As “mina” com Deus e os “mano” com Satanás

Fotos: acervo ViladeUtopia

Educação. Ética. Moral. Quando eu era uma garota besta, furtei dinheiro do pé da santa da Igreja Nossa Senhora da Saúde; é que as vezes faltava algum para a praga do cigarro. Já mulher, contei esta história para Dalma da Costa Lage Silveira, minha mãe.

Ela ficou horrorizada, indignada caiu de pau pra cima de mim. A mãe, em tom grosso quis saber: “quanto você roubou da igreja?” (roubou, a palavra envergonhada).

Igreja da Saúde, Itabira, MG

Constrangida, respondi que não lembrava, não havia calculado, mas que foi algumas vezes, não muito, mas…

“Que vergonha! roubar esmola da nossa paróquia”, pediu a minha carteira e contou algumas cédulas para recolocar ao pé da santa.

Mais pau: me fez ajoelhar e repetir com ela a oração do Pai Nosso. Na força da reza imposta, tomei visão da gravidade do caso. Uma vergonha!

E mais pau: às vezes que ia na Itabira, a mãe olhava grave, na autoridade cobrava a esmola para a Igreja da Saúde, “paroquia da família”.

Ao furto, paguei com juros e correção monetária; a mãe, não perdoou a ofensa a Nossa Senhora da Saúde.

Eu confesso, o amargor para sempre de envergonhar a mãe, senhora de fé Católica Apostólica Romana, devota de Nossa Senhora. Amém!

Sou ateia! (Tita Lage)

Itabira de Matto Dentro – Do correspondente, em data de 24 de outubro: Um ilustre pai de família pediu-me a publicação do seguinte articulado do Correio de Itabira os comentários que seguem:

“Tem sido para o reverendíssimo vigário, como para os pais de família motivo de muita alegria a devoção patenteada pelo povo itabirano durante as missões, sendo sempre ouvidos os sermões com religioso respeito pela quase totalidade da Itabira.

É muito para notar que os meninos não sigam os exemplos dados pelas pessoas de respeito e não deixam de fazer algazarras que denunciam o descuido de seus pais ou das pessoas que os governam.

Quem se aproxima do templo e quer ouvir a palavra de Deus não deve ser disso impedido por quem quer aproveitar a ocasião para se divertir em hora e lugar impróprios.

O digno senhor delegado de Polícia no intuito de manter a ordem mandará fazer entrega dos meninos, que estiverem fazendo barulho, a seus pais ou tutores para que os contenham. Este procedimento esperamos que será aprovado pelos senhores pais.

A desordem de que deram tristes mostras os meninos desta cidade é causa de ter o reverendo, sr. padre superior das missões declarado que, nesta cidade, serão eles excluídos das solenidades da comunhão marcada para o dia 27, à qual só serão admitidas as meninas. Deus queira que a lição aproveite.”

Pedimos ao Pharol para protestar pelos pais de família e pela maioria dos meninos desta cidade.

Se tem sido motivo de muita alegria para os pais, verem os sermões ouvidos com religiosa atenção pelas quase totalidade dos itabiranos, os meninos não devem ser excluídos dessa quase totalidade, salvo se não são itabiranos.

O Correio afirmou isso, fala em algazarra, em divertir em lugar e hora impróprias e finalmente em desordens em que deram tristes mostras. Em que fica?

Os sermões tem sido ouvidos com religiosa atenção? Tem havido ali durante as missões divertimentos, algazarras ou desordens?… Não o sabemos.

O Correio não disse a natureza das desordens havidas, e se elas se deram e não tivemos noticia delas, não é possível que sejam responsáveis por elas todas, todos os meninos ao ponto de serem excluídos das solenidades da primeira comunhão!

Não! O Correio não compreendeu a intenção do chefe das missões, por que não acreditamos que esse virtuoso sacerdote, ilustrado explicador do catecismo, digno representante do S. Vicente de Paulo, que dedicou toda a sua vida, a sua inteligência e fortuna na educação das crianças, evangelizando, criando escolas para as crianças desamparadas, que só teve palavras de branduras e meiguices para elas, faça semelhante exclusão ou tenha ao menos a intenção de fazê-la!

Seria destoar muito das palavras do Nazareno: Sinete parvulos venire ad me, quando os fariseus quiseram afastar as crianças que corriam ao seu encontro.

Não acreditamos nessa exclusão unanime, porque não é possível que todas as crianças a mereçam e, quem vê o carinho com que os dignos missionários tratam as crianças quando lhes ensinam nesta cidade o catecismo, não pode crer que eles tenham condenado todas elas, porque uma ou outra tenha tido algum procedimento por ventura repreensível.

Repetimos, o Correio não compreendeu qual a enunciação feita pelo padre-mestre nesse sentido; não lhe compreendem a intenção, o Correio enganou-se, foi exagerado!

Sabemos que o digno delegado de Polícia não fará o que diz o Correio.

Se há algum menino desamparado cumpre à autoridade competente nomear lhe curador.

Felizmente para as crianças, não pode ser delegado aqui o Barão de Carús, ex-ministro da Áustria, em Petrópolis.

[O Pharol, Juiz de Fora, 2/11/1904. BN-Rio]

 

 

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