CAF lança segunda fase do programa de Afroempreendedorismo na América Latina durante o Festival Feira Preta
Foto: Reprodução
Nova etapa terá cerca de 500 mil dólares investidos, além da ampliação para sete países ao incluir Equador e Uruguai, e inaugura programas de formação e apoio a negócios liderados por pessoas negras
O Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) anunciou, nessa sexta-feira (28), durante o Festival Feira Preta, em Salvador, o início da segunda fase do programa de fomento ao Afroempreendedorismo na América Latina. A iniciativa teve sua primeira fase em 2024, com o lançamento de pesquisa sobre o perfil dos empreendedores negros da Argentina, Brasil, Colômbia, Panamá e Peru conduzida pelo Banco CAF, Instituto Feira Preta e Plano CDE.
A nova etapa marca um avanço estratégico: além de atualizar e expandir o levantamento, que passa a incluir Equador e Uruguai, o CAF inicia agora a implementação de programas de formação junto ao Instituto Feira Preta, que consiste no fortalecimento de redes e apoio direto a negócios liderados por pessoas negras em toda a região. Para viabilizar essa fase, o CAF investirá US$ 250 mil (equivalente a R$ 1,3 milhão), enquanto a Feira Preta entra com mais US$ 250 milem contrapartida, incluindo capacidade instalada, metodologia e expertise acumulada ao longo de sua trajetória.
O anúncio foi realizado na programação do Preta Talks, série de painéis e palestras correalizados pelo Festival Feira Preta e a NIVEA e reuniu representantes do CAF e especialistas do ecossistema afroempreendedor: Eddy Bermúdez (CAF – Colômbia), Yan Ragede (Dapom – Salvador), Yannia Sofía Garzón Valencia (Economista – Colômbia) e Professor Hélio Santos (Economista – UFBA/OXFAM Salvador), com mediação de Danielle Almeida (Coordenadora da Pesquisa – Feira Preta).
“A segunda fase nasce para responder aos desafios que identificamos na pesquisa. Vamos formar, apoiar e conectar empreendedores de todos os países envolvidos. Com Equador e Uruguai, damos mais um passo rumo à construção de uma afroeconomia latino-americana sólida, inovadora e integrada”, afirma Eddy Bermúdez, diretor de Diversidade do Banco CAF.
O que foi a primeira fase da pesquisa
Lançada no final de 2024, a pesquisa inédita mapeou o perfil e os desafios de empreendedores negros em cinco países da América Latina: Brasil, Argentina, Colômbia, Panamá e Peru. O estudo ouviu cerca de 3 mil de afroempreendedores por meio de abordagens quantitativas e qualitativas, revelando dados fundamentais para orientar políticas públicas, organizações de apoio e instituições financeiras. Entre os principais achados:
- Acesso ao crédito é o maior obstáculo: no Brasil, 44% dos pedidos feitos por empreendedores negros foram negados, frente a 29% entre brancos.
- Quase 60% dos negócios analisados foram criados durante a pandemia, impulsionados pela busca de renda.
- Mulheres compõem o maior grupo de afroempreendedores, no ecossistema Afro Latino essa parcela chega a 80% dos entrevistados. Entretanto, 48% dos empreendimentos liderados por mulheres fatura até um salário mínimo
- A pesquisa revela forte dimensão identitária: muitos negócios surgem para fortalecer comunidades negras, resgatar ancestralidade e oferecer serviços culturalmente referenciados.
- Empreendedores negros demonstram forte engajamento socioambiental: 8 em cada 10 brasileiros atuam alinhados a práticas ESG.
- Em vários países, afroempreendedores enfrentam ambientes bancários hostis, falta de garantias e discriminação racial na etapa de crédito.
Trata-se do primeiro levantamento regional sobre afroempreendedorismo, construído em parceria entre CAF, Instituto Feira Preta e Plano CDE.
O que traz a segunda fase
Com o anúncio feito em Salvador, o CAF avança para a fase de implementação das recomendações geradas pelo estudo. Entre as novas iniciativas estão:
- Programas de formação para capacitar afroempreendedores e apoiar soluções para os desafios levantados na primeira etapa;
- Ampliação da pesquisa para Equador e Uruguai, alcançando agora sete países, com previsão de expansão para 10;
- Criação de uma rede latino-americana de afroempreendedores, fomentando conexões, trocas e oportunidades econômicas entre Brasil, Argentina, Colômbia, Peru, Panamá, Equador e Uruguai;
- Apoio ao desenho de políticas públicas a partir de evidências consolidadas, contribuindo para que governos nacionais e locais ampliem ações de equidade racial.
Por que lançar em Salvador e na Feira Preta
Durante o anúncio, Eddy Bermúdez, diretor de Diversidade do Banco CAF, destacou a relevância simbólica e estratégica de realizar o lançamento no maior festival de cultura negra da América Latina e na cidade com a mais forte presença negra fora do continente africano:
“Escolhemos Salvador porque esta cidade guarda uma história poderosa para a população negra e representa um dos ecossistemas mais vibrantes do afroempreendedorismo no mundo. Fazer esse anúncio na Feira Preta, que há anos impulsiona negócios, cultura e inovação de pessoas negras, significa fortalecer uma aliança que já está transformando a região. Aqui se reúne o ambiente perfeito para falar de oportunidades, redes e desenvolvimento.”
A fundadora do Festival Feira Preta, Adriana Barbosa, também ressaltou a convergência entre o evento e o trabalho do CAF:
“O Festival Feira Preta sempre foi um espaço de construção de narrativa, mercado e protagonismo para pessoas negras. Ver o CAF ampliando esta pesquisa e transformando seus resultados em ações concretas de apoio aos negócios é um movimento que dialoga diretamente com o que fazemos há mais de duas décadas. Pesquisa, dados e políticas públicas precisam caminhar junto com cultura, mercado e inovação, e é isso que esta aliança representa.”
Com a nova etapa, a parceria entre o CAF e o Instituto Feira Preta reafirma o compromisso das instituições com o fortalecimento da economia negra latino-americana e com a promoção da equidade racial em toda a região, agora combinando dados, formação, redes e políticas públicas para transformar o cenário de afroempreendedorismo no continente.
O Festival Feira Preta Salvador é realizado pelo Instituto Feira Preta e apresentado pelo Ministério da Cultura, Nubank e C&A, com apoio institucional dos governos federal (via Lei Rouanet), estadual e municipal (Prefeitura de Salvador e Secretaria de Cultura e Turismo – Secult) e Sebrae, além do patrocínio de NIVEA, Assaí Atacadista, Instituto Assaí, Pinheiro Neto Advogados e apoio da L’Oréal, Consulado Britânico, Consulado da Mulher, Socicam – Terminal Turístico Náutico da Bahia (TTNB), Brazil Foundation e MARS.
Sobre o Instituto Feira Preta
O Feira Preta é um ecossistema estratégico focado no fortalecimento econômico cultural da população negra na América Latina, em especial no Brasil. “Somos um negócio de impacto, que dispõe de uma tecnologia social própria e que atua de forma sistêmica com diferentes programas, projetos e ações, criando um ambiente propício ao empoderamento, crescimento e prosperidade econômica de pessoas negras a partir da valorização de conhecimentos ancestrais que contribuem para a reconstrução de imaginários e a construção de novos futuros.” Saiba mais por meio do site: https://feirapreta.com.br/









