Até então desconsiderados, os vices viram peças importantes na disputa presidencial
Rafael Jasovich*
Cálculo político por trás da escolha do candidato a vice em uma chapa presidencial costuma levar em conta a contribuição do nome para trazer recursos financeiros e midiáticos à campanha, o reforço ou complemento ideológico que significa e a amplitude do eleitorado que poderá ajudar a alcançar.
Em uma eleição atípica como a deste ano, no entanto, essa escolha foi feita pela maior parte das candidaturas em cima da hora e na base da falta de opção.
Muitos candidatos a vice foram confirmados apenas no limite do prazo legal estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Sucessor do presidente caso o titular esteja provisória ou permanentemente afastado do Planalto, o vice tornou-se figura evidente nos últimos anos, depois que Michel Temer (MDB), eleito vice na chapa de Dilma Rousseff (PT), assumiu seu posto após processo de impeachment.
Para o eleitor, o vice tem menos peso do que se imagina. Mas ele é muito importante para as negociações de cargo entre as lideranças partidárias, para garantir capilaridade às campanhas.
E, até mesmo para afastar acusações sobre falta de representatividade que atribui ao último aspecto a presença de pelo menos 4 vices mulheres – e sem contar a possibilidade de Manuela D’Ávila (PCdoB) na vice do PT.
O vice deveria prolongar o alcance da candidatura de alguma maneira. Na configuração atual, no entanto, a maior parte dos vices não deve trazer nem votos, nem recursos financeiros ou tempo de TV para os titulares.
Afinal, quem são e o que agregam cada um dos nomes apontados pelas candidaturas para a vice?
Fernando Haddad (PT), vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o plano B
Com o nome de Fernando Haddad (PT-SP) na vice, o Partido dos Trabalhadores colocou em marcha o plano B eleitoral. Diante do muito provável indeferimento da candidatura de Lula – condenado e preso na operação Lava Jato – , Haddad deverá assumir a cabeça da chapa.
Até lá, no entanto, o partido fará um movimento duplo: o de fortalecer o nome do ex-presidente como titular na disputa e o de apresentar Haddad ao eleitorado como um substituto à altura para o projeto lulista.
O PT caiu na real de que, com o início da propaganda eleitoral, o eleitor pode perceber que Lula não será viável – e consolidar na cabeça uma escolha alternativa, que não seja do partido. Para não correr esse risco, vão trabalhar paralelamente ao Lula o seu plano B.
Prefeito de São Paulo entre 2013 e 2016, Haddad tem 55 anos – e é relativamente desconhecido do eleitor nacionalmente. Venceu o pleito municipal contra o tucano José Serra no segundo turno. E perdeu a reeleição, no primeiro turno, para João Doria (PSDB-SP), que é atualmente candidato a governador em São Paulo.
Com sólida trajetória acadêmica na Universidade de São Paulo (USP), é professor de Ciência Política. Chegou a Brasília em 2003, no primeiro ano do governo Lula, para atuar no Ministério do Planejamento sob a gestão de Guido Mantega.
Convidado pelo ex-presidente Lula, foi ministro da Educação entre 2005 e 2012. Nesse período, reformulou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Haddad foi o coordenador do recém-lançado programa de governo da candidatura petista. Seu nome vinha sendo aventado como uma das alternativas para se candidatar no lugar de Lula, ao lado do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e da senadora Gleisi Hoffmann.
A atual configuração da chapa petista, no entanto, não indica que ela chegará às urnas como puro sangue. A sui generis situação do PT criou ainda uma estranha figura: a vice do vice.
Se Lula for mesmo barrado da eleição pela lei da Ficha Limpa, que veda a participação de condenados em segunda instância na disputa, Haddad ascenderá ao cargo de titular. E deve deixar o posto de vice para Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata à Presidência dos comunistas.
A candidatura de Manuela foi retirada depois que os comunistas decidiram se aliar ao PT, apesar da insegurança jurídica da candidatura de Lula.
Embora aliados de Manuela tenham considerado a situação de estepe da política como “constrangedora”, o cálculo do PC do B é pragmático: sem se coligar com o PT, o PC do B pode ter dificuldade de fazer uma boa bancada para o Legislativo.
Ou mesmo correr riscos em relação à cláusula de barreira, que pode barrar a representação política de partidos pequenos, que não atinjam um dado percentual de votos.
Com a coligação com o PT, o PC do B assegura desempenho eleitoral superior ao mínimo estabelecido pela última reforma eleitoral.
*Rafael Jasovich é jornalista, advogado, secretário e fundador da Associação Gremial de Advogados da Capital Federal, membro da Anistia Internacional