“Burle Marx Tapeceiro” apresenta faceta pouco conhecida do consagrado paisagista-artista
Tapeçaria – 1987
Foto: Romulo Fialdini
Livro reúne a produção de tapeçarias materializadas ao longo de quatro décadas, de 1950 a 1980
Fruto de uma extensa pesquisa do autor sobre as experiências de Burle Marx com a arte têxtil, a edição é o primeiro estudo dedicado unicamente às tapeçarias do artista, feitas principalmente em lã natural e teares manuais de alto liço (fio de metal com um elo, usado para tear) por ateliês nacionais e internacionais, reconhecendo Burle Marx como um pioneiro da tapeçaria moderna brasileira, sendo, inclusive, o primeiro brasileiro a fazer uma tapeçaria moderna em Aubusson, na França.
O livro nasce do desejo do autor de dar visibilidade ao domínio da arte e da técnica de Burle Marx que, até hoje, não recebeu a devida atenção.
Em 2024, completam-se 30 anos da morte de Burle Marx e, em homenagem à história do paulistano pouco difundida, a publicação resgata a produção de tapeçarias materializadas pelo artista ao longo de quatro décadas, entre os anos 1950 e 1980, passando pelo início da trajetória têxtil de Burle Marx, na região de Aubusson, na França — polo de ateliês de tapeçarias que teve diversos artistas convidados a se expressar por meio da técnica tecelã, entre eles, Calder, Picasso e Burle Marx —, até os registros da maior parte de sua produção, que ocorreu em São José dos Campos.
Trajetória na arte têxtil
O livro é dividido em três capítulos: “ingresso na arte têxtil”; “trabalhos em Brasília”; e “parcerias com Clemente Gomes”.
O primeiro capítulo aborda o início da trajetória do paisagista na tapeçaria, especialmente por meio do encargo comissionado em 1953 pelo empresário Ernesto Waller, no contexto de uma onda de interesse pelas tapeçarias modernas francesas, que chegaram ao Brasil em meados da década de 1940, após a atuação pioneira de Burle Marx em Aubusson, na França.
O capítulo seguinte, “trabalhos em Brasília”, destaca as encomendas realizadas para os órgãos governamentais e residências oficiais da capital federal, impulsionadas pelo diplomata Wladimir Murtinho, personagem fundamental na projeção internacional de Burle Marx e na contratação, em 1965, da grande tapeçaria do Palácio Itamaraty e do Congresso Nacional.
Uma das histórias exploradas neste capítulo versa sobre a tapeçaria encomendada a Burle Marx para ornamentar o Salão Negro do Congresso Nacional, e que hoje integra o acervo do Museu do Senado. Medindo 4,83 de comprimento por 3,28 metros de altura, a peça foi urdida em 1973 e passou por um cuidadoso restauro em 2023, após ser danificada durante os ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Por fim, o último capítulo, “parcerias com Clemente Gomes”, narra a relação profissional entre o artista e o empresário, que dirigiu um próspero conglomerado de empresas originado a partir da Tecelagem Parahyba. Essa parceria acarretou a criação da Indústria de Trabalhos Manuais (ITM), em São José dos Campos, no estado de São Paulo, que funcionou como ateliê para a confecção do mais extenso elenco de tapeçarias do paisagista-artesão — entre a segunda metade da década de 1960 e o fim dos anos 1980.
Burle Marx Tapeceiro apresenta um panorama dos painéis têxteis, cartões de produção, maquetes, estudos e obras de referência do artista, de modo a evidenciar o papel que Burle Marx teve também na tapeçaria moderna brasileira, para além da arquitetura e paisagismo.
Sobre Guilherme Mazza Dourado
Guilherme Mazza Dourado é arquiteto e historiador de paisagismo, arquitetura e artes visuais. O pesquisador tem pós-doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2016), é doutor (2009) e mestrado (2000) pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Foi articulista e ensaísta da revista Projeto, além de enviado especial da publicação no Brasil e no exterior (1988-1996).
Entre outros livros impressos, é organizador de “Folha em Movimento. Cartas de Burle Marx” (Luste Editores, 2022), autor de “Belle Époque dos Jardins” (Ed. Senac SP, 2011) e de “Modernidade Verde. Jardins de Burle Marx” (Ed. Senac SP/Edusp, 2009), os três laureados com o 1º Prêmio na categoria de Trabalhos Escritos Publicados do Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, nas edições de 2009, 2011 e 2022, e o segundo também finalista na categoria de Arquitetura e Urbanismo do 54º Prêmio Jabuti, em 2012, e coautor de “Oswaldo Arthur Bratke. A arte de bem projetar e construir” (PW Editores, 2012).
Sobre a Luste Editores
A Luste Editores é um Atelier Editorial & Multimídia com 14 anos de atuação no mercado editorial brasileiro, especializado em publicações especiais que abrangem temas diversos. Com um forte compromisso em fomentar a arte, a cultura e o trabalho de artistas contemporâneos, a Luste desenvolve projetos criativos autorais e sob medida, destacando-se em colaborações com grandes marcas, como a comemoração dos 45 anos da Ellus e dos 110 anos da marca de açúcar União.
A editora é reconhecida pela criação de livros-objeto que ajudam a consolidar novos posicionamentos de mercado, registrando e celebrando legados através de projetos que aliam arte e conteúdo. Cada trabalho é desenvolvido com tempo e dedicação, visando sempre a entrega de projetos de alta qualidade, com um olhar atento ao valor atemporal do livro como registro do passado, presente e futuro.
Sobre a Arte132 Galeria
Fundada em 2021, por Telmo Porto, o propósito da Arte132 é expor e manter em acervo artistas brasileiros reconhecidos.
Nascido em 1955, no Rio de Janeiro, Telmo viveu boa parte da vida na cidade de São Paulo. Formou-se engenheiro civil ferroviário, professor e doutor pela Escola Politécnica da USP, onde lecionou por mais de 30 anos. Exerceu a profissão de forma notável, tanto no âmbito público quanto privado, até o final de sua vida. Paralelamente à engenharia, foi amante e profundo conhecedor das artes, integrando conselhos de grandes instituições culturais, fomentando e participando ativamente da vida cultural de São Paulo.
Durante 30 anos, atuou como Patrono do Museu de Arte Moderna de São Paulo [MAM-SP]. Nessa mesma instituição, exerceu o cargo de diretor administrativo, entre 2019 e 2022, ajudando a consolidar uma nova fase do MAM-SP.
Membro do Conselho Deliberativo do Museu de Arte de São Paulo [MASP], no período entre 2014 e 2022, participou ativamente das atividades do museu como integrante do Comitê Cultural e do Comitê de Infraestrutura. Foi também diretor no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia [MuBE], nos anos 2000. Ao longo de sua vida, Telmo realizou incontáveis doações de obras de arte para esses importantes museus e, principalmente, à Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A Arte132 Galeria é fruto [e legado] dessa grande trajetória. Telmo apoiava diretamente artistas e músicos em suas produções e entendia que a arte de um país e de um período não é constituída apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do mundo e do homem em determinado momento. Dessa forma, ele possuía particular interesse na produção menos conhecida dos mais reconhecidos, além da produção dos pouco consagrados pela História da Arte Brasileira, mas que demandam [e merecem] uma revisão.
Sua intenção inicial sempre foi privilegiar, mas sem exclusividade, as realizações mais autorais dos artistas, menos sujeitas às limitações materiais de execução ou de sobrevivência econômica dos autores. Nas suas palavras, “pretendemos reincluir nomes no cenário das galerias e instituições, sempre com orientação curatorial e escolhas motivadas.”
Até o momento, a casa serviu como um ponto de conexão entre vários tempos e as muitas manifestações artísticas. Das artes visuais à música, a Arte132 é um lugar de encontros, diálogos e descobertas onde todos são bem-vindos.