Bolsonaro provoca a Argentina ao permitir pouso no país de aviões britânicos em trânsito para as Malvinas
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Rafael Jasovich*
No dia 8 de fevereiro, o Brasil defendeu a decisão de permitir que aviões militares britânicos que estejam transitando para as Malvinas parem em aeroportos brasileiros.
O Itamaraty, em nota à Reuters, disse que, embora apoie as reivindicações de soberania da Argentina sobre as ilhas, esse apoio não afeta sua importante parceria” com o Reino Unido.
O auxílio do Brasil ao Reino Unido se deve ao fato de o presidente argentino, Alberto Fernández, promover uma série de discursos e falas elogiando o ex-presidente Lula, além de o argentino representar a guinada da esquerda na América Latina.
O Brasil perdeu muito a força nas articulações com os blocos econômicos, sejam os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), seja o Mercosul. Isso fez com que o país rompesse com a política petista de mais independência e articulação do governo federal com outras nações.
E, e agora o governo Bolsonaro retorna a uma política mais submissa do Itamaraty em relação aos Estados Unidos.
A rixa entre os dois presidentes representa uma ruptura entre os governos de ambos os países, prejudicando o fortalecimento das relações econômicas, políticas e sociais.
Prejudica, inclusive, o setor automotivo, quando em 2021 diversas empresas abandonaram o Brasil, enquanto a Argentina manteve a sua indústria, mostrando a falta de entendimento entre os dois governos.
Há uma redução com o governo brasileiro da escala de parcerias, não só do Brasil com a Argentina, mas com o Mercosul como um todo. A política de Bolsonaro é de submissão aos interesses norte-americanos.
A ação do presidente tenta provocar os argentinos por meio de uma ação diplomática. Ao apoiar o Reino Unido mostra que o país está muito mais próximo do conservadorismo, o que naturalmente provoca um distanciamento muito forte criado com os governos da América Latina mais progressistas.
O Brasil hoje tem um governo isolacionista e está isolado pelas grandes potências mundiais, com Bolsonaro sendo atacado por governos e meios de comunicação estrangeiros, inclusive sendo motivo de piada internacional.
Com isso, o presidente brasileiro procura cada vez mais se aproximar de um conservadorismo ainda maior, e a aproximação com a Inglaterra se deve a isso.
O fato é que as artimanhas bolsonaristas que privilegiaram os militares, o Exército, as Forças Armadas do Reino Unido, acabou por criar um incômodo diplomático.
Certamente os argentinos devem responder com outras provocações, sobretudo durante a eleição, quando o Alberto Fernández deve declarar apoio do governo argentino à candidatura de Lula.
Eu me eduquei na Argentina e a soberania sobre as Malvinas era tema pelo menos semanal nas escolas e fazia parte de nosso DNA.
A ditadura genocida da Argentina tentou uma última e desastrosa cartada para continuar no poder invadindo o território (que por direito é Argentino). Acreditou erroneamente que os ingleses iam aceitar e com isso conquistariam apoio popular.
O erro acelerou a queda da ditadura militar na Argentina, pelo menos para isso valeu. Mas, as Malvinas são argentinas.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, ativista da Anistia Internacional.