Baile funk no bairro Pará revolta moradores e organizador diz não ser de sua responsabilidade
“Doutor Ademar (Mendes de Souza) é o rei da paciência. Ele tem tolerado muita bagunça na porta de sua casa, mas desta vez o desrespeito extrapolou. Até ele não aguentou e ligou para a polícia para reclamar da bagunça que virou isso aqui”, testemunha Emerson Rocha, proprietário de um comércio na rua Ipoema, referindo-se ao “baile funk” que seguiu pela madrugada de sábado (19), após ser encerrada uma das etapas da programação musical e gastronômica da Semana de Arte, Cultura e Empreendedorismo, realizada entre 14 e 20 deste mês.

O evento com participação de DJs ocorreu em frente ao bar Spetim, na mesma rua. O médico Ademar Mendes mora em frente aos bares da rua Ipoema, no bairro Pará. Ele conta que a paciência se esgotou desde que o comparecimento de jovens, vindos de quase todos os bairros da cidade, passou a ser frequente em sua rua.
“Essa balbúrdia já ocorre aqui há mais de dois anos. Já fiz queixas na Prefeitura, nas polícias Militar e Civil e de nada tem adiantado”, lamenta, já descrente com a falta de ação das autoridades locais para por fim ao que considera total desrespeito aos moradores.
Conforme apurou a reportagem, o evento obteve alvará da Prefeitura para que ocorresse no horário de 20h às 23h. E, de fato, foi oficialmente encerrado nesse horário. Mas a multidão de jovens presente permaneceu no local até a madrugada.
Houve também registro de venda de bebidas alcoólicas a menores no bar onde oficialmente ocorria o evento. O comissariado de menor, que esteve no local juntamente com agentes da área de posturas da Prefeitura, autuou o proprietário do bar Spetim.
Som automotivo

Foi só as duas viaturas da Polícia Militar e os agentes da Transita se retirarem do local para o baile funk ganhar a dimensão que assustou os moradores vizinhos. Com isso, vários carros acionaram o som na maior altura. Motos barulhentas foram aceleradas para se fazer barulho ensurdecedor e gerar muita fumaça, poluindo ainda mais o local.
“Antes de abrir o nosso negócio, tivemos de fazer um EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança), pois sem isso não obteríamos o alvará de funcionamento. O impacto desse evento para toda a vizinhança foi enorme. Como a Prefeitura liberou o alvará para esse evento sem antes verificar qual seria o impacto na vizinhança?”, pergunta o comerciante Everton Pires Rocha.
Protesto
Sônia Jabour, diretora da Associação dos Moradores do bairro Pará (Amapará), disse que tentou cancelar o evento junto à Prefeitura, mas foi em vão. “Disseram que já estava previamente agendado e não era possível cancelar”.
O presidente da Amapará, Adirney Jabour, tentou também cancelar o evento com o promotor Lukinha DDG, mas da mesma forma não obteve êxito. “Ele me disse que não haveria como transferir para outro local e assegurou que encerraria a programação no horário preestabelecido. Só que o baile funk prosseguiu até madrugada.”

Na rede social, Sônia Jabour desabafou: “Evento musical (…) realizado ontem (sexta-feira, 18) no Bar do Spetim (Bairro Pará) provocou terror aos moradores (…). Menores consumindo bebida alcoólica e drogas. Indivíduos comercializando livremente drogas. Carros com som automotivo. Motoqueiros empinando suas motos. Pessoas quebrando garrafas pelas ruas e usando as calçadas de banheiro.”
E prosseguiu: “A Polícia Militar foi acionada e lavrou o BO (boletim de ocorrência). Também o Comissariado de Menores flagrou menores consumindo bebida alcoólica e droga. Infelizmente o evento teve o apoio da Prefeitura e Câmara Municipal”, protestou.
Segundo ela, foi feito um abaixo-assinado dias antes e entregue à Prefeitura, dando conta do que vem ocorrendo no bairro e pedindo o direcionamento da festa para outro local apropriado.
“Nada foi feito. E, se não bastasse, a Transita fechou a rua Ipoema para a realização do evento. Está dando tristeza ver em todos os finais de semana a juventude se perdendo no consumo de bebida alcoólica e uso de drogas. Fica o meu protesto.”
Lukinha DDG diz que baile nada tem a ver com a Semana de Arte, Cultura e Empreendedorismo

O empreendedor e gestor de projetos Lukinha DDG não concorda com a afirmação de que o evento, promovido como parte da Semana de Arte, Cultura e Empreendedorismo, tenha causado transtornos aos moradores. Ele exime-se de responsabilidade pelo ocorrido após o encerramento da programação oficial.
“Os moradores reclamam, mas isso (o baile funk com som automotivo) não ocorreu como parte da programação de nosso evento. A reclamação não foi pelo nosso evento, mas pelas ocorrências anteriores no local”, esquiva-se.
Ele admite ter sido alertado pelo presidente da Amapará sobre os possíveis transtornos que a programação iria causar na vizinhança e que foi pedido para transferir para outra localidade. “Não houve como transferir para outro local. Seguimos todos os trâmites para que ocorresse dentro da legalidade.”
O promotor cultural disse que previa a presença de no máximo 300 pessoas. “Mas compareceram mais de 600 pessoas, fora os itinerantes”, calcula. “O problema é que a cidade oferece poucas opções de lazer para os jovens. Quando acontece alguma coisa, vai todo mundo para o mesmo local”, é o que ele tem constatado.

De acordo com ele, o evento no bairro Pará foi só uma etapa da Semana de Arte, Cultura e Empreendedorismo. A programação constou de palestras, oficinas, workshops, teatro, cinema, música e gastronomia. Foram também promovidas exposições e startups com o objetivo de incentivar o empreendedorismo e a diversificação da economia local.
“A nossa proposta foi despertar a sensibilidade para novas oportunidades, capacitar, incentivar a economia criativa, a tecnologia e a inovação para novos negócios”, explica.
“Quero melhorar”, diz comerciante
“Eu quero melhorar e para isso tomarei as providências necessárias para não causar transtorno à vizinhança”, assegura o proprietário do bar Spetim, Ernane Nogueira. Ele disse ter-se surpreendido também com o grande número de jovens que veio para o evento.
Para ele, não houve como impedir a continuidade do baile funk fora de seu estabelecimento. “Eu mesmo liguei para a polícia pedindo ajuda, pois vi que tinha saído do controle”, afirma.
Como medida imediata para esvaziar a presença maciça de jovens no fim de semana, Nogueira informa que deixará de abrir o seu estabelecimento nas próximas sextas-feiras.
“Quem sabe assim, essa turma se dirige para outra localidade mais apropriada e que não gere reclamações”, espera. “Também não irei mais vender cerveja de litrão, que tem atraído o público jovem”, disse ele, que teme ter de fechar o seu estabelecimento. “Dependo do bar para a minha sobrevivência.”
Se faz em ambientes fechados, os eventos incomodam. Se realizado em espaço aberto, o resultado é sinônimo de aglomeração de jovens das redondezas, na mesma intensidade.
Certo é que o funcionário é um evento do tempo atual é ocorre na mesma proporção de outros lugares, conforme a proposta e atrativos.
As festas são chamativas, hoje o funck é a bola da vez, uma característica (estilo) da juventude atual. Elas são interessantes e a aceitação do evento acontece por falta de oportunidades de lazer e diversificação das propostas. O apelo: Sexo, droga e rock in roll, ganhou novo rótulo, embalagem, mas a juventude de mantém alimentando a rebeldia, a procura de novos ‘modus’ de vida coletiva.
José Norberto