Botafogo vence o PSG e renova a esperança no futebol-arte que o Brasil precisa para exorcizar o complexo de vira-lata

Igor Jesus marcou na vitória do Botafogo sobre o PSG

Foto: Vítor Silva/
Botafogo

Por Gil Costa Moreira*

A noite dessa quinta-feira (19) foi épica, um sopro de esperança com uma vitória que parecia improvável e que virou histórica: o Botafogo de Futebol e Regatas venceu por 1 a 0 o Paris Saint-Germain, campeão da Champions League 2024/25 — título conquistado com autoridade após uma goleada de 5 a 0 sobre a Inter de Milão na final disputada em Munique.

O gol da vitória alvinegra foi marcado aos 36 minutos do primeiro tempo, com um chute cruzado do camisa 99 do Glorioso, Igor Jesus, após passe açucarado de Savarino — ex-Galo, que infelizmente foi trocado por Ademir, o Fumacinha, que é bom de bola, mas ainda está longe de ser um craque como o venezuelano.

A jogada do gol, no estádio Rose Bowl, em Pasadena, misturou ousadia, inteligência e precisão — com um leve toque de sorte, já que o chute foi desviado pelo zagueiro Pacho e tirou completamente da jogada o ótimo goleiro italiano Gianluigi Donnarumma.

O golaço de Igor Jesus protagonizou um dos maiores momentos do futebol brasileiro na última década. Diante de um adversário poderoso — um dos favoritos ao título, ao lado de Palmeiras, Flamengo, Fluminense e outros gigantes — o Glorioso resgatou um estilo que andava escondido: o futebol com arte, inteligência e alegria.

Vitória com talento, disciplina e VAR eficaz

O jogo foi decidido no talento, na organização tática e também contou com a ajuda de um fator moderno que veio pra ficar: a tecnologia funcionando bem. O VAR atuou com agilidade e precisão ao anular corretamente um gol do PSG no segundo tempo, marcado por Barcola, por impedimento milimétrico.

Também confirmou que um possível pênalti pedido pelos franceses, em lance envolvendo Kvaratskhelia, ocorreu fora da área. Foi um espetáculo limpo, justo e intenso, permitindo que a qualidade do jogo brilhasse sem ruídos — como a arte da guerra no futebol pede sempre.

Esse nível de precisão, aliado à arte e ao bom trato com a bola, torna o futebol mais justo e menos refém do erro humano, valorizando o trabalho coletivo e as jogadas bem construídas — um alívio para quem torce por um jogo que vença pela bola e não pelo apito.

O futebol-arte como manifesto e exportação

Enquanto o Brasil se debatia entre a nostalgia dos feitos passados e o pragmatismo, o futebol-arte atravessou oceanos.

A Major League Soccer (MLS), principal liga de futebol dos Estados Unidos e do Canadá, fundada em 1996, deixou de ser um “retiro de veteranos” para se tornar vitrine de jovens talentos — especialmente da América Latina — com foco em um futebol mais técnico, dinâmico e moderno, privilegiando o jogo apoiado, veloz e vistoso.

No Japão e na Coreia do Sul, clubes apostam em fundamentos técnicos e desenvolvimento criativo desde a base. Na África, o futebol respira talento natural, agora turbinado com estrutura e metodologia.

A bola que um dia dançou e brincou nos pés de Pelé, Didi, Tostão, Zico, Rivelino, Romário e Reinaldo rodou o mundo — e só agora, ao que parece, quer voltar para o seu habitat natural: o Brasil.

O eterno, ainda, complexo de vira-lata

Desde que a seleção canarinho venceu a última Copa do Mundo, realizada em 2002 na Coreia do Sul e no Japão, ao derrotar a Alemanha por 2 a 0 — gols de Ronaldo Fenômeno — marcando o nosso pentacampeonato mundial (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), o país vem sofrendo com o complexo de vira-lata. Antes do início da Copa do Mundo de Clubes, poucos acreditavam no sucesso dos times brasileiros, como se observa até aqui.

Torço para que uma nova versão do futebol brasileiro esteja a caminho, deixando de alimentar esse complexo de vira-lata — aquela sensação de inferioridade disfarçada de realismo, de que o futebol europeu era inalcançável, quase divino.

Era o mito da organização sem alma, da eficiência sem afeto. E muitos torcedores brasileiros, descrentes, já achavam que nenhum time nosso poderia competir de igual pra igual com os gigantes do continente europeu.

Mas a vitória do Botafogo devolve autoestima e nos lembra que, quando os nossos times jogam com arte e valorizam o talento e as jogadas construídas coletivamente — e com vontade — podem ser imbatíveis.

Aprendemos também com os hermanos

E que bom que aprendemos também com nossos vizinhos argentinos, que sempre uniram arte e gana como poucos. Maradona nos encantou com rebeldia, Messi continua encantando com precisão quase poética.

Esses atletas jogaram sempre com entrega, fome e sentido de missão. Algo que, nos últimos tempos, pareceu escasso na Seleção Brasileira, onde muitas vezes o talento ficou refém do estrelismo e do cai-cai.

Enquanto os hermanos jogavam cada lance como se fosse o último, nossas estrelas pareciam desfilar, esperando que a camisa pesasse por si só. Espera-se que essa seja uma página virada na história do futebol brasileiro.

E agora, o que esperar da Seleção Brasileira

Com novo técnico, ideia renovada e uma geração que parece menos encantada com os holofotes e mais comprometida com o coletivo, a Seleção tem, enfim, a chance de virar a página.

Se mirar no exemplo do que o Botafogo fez ontem — e souber enxergar ali mais do que uma vitória, mas um sinal — o Brasil pode perfeitamente voltar a sonhar com uma campanha mais que digna na Copa do Mundo do ano que vem.

Isso porque ontem não foi apenas o Botafogo que venceu. Venceu também a escola brasileira de jogar, a crença de que o futebol pode ser bonito, justo e emocionante.

E que pode voltar a mostrar ao mundo um futebol que une disciplina moderna com a intuição criativa que sempre foi nossa marca registrada. Sem catimba, sem firula inútil, sem teatro, sem cai-cai. Apenas futebol de verdade.

Com nossa história. Com nossa alma. Com aquilo que torna o futebol mais que um jogo. Que seja o início de uma era em que o Brasil não apenas vença — mas encante. Como sempre foi. Como sempre deve ser, apesar dos cartolas que fazem dessa arte de jogar bola, apenas uma grande jogada mercadológica.

*Gil Costa Moreira é palpiteiro e apaixonado pelo futebol que busca a meta defendida pelo goleiro — esse estraga-prazer que só é bom quando joga no nosso time.

 

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