Alguma utopia enquanto o ouro sai do nariz
Lucas Ferraz*
Os itabiranos somos orgulhosos e temos uma das melhores reputações da literatura brasileira, mas infelizmente nestes dias bicudos nos transformamos em seres exemplares – nas instâncias estadual, federal e talvez até internacional – de que desgraça nenhuma chega sozinha. Os matutos das Minas, ressabiados de tudo e de todos, costumam aprender cedo essa regra.
Como todo o país, Itabira está emperrada e abatida numa crise política, social, econômica e, porque não, moral. Não bastassem os governos de Michel Temer, desde Brasília, e de Fernando Pimentel, em Minas Gerais, agora o senhor Ronaldo Magalhães, prefeito da calejada Itabira, também está em maus lençóis, acusado de abuso de poder econômico na eleição passada, quando ele foi eleito pela segunda vez para comandar a prefeitura.
Os aperreios federais são de conhecimento público, embora alguns patos ainda estejam atônitos e perdidos, uma particularidade do mundo animal.
O senhor Fernando Pimentel, do PT, governador de Minas desde 2015, vem sendo investigado por sérias suspeitas de corrupção – que atinge também a sua mulher, caso raro de jornalista com pouca experiência e em início de carreira a ficar subitamente endinheirada com milhões de reais.
Não é novidade no Palácio da Liberdade: os dois governadores anteriores, Antonio Anastasia e Aécio Neves, ambos do PSDB, também estão sendo investigados – como quase toda a classe política do país – por corrupção. E isso sem falar na calamidade financeira do Estado, um dos mais endividados do Brasil.
Exemplo maior dos desastres federal e estadual e como eles atingem diretamente Itabira é a BR 381, que liga a cidade a Belo Horizonte. A estrada da morte, como já foi chamada, tem um dos maiores índices de acidente por quilômetro do país. Sim, ela está em obras, mas desde quando mesmo? E até quando?
Menos de cinco meses depois de o senhor Ronaldo Magalhães tomar posse, eis que a primeira instância da Justiça Eleitoral condenou ele e sua vice-prefeita, determinando a cassação dos mandatos e a realização de novas eleições. Isso depois da última administração caótica afundar ainda mais as contas públicas do município.
Como ainda cabe recurso à decisão, o prefeito deve se manter no cargo por mais algum tempo – se depender da morosidade da justiça, pode ser que ele termine o mandato, em 2020, sem uma decisão definitiva do Tribunal Superior Eleitoral.
Mas se por acaso o processo andar, resultando em novas eleições, nem com isso o itabirano terá consolo. Haverá uma ou pelo menos duas lideranças preparadas para ocupar o Paço Municipal? Basta lembrar que o político que chegou em segundo lugar na disputa em Itabira no ano passado é um sujeito que se diz progressista, alinhado ao que se passou a chamar de “nova política”, mas que tem assessores que defendem abertamente – e sem qualquer constrangimento – a ditadura militar (1964-85). Ao menos não se pode dizer que Itabira não esteja conectada com os estranhos ventos nacionais.
Presenciei um dos exemplos da ruína itabirana muitos anos depois de sair da cidade. Em 2007, quando tinha acabado de me mudar para Brasília para trabalhar como jornalista, encontrei certo dia, num dos corredores do Congresso, o senhor João Izael, que fora vice-prefeito de Ronaldo Magalhães e à época era prefeito. Avistei-o por acaso, num dos corredores da Câmara dos Deputados. Ele estava só e perdido. Surpreso, parei para conversar: me apresentei, disse que era itabirano, e após algumas amenidades, ele me perguntou, meio sem jeito, se eu sabia onde ficava o Salão Verde, um das áreas mais concorridas do Congresso, na entrada do plenário da Câmara.
Indiquei-lhe o caminho, mas o lamento me consumiu por semanas: como pode o prefeito de uma cidade do porte de Itabira estar só, perdido no Congresso, sem um mísero deputado mineiro para acompanhá-lo? Duvido que algum político da cidade, dez anos depois, seja capaz de circular por Brasília com alguém que lhe mostre o caminho das pedras.
Infelizmente, não há para o itabirano futuro digno desse nome a curto ou médio prazo. A cidade continua extremamente dependente do minério de ferro e dos humores da commodity no mercado internacional – mais um sinal da internacionalidade da cidade e de sua dependência chinesa.
A bonança haverá de chegar em algum momento, acreditam os itabiranos – e mais uma vez ecoará a pergunta: para quê pensar em alternativa se temos tanto minério de ferro, o futuro do Brasil, que vai embora no maior trem do mundo?
Enquanto isso, melhor que continuemos a tirar ouro do nariz, mas pelo menos agora conectados nesta nova revista eletrônica, a Vila de Utopia, que é a melhor notícia em Itabira em muito tempo.
Afinal, todos precisamos de alguma utopia para sobreviver.
*Lucas Ferraz é jornalista
caro lucas, é impressionante o seu relato, eu que sou uma qualquer, des-honrada, in-distinta, des-respeitável, conheço o salão verde de várias idas por brasília, que é uma cidade bela e agradável.
sobre o derrotado mucida, penso que ele é um coxinha bundinha, nada mais do que isso.
imagine que ele inconsequente pediu o impeachment do prefeito damon… o que se pensa que é?
loucura este garoto rosinha que nunca chegará a vermelho.
mas corre o risco de se eleger – suruba geral!!!
mas de tudo o que a gente sabe, no brasil, nos estados, nos municípios é que não temos lideranças políticas, o que significa que o pior está por vir.
o pt abandonou a militância por estava/está comandado pela classe média engravatada, diplomada e doutorada em ego sublime.
e eu penso que precisamos de mais seu pratinhas, zés gominho, marias arruda, vicentinhos, rochinhas, lulinhas líderes sindicais, os verdadeiros trabalhadores.
o historiador jules michelet tem uma frase fundamental pra quem vive: “quem conhece a pobreza, sabe tudo”, grande verdade!
o jackes tavares abandonou a política, por que será?
o perigo das diretas já atende pelo pavoroso nome de bolsonaro… triste destino…
viva a esquerda populista e podemos, como podemos…
c’est une merd!!