos das famílias exploradoras não excedam de 3.500 almas. Os 4/5 da população compõem-se de criolos e mestiços. A deficiência de educação e princípios religiosos faz com que seja um povo atrabilário, tendo-se a lamentar de contínuo numerosos crimes. Este distrito por si concorre com mais contingente para o rol de culpados da Comarca que os outros reunidos, afora os que lá ficam ocultos, abafados pelas autoridades locais ou e que, por costumeiros, não dão a devida importância.”
“Polícia fraquíssima ou nula, autoridades sem força moral, às vezes os próprios desordeiros, nenhuma vigilância das autoridades policiais da cabeça da Comarca e outras coisas que não vem ao caso ponderar, são as causas complexas de todo esse descalabro social. Inclinados a toda sorte de orgias e dados à vagabundagem e ao jogo, armados sempre e em toda a emergência até os dentes, não é difícil ver-se uma simples conversa tornar-se altercação e logo motivar ferimentos graves.”
Esta história da criminalidade do distrito do Carmo é notória, ainda perdurando alguns traços em tempos atuais, considerando ainda a distância da sede do Município e a dificuldade de deslocamento de qualquer guarnição policial. Hoje menos, claro, até pela chegada da pavimentação asfáltica das estradas que ligam esses distritos à Itabira e à capital mineira Belo Horizonte.
Educação
Faltou certo cuidado dos governos provincial e também republicano para a devida formação educacional nessas localidades e, com isto, um melhor entendimento entre os moradores.
Sempre houve muita dificuldade na manutenção das escolas em Senhora do Carmo, lá parecia ser a “finisterra”, a ponta do nada, tendo o panorama somente melhorado há pouco tempo com o Programa Nucleação de Escolas, sob a batuta do professor Otacílio D’Ávila, no governo do prefeito Li Guerra (1993/96).
Foi por essa época que se acreditou que viriam dias melhores para a educação nos dois distritos, com o investimento na Escola IpoCarmo, localizada entre Ipoema e Carmo, com o objetivo de ser uma escola técnica, no coração dos distritos.
Há quem critique o fato de o governo municipal de então ter abandonado a iniciativa do prefeito anterior, Luiz Menezes (1989/92), que teria conseguido junto ao Ministério da Educação autorização para abrir uma escola técnica federal agrícola no Posto Agropecuário.
Li achou melhor internalizar a escola, para ficar mais próxima da zona rural e dos futuros alunos. Sem apoio federal, já que o projeto original da escola técnica agrícola havia sido abandonado, a Ipocarmo infelizmente não foi para frente. E sucumbiu-se posteriormente.
Por negligência administrativa e falta de apoio político, a escola IpoCarmo foi fechada e abandonada. Hoje o terreno e os prédios construídos para abrigarem as unidades educacionais da escola agrícola foram vendidos pela Prefeitura em “leilão” à mineradora, que por sua vez doou, ou ainda irá doar, para que no local continue funcionando a sede administrativa do Parque Estadual do Limoeiro.
O atual prefeito de Itabira, Ronaldo Magalhães, disse em seu primeiro mandato, após fechar a IpoCarmo, que desejava transformar as instalações da escola em hotel, menosprezando a necessidade educacional nos distritos, bem como o ato de ter abandonado todo o investimento público naquela escola.
Perderam os cidadãos mais ao longe da sede do município. Como também perdeu o fomento agrícola que viria com a formação de jovens profissionais na área, o que poderia ter transformado a incipiente agropecuária do município em uma produção mais pujante e diversificada.
Perdeu também o cidadão residente na cidade, que poderia ter o suprimento de gêneros alimentícios mais fresco e a um preço menor e de melhor qualidade, quiçá até mesmo livre de agrotóxicos.
Geografia
“Sistema Orográfico – O distrito é o vale do Tanque, como um triedo, cuja uma aresta é o Rio e as duas outras as serras, como dizemos entre o povo semelhante a uma forma de açúcar. A cordilheira que segue do norte, limitando-o a oeste e que toma os nomes locais de Macuco, Alves, Bandeirinhas, está, nos pontos mais elevados, a 1700m acima do mar e é quase de cimos iguais, ao observador distante, com uma ou outra depressão. Nas vertentes do Tanque são pedras cortadas abruptas, inacessíveis, e dando apenas em lugares determinados, péssimas saídas. O planalto da serra é de campos gerais que aí começam para o sertão, fazendo a divisão das matas, de leste. Na margem direita do Rio há o mesmo sistema de serranias, mas nem tão altas, nem todas de penhascos; cobertas de matos ou capoeiras ou pastagens de capim meloso, vulgarmente chamado gordura, que é o resultado geral das terras esgotadas pela cultura ou pelo fogo. As estradas vicinais são más, sendo regular somente a geral que liga a Capital do Estado às regiões do norte.”
Senhora do Carmo já é região do Cerrado, nota-se na conformação das árvores e seus contorcionismos, também pela baixa estatura das mesmas.
Com exceção do estreito asfalto que liga Itabira a este Distrito, as estradas vicinais continuam sempre ruins, pois no verão chuvoso é lama que praticamente não dá para transpor e no seco inverno é poeira sem fim. Ficam assim, em grande parte, os moradores privados de uma logística eficiente para o ir e vir como direito assegurado pela Constituição Federal, como também para levar a sua produção para comercialização.
Se fosse para valer o discurso dos políticos, e se fosse aplicado de maneira correta os recursos públicos, as estradas vicinais nos dois distritos não haveriam de ser tão precárias como se apresentam. E não é só entre os dois distritos, sendo comum o desleixo também nas demais estradas vicinais de todo o município.
Alguns traçados são instransponíveis por automóveis, somente sendo superados por veículos tracionados, ou de tração traseira ou todo terreno, mas com boa parte do que se produz ainda tendo que ser transportado no lombo de animais ou levado a pé pelos precários “caminhos” deste lado do Mato Dentro.
Rio Tanque, cachoeira Alta, Serra do Quibundo, Turvo e Sarapantão
“Sistema Hidrográfico – O distrito é atravessado pelo Rio Tanque em seu próximo começo, sendo o seu maior braço dentro do território do lado das Serras a oeste. Cada fenda de pedra, desde o capão dos currais na serra das Bandeirinhas, é saída de um canal e se repetem por tal forma que a 6km já o rio é dificilmente vadeável na estação seca e na chuvosa nunca, porque além de crescer muito de leito, é este formato de pedras soltas corridas da Serra, que oferecem grande período aos transeuntes. Há no lugar denominado Macuco uma imponente queda d’água de mais de 200m de altura chamada Cachoeira Alta; é formada pelo braço que nasce na vertente de leste da serra da Mutuca, divisa do distrito da União, município de Caeté e, correndo pelo planalto da dita serra, engrossa-se com muitos córregos e vem despenhar-se a prumo a toda altura da serra, fazendo grande estrondo; engrossando pelas chuvas; é uma paisagem horrivelmente encantadora. No lugar denominado Duas Pontes, porque as há ali, reúne-se ao outro braço que nasce das vertentes da Serra do Quibundo e Serrinha e daí vai recebendo mais tributários como o Turvo, o Sarapantão, O Salgado e outros menores, até receber o Onça, onde termina o distrito à margem esquerda, continuando a receber, à direita, outros que não geograficamente apreciáveis.”
O rio Tanque escorre-se de serras mais altas e mais a leste, afunilando-se nas barras do Carmo, embora o mesmo, a meu ver e entender, já deva ser chamado de ribeirão, tal é o baixo nível das águas comparando com priscas eras.
Agora, por tal disparate que é, o governo municipal de Itabira insiste em retirar água do “ribeirão” do Tanque, esvaído que já se encontra por todas as mazelas e exploração em excesso de suas margens e curso natural d´água.
Todas as administrações municipais nas últimas décadas não fizeram o dever de casa que era o da preservação e de se fazer o melhor uso de nossos cursos d´água, a fim do fornecimento à sua população. Infelizmente, ainda hoje o rio Tanque nasce limpo em nossas serras e deixa o município poluído pelo esgoto que ainda não é tratado e pelo assoreamento advindo do deslizamento de terra das estradas e das margens desmatadas e com erosões.
Hoje, querem formar uma nova represa ou barragem do “ribeirão” do Tanque para essa extração da água e envio às casas dos moradores na sede do Município, esquecendo os estudiosos engenheiros que temos mais abaixo no curso da água a represa de Dona Rita e sua usina hidrelétrica abandonada pela empresa estatal de energia, a CEMIG.
Se é para extrair forçosamente água do Tanque, com a sua transposição, então que minimizem o custo e façam o bom e devido uso da represa de Dona Rita, num bom acordo, tipo consórcio com o vizinho município de Santa Maria, na divisa entre os dois municípios.
E ainda de quebra, coloquem a usina para novamente gerar energia elétrica, com o fim de bombear a água para o centro das duas cidades, para que se tenha um custo operacional mais baixo.
Para o leitor que queira se informar melhor sobre essa questão da água em Itabira, sobre o seu mau uso, recomendo a leitura de reportagens, artigos e crônicas publicados nesta revista eletrônica Vila de Utopia.
Economia
“Cultura – Os povoados não correspondem à força agrícola. Os terrenos pela cabeceira são arenosos e de má qualidade, com vegetação própria à altura do solo, enlezada e monótona; mas avizinhando-se ao Rio é fértil, si bem que já em grande parte esgotada e reduzida a pasto.”
“Há bons fazendeiros; cultivam cereais, cana, mandioca, algum café e, não obstante o mal comum que oprime em geral a lavoura, a falta de braços, ou antes meio de obrigar os desocupados ao trabalho. Há movimento relativo e o mercado de Itabira e Sabará tem sempre produtos exportados do Carmo. A lavoura média dos pequenos fazendeiros, mas que arroteiam terrenos próprios, é a que engrandece este distrito. Tem quase geralmente desaparecido as matas e, si algumas existem, é por não serem vantajosas aos cereais e cana: mesmo as capoeiras, como já refleti, são poucas, mas a fertilidade do terreno em nada diminuiu, apenas exige do lavrador maior esforço. Com o devastamento das matas desapareceu a fauna e a flora que abundam em nossas florestas quando virgens. Em quadrúpedes há os pequenos animais comuns a todo nosso Estado na zona da mata, no gênero felina há onça vermelha pequena e aparece de passeio uma outra vez uma canguçu, visitando os pastos e dando grande prejuízos; na serra há veados galheiros.”
A terra é fraca de nutrientes, a água é pouca, embora disseminada nos terrenos, sendo, assim, mais difícil a exploração agrícola nestes campos e atualmente os mesmos estão praticamente tomados por meras pastagens para o gado bovino.
Outro fator preponderante no caminho de Itabira ao distrito de Senhora do Carmo é a extensa monocultura no plantio de eucalipto e pinus pela grande e perdulária mineradora de ferro de nossa cidade, a Vale, em que, embora já tenha assinado um acordo com o Ministério Público em 1986 para a eliminação destas árvores esdrúxulas, a mesma pouco fez nestas décadas para eliminação de mais este estorvo com o nosso meio ambiente.
“Em ornitologia há também as espécies comuns, e aparecem raras vezes na serra emas ou avestruzes, perdizes, há com mais elevados. Há frequentes tempestades e saraivas, causando grandes danos. Os ventos do norte são quase sempre funestos furacões.
O meio ambiente por aqui foi totalmente transfigurado. Mata nativa quase não há e as remanescentes foram absorvidas pela mineradora Vale na sua obrigação que seria a de formar matas nativas reflorestadas nos muitos hectares mal utilizados como pasto para o gado e animais.
Além da flora perdida, peixes quase nunca houve e a fauna foi sendo eliminada ao longo dos séculos, tendo este fato aumentado sobremaneira após a abertura da extração da mineração de ferro – e dessa “cultura” funesta de cortar matas nativa para plantar pinus e eucalipto.
Recursos houve e muitos. Recursos ainda há, menos que seja, para o revivamento desta natureza local perdida, porém ainda não esquecida.
Por Pe. Júlio Engrácia, correspondente do Archivo Público Mineiro
Itabira, 30 de Janeiro de 1897.
Atualização e contextualização
Por Mauro Andrade Moura
Itabira, 03 de Fevereiro de 2020
Querido Mauro Andrade, o que recebe espírito do Andrade e do Penna para representá-los no regaste e registro da história da Cidadezinha. O padre Júlio era muito conhecido na corte e recebeu o apelido de “O padre tagarela”, tenho duas fotos dele que oportunamente lhe envio.
Santo Anffonso da Aliança, assim era o nome de Ipoema, ficou melhor de nome, IPOEMA, “tem o céu azul, uma coroa e um diadema”. No ano dos 1800, leio nos jornais velhos, tentaram as escolas primarias femininas e masculinas, mas tinham problemas com a contratação de professorres que depois de um tempo contratados pediam transferência para lugares menos roça. E isso durou até o século 20, tive essa experiência como estudante da Escola Estadual Professor Manoel Soares, trampolim das moças de boa família do Itambé, que depois partiam para BH. Recebi a pior educação do mundo na escola Manoel Soares, professoras despreparadas viam e iam e assim a gente ficava sem escola e sem contar a brutalidade das tais mestras, um horror que meu corpo nunca pode esquecer. Enquanto em Itabira do Matto Dentro recebia o professor de latim, que também não ficavam por muito tempo. Pra que educar o Povo? A elite tinha medo da concorrência.
Acabo de receber a notícia de que o casarão onde viveu e teve todas as filhas e filhos, a professora d. Cira Lage Pinto Coelho, desabou. Aproveito a oportunidade pra sugerir uma homenagem a essa incansável educadora, Cira Lage, mãe de primeira vereadorA de Itabira, a Regina Pinto Coelho.
Pois é, Cristina da Aliança, a educação antigamente era coisa dificílima e nas pontas era praticamente impossível.
Isso, para mim, é o resquício do tempo em que os jesuítas tinham a primazia aqui na colônia dalém mar.
Que pena o desabamento desse casarão, é caso mesmo de até ir lá e fazer o registro fotográfico.
Vamos tentar levantar mais informações a respeito da professora D. Cira, grande figura e contadora de causos, que nunca negava uma boa prosa.
Grato pela leitura,
Mauro
Perfeito Dr. Mauro Andrade, sou descendente da Joanna Francisca que era irmã da Ana da Costa Lage. O Valério Baptista Dias Duarte, filho da Joana e do João Baptista migraram para Jaboticatubas no século 19. Valério era casado com sua sobrinha Deolinda Dias Lage.
Abraço
João Marcelo
Muito bem, João Marcelo.
Encontrei o registo de casamento do Valério com a sobrinha Deolinda em Itambé, bem como dos filhos em Jaboticatubas.
Joanna Francisca era filha do Manoel da Costa Lage e Maria Bárbara Bittencourt Perestrelo de Noronha, nascida em Itabira e casou-se com o João Baptista Dias Duarte em Ferros e depois migrou para Itambé do Mato Dentro a fim de abrirem a sesmaria “Cabeça de Boi”, tendo falecido ali.
Grato pela leitura,
Mauro
Estou impressionado Mauro, pensei que eu conhecia muito, vou lhe enviar um email.
Como a genealogia é maravilhosa Mauro, o Manoel da Costa Lage se casou com a Maria Bárbara Bittencourt Perestrello de Noronha sendo ele descendente do Bartolomeu De Perestrello, l Capitão-Donatário Hereditário da Ilha de Porto Santo, me parece um reencontro.
Interessante, João Marcelo.
Ainda não fiz esse caminho de retorno dos antepassados do nosso lado Lage até a Madeira, gostei de saber.