Bolsonaro está isolado na América do Sul
Rafael Jsovich*
Ao fazer constantes declarações demonstrando seu posicionamento pessoal diante de líderes latino-americanos, Bolsonaro cria graves consequências para política externa brasileira.
No dia 19 de dezembro, Gabriel Borik (Convergência Social) ganhou as eleições no Chile ao concorrer com candidato da extrema direita, José Antonio Kast (Partido Republicano).
Desde então, os filhos parlamentares do presidente Jair Bolsonaro (PL), assim como o próprio, vêm criticando a chegada do esquerdista ao poder. Bolsonaro disse que não vai à posse de Boric que acontecerá no dia 11 de março.
“Quem é que vai à posse do presidente do Chile… Eu não irei. Vê quem vai”, afirmou o mandatário.
Bolsonaro levou 72 horas para cumprimentar Borik pela sua eleição. Conduta parecida ele vem tecendo com a Argentina, criando atritos com mais um país dentro da América Latina, dificultando a integração do Brasil na região.
A ausência do presidente brasileiro na posse de Boric não será surpresa, a partir do momento que a América Latina deixa de ser prioridade na política externa no governo Bolsonaro.
A equivocada orientação de alinhamento com os Estados Unido, na época de Donald Trump, norteou a política externa nos primeiros anos do atual governo.
E subverteu a tradição diplomática brasileira, subordinando os interesses do país a uma visão ideológica que resultou em perda de prestígio regional e global do Brasil.
A postura hostil brasileira em relação ao Chile se estende a mesma conduta com a Argentina, outro país que, publicamente, Bolsonaro critica dando alfinetadas no mandatário argentino, Alberto Fernández.
Política externa é coisa de Estado, é construída no longo prazo por meio de negociações visando a convergência e satisfação de interesses das partes. Não pode estar sujeita aos caprichos do governante de plantão.
A atuação com os vizinhos argentinos é um grande descuido, uma vez que a Argentina é o principal parceiro comercial e político do Brasil na América do Sul.
Em um futuro próximo, vários arranjos “podem ser objetos de negociações”, principalmente pela relevância política e econômica que abarca todos os países presentes neste tipo de organização.
Ou seja, Brasil segue isolado e sem perspectivas de liderança na América do Sul.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional.