As pesquisas apontam leve favoritismo para Lula em 30 de outubro

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As tendências do voto religioso do primeiro turno se mantém no segundo, com Lula liderando em todos os segmentos, com exceção dos evangélicos que apoiam majoritariamente Bolsonaro

Por José Eustáquio Diniz Alves*

EcoDebate – As pesquisas eleitorais, em geral, erraram muito no primeiro turno de 2022, especialmente, para os pleitos do senado e de alguns governos estaduais. A falta do censo demográfico potencializou os erros das pesquisas eleitorais, pois, após 12 anos do último recenseamento, ninguém sabe com precisão o tamanho atual da população brasileira e as suas principais características sociodemográficas.

Porém, com apenas dois candidatos, o segundo turno sempre apresenta maior grau de acerto. As mais recentes pesquisas estão indicando uma disputa acirrada, mas com um pequeno favoritismo para as forças de esquerda no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

O primeiro turno terminou com Luiz Inácio Lula da Silva com 57,3 milhões de votos (48,4% do total), Jair Bolsonaro com 51,1 milhões (43,2%), Simone Tebet com 4,9 milhões (4,2%) e Ciro Gomes com 3,6 milhões de votos (3%).

Os demais candidatos ficaram com cerca de 1,3 milhão de votos (1% do total). Os dois primeiros lugares somaram 91,6% do total dos votos válidos, proporção recorde nos primeiros turnos de todas as eleições presidenciais do período pós redemocratização.

Estes números indicam que a disputa presidencial, no segundo turno de 2022, deve ser a mais disputada desde 2014. Em 2002, Lula ficou com 61% dos votos e Serra ficou com 39%. Este mesmo percentual se repetiu em 2006 entre Lula e Alckmin. Em 2010, Dilma ficou com 56% contra 54% de Serra. Em 2014, Dilma ficou com 51,6% e Aécio com 48,4%. Em 2018, Bolsonaro ficou com 55% contra 45% de Haddad.

Portanto, as eleições de 2022 estão mais próximas de repetir o cenário do segundo turno de 2014, isto é, uma eleição muito polarizada e com pequena margem de diferença na votação dos candidatos. Ganhará quem fizer a melhor campanha no mês de outubro e conseguir agregar maiores apoios.

Nas eleições parlamentares e dos executivos estaduais, as forças de direita levaram vantagem sobre as forças de esquerda, além de haver uma significativa parcela ao centro. Os partidos aliados de Lula (PT, PSB, PSOL, PCdoB, PV, PDT, Pros, Rede, Avante, Solidariedade) elegeram 139 deputados federais.

Já os partidos aliados de Bolsonaro (PL, PP, PSC, PTB, Republicanos, Patriotas, Novo) elegeram 201 deputados federais e os partidos do centro (não alinhados) elegeram 173 deputados (MDB, PSD, PSDB, União Brasil, Podemos, Cidadania). A direita ainda ganhou maioria entre os governadores e os senadores.

Para o segundo turno Lula tem se mostrado maior do que a esquerda e tem avançado na busca do eleitor do centro. Conseguiu o apoio do PDT/Ciro e, especialmente, o apoio de Simone Tebet (MDB), candidata que obteve grande empatia com o seu eleitorado. O candidato do PT também conseguiu apoio do ex-presidente Fernando Henrique, dos economistas que elaboraram o Plano Real e diversas outras personalidades não identificadas com a esquerda tradicional.

Bolsonaro conseguiu o apoio de diversos governadores e prefeitos. Particularmente importante foi o apoio do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que é uma peça importante para tentar mudar o quadro no segundo maior eleitorado do país.

Assim, Lula sai na frente em termos de votos e do arco de alianças, mas Bolsonaro sai com mais força em termos de máquina política. O fato é que existem dois tabus repetidos no período pós-redemocratização: 1) todo presidente candidato à reeleição saiu vitorioso; 2) todo candidato que chegou à frente no primeiro turno venceu no segundo turno. Agora em 2022, um dos dois tabus irá cair.

A pesquisa Datafolha divulgada no dia 7 de outubro indicou 49% de intenção de voto para Lula, 44% para Bolsonaro, 6% de brancos e nulos e 2% de pessoas que não sabem em quem votar. Em termos de votos válidos indicou 53% a 47% entre os dois candidatos.

Entre as mulheres (maioria do eleitorado), Lula tem 50% contra 41% dos votos totais e entre os homens o pleito está empatado com 47%. Portanto, as mulheres podem decidir as eleições a favor do candidato da esquerda.

Em termos etários, Lula está bem na frente entre os jovens (16-24 anos) e os idosos (60 anos e +) e Bolsonaro tem maioria das intenções de voto na faixa de 25 a 34 anos.

Lula tem amplíssima vantagem no Nordeste, mas Bolsonaro lidera nas demais regiões, mostrando que o Brasil está rachado em termos regionais.

Em termos de “classe”, a pesquisa Datafolha mostra que Lula tem ampla liderança entre o segmento até 2 salários-mínimos de renda familiar e pequena liderança no segmento com mais de 10 salários-mínimos, enquanto Bolsonaro lidera nas camadas médias.

As tendências do voto religioso do primeiro turno se mantém no segundo, com Lula liderando em todos os segmentos, com exceção dos evangélicos que apoiam majoritariamente Bolsonaro.

Na amostra do Datafolha, o peso dos católicos é de 56%, dos evangélicos 27%, das outras religiões 5% e dos sem religião 12%. O gráfico abaixo, mostra que Lula tem 55% a 38% entre os católicos (que são maioria do eleitorado na pesquisa), tem 50% a 41% entre as outras religiões e impressionantes 63% a 30% entre os sem religião.

Bolsonaro coloca uma boa margem entre os evangélicos, ficando com 62% contra 31%. Os evangélicos foram fundamentais para evitar a derrota de Bolsonaro no primeiro turno, mas os católicos e os sem religião podem ser essenciais para a vitória de Lula em 30 de outubro.

distribuição das intenções de voto por religião
 

A primeira semana da campanha das eleições presidenciais de 2022 foi marcada por uma “guerra santa”, envolvendo inúmeras fake news e diversas narrativas envolvendo questões religiosas, inclusive as práticas da Maçonaria e se completou com a presença do atual presidente nas atividades do Círio de Nazaré, em Belém, embora não tenha sido convidado pelos organizadores da Igreja Católica.

Mas o fundamento da laicidade estabelece que não deve haver politização da religiosidade popular, não deve haver abuso da liberdade religiosa, mas deve haver respeito pela parcela da população que se declara sem religião.

O Brasil está em uma encruzilhada e, como disse Simone Tebet, existe uma “ameaça à democracia”, pois o presidente reeleito, com maioria no Senado, poderá criar diversos problemas para o Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de impeachment de ministros e a indicação de membros do STF “terrivelmente evangélicos”, capazes de garantir uma pauta de acirramento do conservadorismo moral e até algum arremedo de uma espécie de Teocracia. Assim, a sobrevivência da democracia e do Estado de Direito estarão em jogo nas eleições de 30 de outubro de 2022.

As próximas três semanas devem ser o momento de discutir, sem medo e com racionalidade, as questões programáticas sobre as perspectivas da economia e da sociedade brasileira, especialmente como o país vai resolver os problemas da pobreza e da fome, construindo uma sociedade mais justa com sustentabilidade ambiental e com restauração ecológica.

José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED, CAVENAGHI, S, BARROS, LFW, CARVALHO, A.A. Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242
http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/112180

ALVES, JED. CAVENAGHI, S. La transición religiosa y el crecimiento del conservadurismo moral en Brasil. In: CAREAGA, GLORIA. Sexualidad, Religión y Democracia en América Latina, 2019
http://www.fundacionarcoiris.org.mx/wp-content/uploads/2019/06/Sexualidad-Religio%CC%81n-y-Democracia.pdf

 

 

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