As “bolhas” do nosso sofrimento

Veladimir Romano*

Vem de Zurique, na Suíça, uma notável observação demonstrando finalmente alguma clarividência, frontalidade e, de quem sabe analisar economia, fraude, falência financeira e estudos de mercado.

Quem demonstra tudo isso é Marc Faber, especialista com mais de 40 anos bombando seus conhecimentos generalizados em torno do que ultimamente tem acontecido quando debatemos mal amadas “bolhas”!

Sim, aquelas conservando maus resultados com aplicações, especulação procurando acumular proveitos financeiros… “bolhas” da tremenda crise transversal causando efeitos colaterais globalmente nefastos.

Com preços ainda agora derrapando e uma recuperação cheia de abrandamentos, juntou-se forçada atmosfera negativa criando sucessivos relaxamentos monetários a todos os níveis.

E o pior, sem flexibilização quantitativa ou seja: aquilo que técnicos do ramo financeiro apelidam de “resgate obrigacionista”, o QE3 onde nem os norte-americanos encontram qualquer inspiração de ordem capitalista, antes se interessam pela manutenção para que o seu dólar continue moeda forte.

Será bom analisar novamente e também como os EUA desde a criação da “Reserva e Tesouro Federal” depois de 1910, a famosa “verdinha”, até ao presente, a bem da verdade, já perdeu mais de 90% do seu real valor em poder de compra.

No entanto, às custas dos empréstimos retendo fantásticas fortunas nos seus bancos mas dinheiro pertencente a outros, como é o caso da Venezuela, que vê retidos nos cofres norte-americanos quase US$ 30 bilhões. Ou, ainda, o Irã com US$ 33 bilhões desses mesmos dólares à custa das “sanções”.

É que os senhores da Casa Branca, na compra de petróleo, se abriga ao direito, ainda que pagando, com todo esse dinheiro ficando retido em território norte-americano.

Assim se ajuda, com o dinheiro de outros, a sua balança de pagamentos, dando folga à economia doméstica e até externa a certos ciclos estratégicos.

Porém, está cada vez mais difícil continuar estabilizando o sistema bancário internacional medindo traumas e receios do rebentamento de novas “bolhas”, ferindo mortalmente outros parceiros bancários, aqueles que foram resistindo da primeira enxurrada com empresas do ramo imobiliário.

Com regras anteriormente estabelecidas em 1996 sobre o comportamento dos estabelecimentos [na época já alguma coisa se adivinhava, mas todos ficaram calados] bancários no mundo, entretanto nunca saíram do papel.

Promessas que países mais ricos, os G20, jamais cumpriram nas suas políticas monetárias, preferindo mais favorecer tentações egoístas e ganâncias. Igualmente alguma opinião pública foi adormecendo tanto quanto a imprensa e os especialistas da área econômica.

Amarrados ao sistema viciado, poucos aprenderam as lições; agora, aproveitando a presente crise sanitária, pretendem arrastar a China para que, neste imenso mercado, estoure uma nova “bolha” imobiliária em terras do dragão vermelho [o reboliço de Hong Kong não acontece por acaso].

Parece que ninguém entendeu o gigantesco mercado chinês com população superior a qualquer dos restantes continentes, quer seja EUA, europeu, africano ou Austrália.

Tanto quanto a cultura capitalista do chinês, que foge a todos e quaisquer esquemas mais ocidentais, bem bom seria os estrategistas ou fabricantes das “bolhas”, entenderem primeiro o processo cultural e económico da China.

Nesse país se punem especuladores quando praticam ilegalidade financeira com intuito de criar ruína. Esses (os banqueiros sujos) são enviados a galeria presidiária. E lá detidos, não pagam famosas mordomias nem propinas.

A China também não protege instituições praticantes de desvios éticos. Não se protege quem pratica corrupção e nada há de prêmios, pelo contrário, para quem desgraça a economia do país.

Pois, bem, não é que o acontece no mundo ocidental capitalista. Nada de bom acontece quando governos e governantes decidem salvar bancos condutores de falências criando grandes ou pequenas “bolhas”.

Com isso sofrem depois não só clientes desprevenidos como toda uma população suportando desmandos, desonestidade e declarado banditismo bancário.

Se descobriu em Hong Kong que metade das empresas deste comércio são fraudulentas e quando criaram sua “bolha”, 70% do mercado foi prejudicado.

Para onde foi o dinheiro dos clientes prejudicados? Seguramente, foi a China que acabou suportando dividendos de até 6%, tendo usado o dólar local para evitar problemas maiores.

Observamos nos primeiros 20 anos deste novo século várias implosões do sistema financeiro, o que tem criado péssima imagem, quando os malabarismos financeiros para salvar o sistema, colocam todos os dias milhões de vidas em perigo, privando-os de seus bens e necessidades de primeira ordem, relegando-os ao abismo da pobreza enquanto o processo bancário se recupera às custas do Estado, que, quando se trata de salvar o sistema, deixa de ser “Estado mínimo”…

Mesmo com todo esse escândalo financeiro, não houve condenações nos Estados Unidos, nem tão pouco julgamentos ou banqueiros encarcerados em presídios. Nem sequer foram julgados pelos tribunais.

Os traficantes de influências, fabricantes da desgraça, são de todo incorrigíveis como reafirma Marc Faber, quando descarrega esclarecimentos para depois aplicar nossas experiências, conhecimentos e até teorias sobre tamanho assunto, que deixou de ser local, ultrapassando fronteiras.

Para uns quantos privilegiados vão se mantendo em aparente tempo primaveril… enquanto a outros, maioria, chegou uma outra permanente temporada glacial.

Do atavismo descoberto por poucos anônimos, mais preocupados com as correrias diárias, igualmente não viram como a economia de um certo jeito imperialista se fundiu com economias bem nacionalistas.

Proliferaram, prevalecendo a dita aritmética do sistema econômico, como sempre favorecendo somente aqueles que sabem garimpar nas “bolhas”… E o povo fica vendo a banda passar.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

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