Centenário de Aníbal Moura

Mauro Andrade Moura

Nesta segunda-feira (23), Aníbal Moura (1918/2010), meu pai, fosse ainda vivo, completaria 100 anos. Pena que a cidade de Itabira do Mato Dentro, com tantos “estrangeiros”, não se lembra de seus grandes vultos históricos, daqueles que lutaram tenazmente para tentar reverter a anunciada “derrota incomparável”, essa que virá, mais cedo ou mais tarde. A cidade agora já sabe que o fim de suas minas está bem próximo no horizonte temporal de exaustão, já que essa riqueza não é eterna mesmo enquanto dura – e dure.

Aníbal Moura em uma de suas últimas fotos

Publico aqui neste site uma homenagem a esse personagem histórico que muito lutou por Itabira. Aníbal Moura deixou um legado que jamais esqueceremos: o altruísmo e o amor a Itabira. Por Itabira ele dedicou a sua vida, reivindicou os seus direitos, jamais atendidos, ainda que para alguns, os seus desafetos, era uma luta contra moinhos e ventos.

Com amigos, após uma partida de futebol no Rio

Hoje, quando a mineradora Vale anuncia que só tem mais dez anos de minério em Itabira, todos cismam com a “derrota incomparável”. E pode ser tarde pois essa derrota, agora se sabe, vem a galope.

E os itabiranos seguem de braços cruzados, acreditando ingenuamente que a empresa permanecerá aqui em Itabira mesmo depois de exauridas as suas minas. Conversa para inglês ver, ou melhor, para o itabirano ingênuo, ou propositadamente ingênuo, acreditar.

Pois é essa ausência do meu pai que ainda dói e faz falta à nossa cidade. Assim como dói a ausência da riqueza que deveria ter aqui ficado, pelo que foi levado, transportado no maior trem do mundo desembestado.

Mas se de tudo fica um pouco, fica essa lembrança boa de Aníbal Moura. A história de luta do meu pai é registro que não se apaga. De sua luta fica o exemplo, embora pouco tenha sido retornado para Itabira pela falta de sensibilidade dos homens públicos que governaram e governam a cidade, como também da grande empresa madrasta que pouco, muito pouco, retornou à cidade que tão bem a acolheu –e a enriqueceu para se tornar uma das maiores mineradoras do mundo.

Anibal Moura e Lídia, no Rio

Se de tudo pouco ficou em benefício dessa comuna tão desorganizada, tão garimpeira no sentido de tudo tirar e pouco deixar para as gerações futuras, há sempre – e eternamente, que se questionar: que sustentabilidade é essa da mineração, que nada deixa para as gerações futuras?

Será mesmo uma atividade sustentável, que respeita o meio ambiente e promove justiça social com uma justa distribuição de renda? Aníbal Moura ousou dizer que não, mesmo num tempo em que essa palavra “sustentabilidade” não estava na moda.

Ao contrário da mineração, que muito pouco deixou, ou deixará, Aníbal Moura deixou o seu legado de luta – e isso nunca morre, ainda que tentem sob todas as formas impedir que prossiga na lembrança de seus habitantes.

Aníbal Moura é essa lembrança tonificadora de luta. E assim, como as “coisas findas, muito mais que lindas”, as boas lembranças de sua luta ficarão, ainda que tentem apagá-las para sempre.

Abaixo, publico um poema que compus em sua homenagem. Foi mesmo um Fado, considerando que Amália Rodrigues faria aniversário também hoje. E o meu pai era grande fã dela. E dele, mais do que seu filho, tornei-me também seu fã.

Fado ao meu pai, meu grande amigo

Aníbal Moura em visita com os netos à antiga fazenda do avô materno Juca do Cipó, na Serra do Cipó

O meu olhar,

o meu olhar chora ao te ver.

O quão distante estará de mim.

 

O meu olhar estará perdido nestas serras,

o meu olhar estará desiludido por esta vida,

por entre vidas.

 

Estarei aqui com lembranças de uma geração,

com a saudade de um tempo que não temos mais,

tão distante.

 

O teu olhar se desfaz em névoas.

Se desfez por todo estes dias,

por este tempo.

 

Caminhou.

Caminhamos.

Caminharei só!

 

O teu olhar se perde

em meu olhar…

 

 

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12 Comentários

  1. Prezado Mauro, não sei se o conheço mas o Sr Anibal Moura eu conhecí bem. um atuante, lúcido, combativo, um Itabirano verdadeiro.
    Nos anos 2001/2004, período em que fiz parte do grupo de vereadores, tive a grata oportunidade de conviver com ele durante as reuniões e eventos politicos que ocorreram na camara. Arrisco a dizer que sentia um certo respeito dele para comigo o que me dava forças na execução do meu trabalho.
    Quero portanto me congratular com você e seus familiares na passagem dessa data que lembra mais um dos ilustres cidadãos sangue Itabirano que deve ser lembrado, sempre, para que se preserve a memória de nossa Terra, riqueza que jamais se esgotará.
    Moisés!
    Parabéns, Anibal Moura, parabéns, Itabira!

    1. Então, Damião.
      Nos conhecemos, mas falta oportunidades ao diálogo.
      Meu pai dizia a seu respeito que era grande vereador, com boas propostas e debates no plenário.
      Grato pela leitura e comentário,
      Mauro

  2. Parabéns, Mauro! Senti uma sintonia maravilhosa ao ler sobre Aníbal Moura. Sim, descubro uma luz que me desperta para a verdade. Um grande ser humano, certamente deixaria um legado para nós, simples mortais. E deixou! Seu filho ilustre, que segue seu exemplo. Você Mauro! Que maravilha que nossos caminhos se cruzaram. Me sinto abençoada por receber esse presente tão significativo em nossas vidas. Você veio para dar continuidade em nossos tão almejados objetivos. Portanto deixo a minha homenagem ao seu pai, que pude ver, foi um grande ser humano! Parabéns para essa família maravilhosa que o honra com amor!

    1. Oi, Dra. Maria da Glória.
      Meu grande professor de história e filosofia foi, sim, meu pai.
      Tinha o maior cuidado em pegar algum livro da enciclopédia e nos chamávamos para apresentar algum país distante ou fatos da história e lia para os filhos ainda iletrados. Daí o meu gosto pela leitura e pesquisa familiar e histórica, que hoje nos traz novos conhecimentos de outros troncos genealógicos de nossa origem.
      Também foi ele meu grande professor de direito, com conhecimento da vida, era O Rábula.
      Ademais, foi ele quem mais nos transmitiu os antigos costumes e tradições da família, tais como:
      -chegou em casa, lave as mãos; e
      -nunca aponte o dedo ao Céu ou a alguém;
      são mesmos os costumes milenares judaicos preservados na família.
      Na filosofia, era um otimista incorrigível que sempre buscava dias melhores para a nossa terra, nossa gente.
      Grato pela leitura e primoroso comentário,
      Mauro

  3. Justa homenagem ao grande e inesquecíveis Aníbal Moura.
    Por toda sua luta, para preservar as riquezas e imortalizar a querida Itabira.
    Parabéns Sr Aníbal, por defender essa nobre causa.

  4. Mauroqueridoamigo, querido. Saudade do Aníbal Mauro, seu pai. Pessoa de valor, que se expôs ao mais perigoso dom do ser humano, a FALA. Mas, discordo quanto ao altruísmo, assim como na saga de Joana D’Arc (a que foi queimada pela Igreja Católica) não é altruísmo e sim Política, ele era Forte e Iluminado, como a Joana D’Arc, fez muito mais que altruismo…. manifestação de quem tem dentro de si o sentido de nação, portanto sentimento civil. Tenho respeito e agradecimento da presença do senhor Aníbal MauroAndrade-Moura na cidade porque ele nos defendeu incansavelmente. E, especialmente nos deixou a sua presença, Mauro. PS. E o mapa-poema de amor ao Cauê, heim?

    1. Olá, Cristina.

      Ainda bem que nosso amigo foi dos maiores nacionalistas que conheci e bem pessoalmente.
      Para ele, no seu sentido da Utopia, a nação, o país, a cidade sempre deveria vir primeiro, como sempre demonstrou isto com vivacidade.
      O mapa encontra-se aqui guardado e aguardando um dia ser trabalhado com todos os outros documentos a serem publicados.
      Grato pela estima e leitura,
      Mauro

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