As calçadas esfaceladas de Itabira e o descaso com os espaços públicos

Mauro Andrade Moura

Parte preponderante de qualquer equipamento público urbano de uma cidade, as calçadas itabiranas sofrem com os estragos provocados por alguns moradores e o descaso da administração local.

Na rua Princesa Isabel , as calçadas remanescentes de hematita estão se soltando: descaso total (Fotos: Mauro Moura)

No Centro Histórico, compõe-se o conjunto arquitetônico em seu uso cotidiano, sua formação e também no tombamento geral pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Itabira (Comphai). No passar dos anos foram utilizados vários materiais, sendo alguns mais interessantes do que outros.

Em um tempo em que não havia calçadas, era toda a rua em fenda central como calha para água da chuva. A população era pequena e automóveis não existiam. Nessa época, o calçamento era formado por pedra de minério de ferro, tipo hematita, o mesmo que dá o nome à nossa cidade, a pedra que vira.

Naquela época, em decorrência do desnivelamento entre os Sobradões e as ruas, foram utilizados matacões de granito gnaisse da própria região, cujos remanescentes deixam a calçada em perfeito plano para a caminhada.

Coitados desses gnaisses brancos. Eles hoje se apresentam rubros de vergonha porque o antigo prefeito João Izael ordenou que fossem pintados na cor do seu partido político. Tudo feito ao arrepio de qualquer cuidado com a preservação do patrimônio histórico, sempre com a complacência do Comphai.

Na mesma rua Princesa Isabel, bueiros quebrados

Já em meados do século passado, com o surgimento do concreto no Brasil, a maioria das calçadas passou a ser confeccionada com cimento, de fácil manuseio, manutenção e reposição.

É de tão fácil uso que a Prefeitura Municipal de Itabira chegou ao cúmulo de promover a reforma de um Sobradão e tampar o gnaisse nele existente com cimento. Promoveu assim a descaracterização de um imóvel tombado como Patrimônio Histórico, mais uma desfaçatez com a marca da omissão do Comphai.

Com a reforma no Centro Histórico, pelo governo Li, quando foram refeitas as bases das ruas com a substituição dos encanamentos de água e esgoto, uma boa medida foi o retorno das pedras de minério no paredão, em alusão ao passado, assim como instalaram vários calçamentos em pedra portuguesa (quartzito).

Passeios quebrados, risco para o pedestre

Faltou instalar a rede elétrica subterrânea para ser uma reforma mais completa, retirando a fiação exposta, uma ameaça permanente de curto-circuito tantos são os emaranhados de fios sabe-se lá em que condições de conservação.

Pois, bem: as calçadas em pedra portuguesa sofrem interferência de toda sorte e acabam se soltando. E ficam assim, soltas já há algum tempo sem que a Prefeitura faça a sua reposição simplesmente por não dispor em seus quadros funcionais de um artífice calceteiro.

E assim permanecem com total desfiguração com os desenhos originais. Solta-se uma pedra, tem de ser reposta imediatamente para que não desloque as demais. Mas isso não é feito pelo departamento de parques e jardins.

Outro exemplo de mal cuidado com os espaços públicos é o calçamento do Largo do Batistinha. Quando, no fim do ano, o departamento de parques e jardins vai lá para instalar os postes das iluminações natalinas, retiram algumas pedras para esse fim.

Calçadas com pedras soltas: o que era para ser bonito fica feio na praça do Expedicionário
Corrimões quebrados, outra ameaça ao pedestre

E com a incompetência peculiar, nunca retornam para repor as pedras em seus devidos lugares, evitando que se formem buracos no meio do calçamento.

Um grave atentado estético, de desrespeito a um patrimônio público e uma ameaça à segurança do pedestre, que corre o risco de tropeçar, cair e machucar.

Relembrando, mais uma vez para deixar bem destacado: todas as calçadas portuguesas da cidade estão em mal estado de conservação, como podem ser observadas no Paço Municipal, na Praça do Expedicionário e também no Centro Cultural.

No calçamento da rua Major Paulo o mesmo descaso com o calçamento

No Paredão, no centro histórico, o estado de abandono é o mesmo. Além de não reporem as pedras portuguesas, também várias pedras de minério se soltaram e estão pelos cantos da rua, exatamente pela falta de manutenção.

Volto a repetir: isso ocorre pelo fato de, em meio a tanta gente à toa sem fazer nada em cargos comissionados, a Prefeitura não possui de sequer um único artífice calceteiro para repor as calçadas.

As ruas Princesa Isabel e Major Paulo sofrem do mesmo mal do Paredão, tudo por falta de prévia manutenção – e de um bom calceteiro e de um cuidado especial com os espaços públicos. Os corrimões existentes em muitos passeios estão também precisando de reforma urgente.

A falta de manutenção preventiva esfacela qualquer discurso da administração municipal quando vem a público dizer que Itabira tem grande potencial turístico. Tiveram a coragem, pasme, de afirmar que esse “potencial” supera até o que oferece a cidade de Tiradentes. Era para rir se não fosse para chorar.

Iluminação foi restaurada na antiga praça do Zoológico: faltam outros reparos

Por fim, para não dizer que não há elogio no que escrevo, faço um: a antiga pracinha do
Zoológico voltou a ser iluminada.

Aliás, trata-se de um outro espaço público que precisa de mais cuidado, mas por favor senhores e senhoras administradores da coisa pública, não venham com esse papo de transformar a parte de baixo da praça que dá para a avenida Martins da Costa em área de estacionamento.

Ali é área verde, pertencente ao público – e não ao privado, como querem os que defendem a esdrúxula ideia de tirar uma parte da praça do povo para virar do automóvel. E para terminar, insisto mais uma vez: contratem logo um ou mais calceteiros. As nossas calçadas, e os pedestres, penhoradamente irão agradecer.

 

 

 

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5 Comentários

  1. Parabéns pela reportagem. Os passeios são armadilhas perigosas. Na avenida João Pinheiro os pedestres tem que desviar de bicicletas que usam os passeios para manobras perigosas colocando em risco o transeuntes.

    1. É mesmo triste toda esse desmazê-lo com a nossa cidade.
      Pagamos altos impostos para a manutenção da mesma e muito pouco é retornado ao cidadão face às necessidades corriqueiras.
      Neste caso dos bicicletistas nas calçadas da Av. João Pinheiro, deverá ser feito um acompanhamento dos agentes da TRANSITA coibindo este mal uso do passeio destinado aos transeuntes.
      Grato.

  2. Veja que o ABANDONO DO GOVERNO MUNICIPAL E A OMISSÃO
    DA CÂMARA MUNICIPAL É ASSUSTADOR.

    A iluminação pública no Centro, nas praças e nos bairros é lastimável.
    A escuridão dá toda oportunidade da ação criminal de vândalos e assaltantes de toda ordem sempre em plantão de 24hs.
    Está em estado lastimável também os cemitérios .
    A rodoviária e adjacências esta um verdadeiro lixo urbano.
    Isso esses vereadores muito bem remunerados não enxergam.
    Os pontos e as placas alusivas a pontos turísticos drummondianos, todos abandonados e enferrujadas, as quais deveriam ser trocadas por placas de aço inox.
    As ruas muito sujas com bueiros abertos entupidas de lixo.
    CIDADE EDUCATIVA, ESTAMOS MUITO DISTANTE.

    1. Prezado amigo, Dr. José.

      Muito interessante vossa resposta e suscita até uma nova crónica a respeito da iluminação pública. Parece que deixam alguns postes apagados para diminuir o consumo.

      As placas enferrujadas foram pensadas para ser assim, foi um teste in loco que não funcionou e devem ser substituída antes mesmo que faça dez anos da instalação das mesmas.

      O resto é o resto, como é o resto os nobres edis…

      Grato pelas nobres palavras,
      Mauro

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