Ar em Itabira está irrespirável com incêndio florestal no Pontal, fuligem de queimadas e poeira de minério em suspensão
Fotos: Carlos Cruz/ Reprodução
Mais uma vez, repetindo o que acontece invariavelmente todos os anos, incêndios florestais vêm ocorrendo sucessivamente na região do Pontal, área que deveria ser protegida pela mineradora Vale, com vigilantes e pontos de observação para dar início imediato ao combate do fogo na sua gênese. Porém, não é o que se vê por essa área que deveria ter vigilância permanente.
O primeiro incêndio no Pontal, neste ano, ocorreu na manhã de sábado (10), mas mesmo avisados por sitiantes vizinhos, somente na parte da tarde chegaram os brigadistas contratados pela mineradora para iniciar o combate.
O incêndio foi parcialmente debelado, mas retornou com mais força no domingo e na segunda-feira – e até a presente data o fogo ainda arde, consumindo a vegetação, inclusive mudas nativas plantadas para fazer a conversão de floresta homogênea para a área ser novamente ocupada com espécies vegetais nativas, remanescentes da Mata Atlântica.
Perda da biodiversidade
O que se observa na área do Pontal são os eucaliptos sendo queimados verticalmente, pássaros sobrevoando perdidamente na fumaça. E até as mudas do próprio reflorestamento da empresa estão consumidas pelo incêndio.
É muita biodiversidade que se perde a cada ano com os incêndios florestais. Gaviões fazem a festa na caça de repteis mortos e atordoados com tanto fogo e fumaça. Não se sabe a dimensão dessas perdas, mas com certeza são imensas.
Se o Pontal é ainda uma área operacional da Vale, ou mesmo uma reserva legal, é mais um motivo para que a empresa tenha uma atenção maior nessa área. E mesmo que esses incêndios tenham sido provocados por ações de criminosos, muitas vezes vindos da rodovia, a obrigação de dar combate célere e eficiente é da proprietária.
As equipes de vigilância e de brigadistas são insuficientes e muitas vezes os equipamentos de combate ao fogo são insuficientes e incompletos.
Não há torres de observação na área do Pontal e os aceiros são insuficientes e com largura, em sua maioria, de apenas três metros, quando deveriam ser de seis metros. Com isso, o fogo passa da estrada para a área florestal com muita facilidade.
Doenças respiratórias
E assim as mudanças climáticas vão se agravando, tornando o ar cada dia mais irrespirável pelas fuligens das queimadas e dos incêndios florestais, que tendem a agravar até o fim da estiagem em outubro, se não houver atraso para o início do período chuvoso.
Com a soma das queimadas e incêndios florestais, tudo isso junto com a poeira de minério que chega à cidade todos os dias, com episódios mais críticos na estiagem e no mês de agosto com ventos mais fortes, essa situação irá se repetir mais vezes ainda neste ano. Está difícil respirar em Itabira.
O sofrimento é maior para os que são acometidos por doenças cardiorrespiratórias e ou pulmonares, com inflamação das vias aéreas superiores, diminuição da função pulmonar, o que aumenta o risco de hospitalização e mortalidade. Piora também as condições de saúde dos asmáticos.
Com toda essa situação repetida todos os anos, não se observam ações mais efetivas, tanto da Vale como da Prefeitura, no sentido de reduzir esses impactos, seja dando combate mais célere às queimadas e aos incêndios florestais, como também para o combate à poeira.
Mesmo com todos os episódios críticos de poeira, as ações de controle da Vale continuam pífias, quase inexistentes mesmo com o surgimento das pilhas a seco em vários pontos mais altos da serra do Esmeril, desprovida de vegetação desde 1985. A aplicação de polímeros nesses taludes tem sido insignificante pela dimensão dessas novas estruturas.
Isso sem que a mineradora adote medidas mais eficazes para conter o arraste eólico erm direção da cidade de partículas de minério em suspensão, provenientes de suas minas e das pilhas de estéril. As medidas de controle são as mesmas de sempre e invariavelmente ineficazes.
Vigilância na cidade
Já com relação às queimadas na cidade, a Prefeitura tem multado um ou outro proprietário que faz limpeza de lotes vagos queimando a vegetação seca, quando deveria adotar medidas mais coercitivas, inclusive indiciando criminalmente quem assim age ao arrepio da lei.
A polícia militar ambiental também precisa agir com mais firmeza com relação a quem promove queimadas, encaminhando as ocorrências ao Ministério Público para que possa ingressar com ações civil e criminal contra os incendiários.
Mas não é isso que vemos acontecer em Itabira, triste cidade poluída pela mineração e por ações criminosas de quem não respeita a vida humana e o meio ambiente. E assim segue agindo impunemente.
Vale diz manter 16 brigadistas em Itabira, número que tem se revelado insuficiente neste período de estiagem
A reportagem deste site encaminhou várias perguntas à mineradora Vale, indagando sobre o número de brigadistas mantidos em Itabira, e o que tem sido feito para efetivamente proteger os seus quase 15 mil hectares de floorestas de sua propriedade em Itabira que precisam a ser protegidas com mais empenho e eficácia.
Indagou também sobre o motivo da demora em dar início ao combate aos incêndios, como aconteceu e ainda está acontecendo na região do Pontal.
Eis a resposta da mineradora, como sempre evasiva e sem responder objetivamente aos questionamentos.
“A Vale esclarece que mantém uma equipe de 16 brigadistas e realiza, diariamente, monitoramento de suas áreas para prevenir e controlar incêndios.
Em relação à ocorrência mencionada (incêndio florestal no Pontal), a empresa acionou as autoridades competentes e apoiou no planejamento e combate direto, além de disponibilizar recursos como caminhonetes, caminhões-pipas, sopradores, bombas costais e drones.
As ações adotadas confinaram o local do fogo e impediram a propagação para o outro lado da via. As causas do incêndio estão sendo investigadas.
Cabe destacar, ainda, que ações de combate ao fogo exigem planejamento, como avaliação de riscos envolvendo queda de árvores, topografia do terreno, mudanças na direção do vento, condições de visibilidade e melhores locais de entrada, entre outros fatores, para salvaguardar a segurança das pessoas envolvidas na ocorrência.”