Agricultura familiar alimenta o Brasil e cresce em Itabira com apoio à produção local

Foto: Divulgação

Neste sábado (25), o Dia Internacional da Agricultura Familiar marca um momento de reconhecimento global ao papel dos pequenos produtores na segurança alimentar, na preservação ambiental e no desenvolvimento territorial.

No Brasil, esse modelo produtivo responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos pela população, com mais de 3,9 milhões de estabelecimentos familiares que ocupam 23% da área agropecuária nacional e geram renda para mais de 10 milhões de pessoas, segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2024.

Produção voltada ao mercado interno e à soberania alimentar

Diferentemente do agronegócio voltado à exportação, que enfrenta instabilidades como o recente tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump sobre produtos brasileiros, a agricultura familiar se consolida como modelo produtivo voltado ao abastecimento interno.

Com apoio de programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PAA) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), os agricultores familiares têm ampliado sua produção e garantido alimentos saudáveis para escolas, hospitais públicos, creches municipais e mercados locais.

Itabira: estrutura fundiária e vocação agroecológica
Fonte: Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR)

Em Itabira, segundo registro no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a estrutura fundiária é composta por 1.754 minifúndios, 631 pequenas propriedades e 164 médias, totalizando 2.549 unidades produtivas que ocupam cerca de 64,5% da área rural do município.

Essa configuração favorece práticas agroecológicas e diversificadas, mesmo em áreas de relevo montanhoso, onde a mecanização é limitada. A vocação rural do município de Itabira ganhou força com criação da Associação dos Produtores da Agricultura Familiar de Itabira (Apafi), que atua na organização da produção e na articulação com o poder público.

Políticas públicas e investimentos locais fortalecem o setor

A Prefeitura de Itabira tem adotado políticas públicas para fortalecer a agricultura familiar como eixo estratégico da diversificação econômica.

Em julho de 2025, foi publicada uma chamada pública de R$ 898 mil para aquisição de alimentos da agricultura familiar destinados à merenda escolar, com exigência de produtos livres de agrotóxicos. Os itens incluem frutas, legumes, verduras e quitandas regionais, como rosquinhas caseiras e biscoito de polvilho, com entrega feita por grupos formais e informais de produtores locais.

Desde 2021, a patrulha agrícola foi reativada, oferecendo serviços de aração, gradagem, transporte e distribuição de calcário, com investimento anual superior a R$ 850 mil. A medida tem beneficiado centenas de produtores e ampliado a capacidade produtiva das pequenas propriedades.

Ipoema: referência em cultivo sustentável e inovação

Na comunidade de Ipoema, o cultivo de banana-prata e caturra tem se expandido com apoio da Associação dos Produtores de Banana de Itabira (Abanita) e da Emater-MG. A produção consorciada com hortaliças e leguminosas abastece escolas e feiras locais.

Em 2025, a Prefeitura entregou kits de irrigação em 14 propriedades da região e ativou uma câmara de climatização de banana no bairro Fênix, fortalecendo a cadeia produtiva e agregando valor à produção.

Agrowin e sucessão rural: preparando o futuro

O programa Agrowin – Caminhos para a Diversificação Econômica , desenvolvido pela Prefeitura em parceria com a Associação Comercial de Itabira (Acita) e Sindicato Rural, busca fortalecer agroindústrias e garantir a sucessão familiar no campo.

Protocolos de intenção foram assinados para transformar o antigo núcleo escolar do Bom Jardim em espaço de processamento de alimentos e para incentivar jovens rurais com capacitação e fomento. A iniciativa também prevê convênio com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para o desenvolvimento sustentável da pecuária bovina no município.

Itabira Sustentável: agricultura como eixo estratégico

A agricultura familiar integra também o projeto Itabira Sustentável, que reúne 61 projetos estruturantes para preparar o município para o futuro pós-mineração.

Entre eles, estão o Programa Municipal de Agropecuária Sustentável, o Fomento à Agroindústria e ações de capacitação para agricultores familiares, com apoio da Emater-MG e da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento.

É assim que neste 25 de julho, Itabira pode sustentar que a agricultura familiar diversificada e produtiva é mais do que uma alternativa — é um dos caminhos certos para a diversificação econômica diante da iminente exaustão da mineração.

Com estrutura fundiária favorável, organização comunitária, políticas públicas eficazes que assegurem o escoamento, mercado consumidor, e ampliando a vocação agroecológica, o município busca construir um novo horizonte de desenvolvimento sustentável, inclusão social e soberania alimentar.

Alimentação saudável para viver melhor e por mais tempo

Neste Dia Internacional da Agricultura Familiar, é essencial destacar que o fortalecimento da produção local não apenas garante soberania alimentar e desenvolvimento territorial — como também está diretamente ligado à saúde e à longevidade da população.

O exemplo da Península de Nicoya, na Costa Rica, estudado pelo especialista em longevidade Dan Buettner, mostra que uma alimentação simples, baseada em produtos locais e naturais, pode ser um dos segredos para viver mais e melhor.

Lá, o café da manhã tradicional é composto por tortilhas de milho nixtamalizado, feijão temperado, arroz, pimentão, cebola, ervas frescas e café moído pela própria comunidade. Essa combinação oferece carboidratos complexos, proteínas vegetais, fibras e minerais essenciais como magnésio, ferro, cálcio e potássio — nutrientes que ajudam a manter o equilíbrio metabólico, a saciedade e a saúde celular.

No Brasil, a agricultura familiar tem papel semelhante. Ao produzir alimentos diversificados, livres de agrotóxicos e voltados ao mercado interno, ela contribui para uma alimentação mais saudável e acessível.

Em Itabira, por exemplo, a chamada pública para a merenda escolar exige produtos naturais e regionais, como frutas, legumes e quitandas tradicionais. A patrulha agrícola, os kits de irrigação e a câmara de climatização de banana são investimentos que ampliam a oferta de alimentos frescos e nutritivos para milhares de estudantes e famílias.

Nessa mesma direção, a campanha nacional Brasil que Alimenta, coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social, reforça essa lógica: mais de R$ 2 bilhões foram investidos nos últimos dois anos na compra de alimentos da agricultura familiar, destinados a cozinhas comunitárias, escolas e hospitais. A meta do governo federal é clara: garantir que todos os brasileiros tenham acesso diário a refeições dignas e saudáveis.

Neste Dia Internacional da Agricultura Familiar, fica o convite à reflexão: comer bem é um direito, e valorizar quem produz comida de verdade é um passo essencial para viver com mais saúde, dignidade e tempo.

Em Itabira e em tantas outras comunidades rurais, a agricultura familiar mostra que o futuro da alimentação já está no campo — e que esteja, cada vez mais, na mesa da maioria da população brasileira, livre de alimentos ultraprocessados.

A expectativa de vida em Nicoya, na Costa Rica, supera os 90 anos — e um dos segredos está no prato: alimentos frescos, locais, minimamente processados e ricos em leguminosas, vegetais e preparações caseiras.

Esse padrão alimentar, estudado por especialistas como Dan Buettner nas chamadas “Zonas Azuis” do planeta, também está presente em comunidades como Okinawa, Icaria e Sardenha, onde as pessoas vivem mais e com qualidade.

Saiba mais aqui: Exame – O café da manhã mais saudável do mundo, segundo Dan Buettner.

Que esse modelo de vida simples e nutritiva também floresça no Brasil, sobretudo em tempos de tarifaço internacional que afeta commodities exportadas e reacende o debate sobre a soberania alimentar.

A valorização da agricultura familiar e do mercado interno abre espaço para um novo capítulo, livre dos produtos ultraprocessados importados, que há décadas ocupam lugar de destaque nas prateleiras e contribuem para o avanço das doenças alimentares.

Ao vigorar a tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que se aplique também a reciprocidade: que o Brasil fortaleça seu controle sobre os alimentos que entram no país e taxe com rigor aquilo que ameaça a saúde pública, como os refrigerantes e snacks ultraprocessados, com destaque para a Coca-Cola, que se tornou, para muitos, símbolo de uma cultura alimentar imposta pelo consumo e pelo marketing agressivo.

Que o brasileiro, ao se reconectar com suas raízes e com os saberes da terra, volte a saborear os sucos naturais de laranja, acerola, limão, tangerina, maracujá, caju, goiaba, manga, abacaxi e tantas outras frutas nativas que brotam generosamente do solo fértil do país.

Que na merenda escolar, nas feiras livres, nos cafés da manhã e nas refeições do dia a dia, predomine a comida de verdade, aquela que alimenta, cura e fortalece.

Neste sábado, Dia Internacional da Agricultura Familiar, é tempo de reafirmar: produzir com diversidade e consumir com consciência é garantir mais saúde, mais vida e mais dignidade. É nessa terra dadivosa, onde tudo se planta e tudo dá, basta cuidar de quem cultiva e valorizar aquilo que vem da roça para a mesa.

 

 

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