Bolsonaro é coerente com o seu passado, com as suas atitudes inconsequentes na pandemia e pelo desprezo ao meio ambiente
Rafael Jasovich*
O modelo presidencialista brasileiro confere um grande poder àquele ou àquela que assume o cargo máximo de presidente. Mas esse poder pode ser ainda muito maior se o dito não tiver pudores em desrespeitar a liturgia do cargo e atropelar os demais poderes.
É o que se observa no país, quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), atropela também os seus próprios aliados e mesmo seus opositores, a imprensa, a constituição.
Faltam ainda o primeiro mandatário do país a boa educação e cortesia com as instituições nacionais e os demais países, e tantas outras nuances da diplomacia que se não são formalmente impostas, são esperadas de um líder de um país tão diverso, complexo e relevante para o resto do planeta.
Por saber disso, uma parcela da população brasileira ficou horrorizada e desesperançada com a eleição de Bolsonaro em 2018, vislumbrando um futuro sinistro.
Talvez também por saber disso, seus eleitores mais extremistas vibraram e acreditaram em mudanças radicais na sociedade brasileira, rumo à Idade Média, impostas pela vontade do presidente eleito.
E exatamente por sequer pensarem sobre isso, muitos desavisados votaram no pior dos candidatos possíveis. Sustentaram a sua frágil convicção de que valeria a pena “experimentar algo diferente” na afirmação ainda mais inconsequente de que “se ele não fosse bom, eles o tirariam de lá.”
Bolsonaro não enganou ninguém e tem-se mantido fiel ao que sempre demonstrou ser na vida pública. Sabedor de sua incapacidade de diálogo e do seu desinteresse por negociações democráticas, esvaziou todos os espaços colegiados que possibilitassem participação da sociedade em suas decisões.
Escolheu a dedo ministros, assessores e gestores dos altos escalões do governo que não questionassem suas opiniões. E demitiu aqueles que não o atenderam nas suas mais absurdas vontades.
Um dos que ainda permanecem no cargo é esses é Ricaro Salles o desministro da destruição da fauna, da flora, das queimadas, da exploração sem limites de madeira na Amazônia, do garimpo ilegal, da grilagem etc.
Salles quer sair como Weintraub, jogando tudo o que tem na cabeça no ventilador para se cacifar às eleições do ano que vem.
Exatamente como aconteceu ao ex-ministro Weintraub lá atrás, o ministro Salles sabe que sua cabeça já está na roda – e que é questão de tempo para que seja oferecida de bandeja, com algum benefício para Bolsonaro.
Por isso, como Weintraub, vai aproveitar os últimos dias para incendiar o tema ambiental como fez com a Floresta Amazônica e o Cerrado.
O objetivo é mostrar-se para os bolsomínions e simpatizantes e assim cacifar-se para as eleições do ano que vem, quando poderá concorrer a deputado e conseguir imunidade parlamentar enquanto permanecer no cargo.
Porque Salles já é um condenado. Mais uma condenação, em meio às inúmeras ilegalidades denunciadas em sua administração à frente do Ministério, pode levá-lo à cadeia, por não ser mais primário.
Salles zombou dos indígenas no Dia do Índio. Mandou demitir delegado da PF que denunciou sua administração no Amazonas. E agora quer US$1 bi do governo dos EUA para montar uma milícia armada na Amazônia. Tudo circo.
Weintraub conseguiu uma boquinha no Banco Mundial e é cotado para se candidatar ao governo de São Paulo no ano que vem.
O capitão cloroquina é o culpado, Salles é só um apelido
Para onde será enviado Salles? Você tem alguma sugestão?
**Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional