Brasil vai ter uma “tempestade perfeita” com surtos do novo coronavírus, gripe e dengue, alerta epidemiologista
O secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, o epidemiologista Wanderson de Souza, diz que o Brasil irá enfrentar nos próximos meses o que chama de “tempestade perfeita”, com o risco de agravar a saúde da população com o advento de três epidemias simultâneas – e que irão sobrecarregar ainda mais os hospitais, prontos-socorros e demais unidades de saúde.
Segundo ele, o pico da propagação do novo coronavírus no país terá início em abril – e irá coincidir com o período do ano em que duas outras doenças se espalham com muita força.
“Teremos, nos próximos meses, uma tempestade perfeita, com o avanço do novo coronavírus, que é novidade, com a influenza (gripe) chegando com sua carga máxima e com o pico também da dengue”, adverte, lembrando que todo cuidado é pouco para não contrair uma dessas doenças.
“Não saiam de casa e aproveitem para limpar os quintais e eliminar os focos do mosquito da dengue. E vacinem de acordo com o calendário”, recomenda.
Em Itabira, segundo informa a assessoria de imprensa da Prefeitura, a vacina contra a gripe se esgotou em todos os postos de saúde. A previsão é de o Ministério da Saúde só repor os estoques a partir de quarta-feira (1), mas sem garantia de que ocorra nesta data.
Curva da epidemia
A curva da contaminação no Brasil pelo novo coronavírus deve mesmo ocorrer em abril. “Estamos ainda no início da epidemia. Como epidemiologista, digo que é precoce avaliar o impacto das medidas restritivas no momento”, afirma Wanderson de Souza, referindo-se às medidas de isolamento e distanciamento social. “Mas não tenho dúvida de que essas medidas já estão surtindo efeito.”
O epidemiologista recomenda à população manter o distanciamento social para quem ainda não tem a doença. E o isolamento domiciliar para quem já contraiu o vírus, mas que não se encontra em estágio crônico da doença.
Segundo ele, só deve procurar atendimento hospitalar o paciente que estiver com sintomas mais graves da Covid-19 (febre alta, falta de ar, tosse seca, dores de garganta e no corpo, cansaço).
Para impedir o avanço da doença, o governo federal fechou, por 30 dias, todas as fronteiras do país, que é para impedir o desembarque de estrangeiros nos portos, aeroportos e nas fronteiras terrestres, propagando ainda mais o vírus da Covid-19.
Dengue propaga pela cidade e moradores precisam cuidar da faxina dos quintais
Um morador do bairro Pedreira do Instituto, um dos mais populosos da cidade, fez contato com a redação deste site relatando a situação vivida em casa. De acordo com ele, que pede para não ser identificado, na semana passada a sua mulher se apresentou com um quadro febril.
Procurou atendimento no Pronto-Socorro Municipal, quando teria sido diagnosticada como tendo zika, doença que juntamente com a dengue e chikungunya são provocadas pela picada do mosquito Aedes aegypti.
“Mesmo tendo sido diagnosticada, ela não pôde ser internada no hospital por causa da pandemia do coronavírus”, relata o morador. “Disseram para ela ir para casa e receitaram o medicamento, que não foi encontrado na rede municipal.”
Como ele é autônomo e está sem renda, afastado do trabalho para não sair de casa, só conseguiu adquirir o medicamento com ajuda de amigos e familiares. “É uma situação que muitas pessoas estão vivendo no nosso bairro, principalmente com surto de dengue.”
Sinal de alerta
Procurada pela reportagem, a Prefeitura diz desconhecer a existência de surto de zika em Itabira. “Até o dia 17 de março, a Secretaria Municipal de Saúde registrou 316 notificações para dengue, zika ou chikungunya. Do total, foram confirmados 93 casos positivos de dengue e nenhum para as outras doenças”, relata a assessoria de imprensa.
Mas o quadro pode estar mudando – e é preciso que a vigilância em saúde, mesmo com a prioridade voltada para a proliferação do novo coronavírus, investigue essa possibilidade. Até porque o quadro de proliferação do mosquito na cidade não foi alterado.
De acordo com o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Liraa), realizado em Itabira entre os dias 13 e 17 de janeiro, o índice de infestação no bairro Pedreira era de 1,58% – um indicador de estado de alerta. Leia mais aqui.
Somente índices inferiores a 1% são considerados satisfatórios. Pelo mesmo levantamento, Itabira apresentou índice médio de infestação pelo mosquito de 5,3%, o que acende o sinal vermelho em toda a cidade.
É preciso, portanto, que os moradores tomem as preocupações necessárias, eliminando os focos de criadouros do mosquito. A disseminação ocorre com água parada nos vasilhames jogados nos quintais, nos lixos lançados na beira das estradas, na caixa d’água destampada, no depósito de ferro velho. E também nos terrenos públicos, onde as pessoas jogam entulhos e a também acumulam água e focos do mosquito.
Só com os cuidados de limpeza e eliminação de focos que mais essas epidemias não irão abarrotar ainda mais os serviços de saúde, agravando o atendimento à população em tempo de proliferação da pandemia da Covid-19.
3 Comentários