Administração passada constrói ETA que não funciona em Serra dos Alves, ao invés de melhorar a captação da água de nascentes

Foto: Eduardo Cruz

“Descrever os piores cenários ajuda educar as pessoas, reduzindo as probabilidades de alguns desses cenários se tornarem realidade”, recomenda José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia

Por Carlos Cruz

Na opinião do engenheiro sanitarista, Paulo Therezo, na administração passada ocorreu uma inversão de prioridade. “O poder público municipal desconsiderou a possibilidade de adequação do sistema de abastecimento de água existente, baseado em captação em nascente e distribuição por gravidade, mais sustentável e de menor custo de implantação e operação”, recorda.

“Ao invés disso, priorizou apressadamente solução mais complexa, incluindo captação de água no Rio Tanque, construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) convencional, com duas etapas de bombeamento, operadas com equipamentos elétricos, cujas características são incompatíveis com o padrão de fornecimento da concessionária de energia pela Cemig, o que impede a sua alimentação e entrada em operação.”

Além de considerar a tecnologia inadequada, por ser incompatível com a realidade local, Paulo Therezo sempre foi um crítico de sua instalação, em uma localidade onde há água em abundância de ótima qualidade nas nascentes, demandando apenas um tratamento simplificado e uma melhor rede de distribuição.

“Construíram uma ETA convencional para captar água de superfície, que terá de ser tratada com produtos químicos, sem necessidade, na minha avaliação”, observa.

“A melhor alternativa, que precisa ser viabilizada pela administração municipal, por meio do Saae, é melhorar o sistema de captação de água de subsuperfície, das nascentes, nos pontos onde já é captada, aumentando os pontos de captação, se necessário ”, sugere.

“E preciso também diminuir as perdas na rede de distribuição que hoje ocorrem com os ‘puxadinhos’, com cada novo proprietário fazendo a ligação sem observar os requisitos técnicos aplicáveis”, constata, avaliando a necessidade de setorização da rede de distribuição por zonas de pressão.

Isso por haver maior pressão de água na rede da parte baixa da vila, que dada a sua precariedade, resulta em mais vazamentos. Isso enquanto na parte alta da vila a pressão é menor, o que vira um problema para quem vive nessa localidade, com a constante falta de água nas residências, sobretudo em ocasiões de consumo elevado com o maior fluxo de turistas.

“O resultado é uma rede cheia de remendos com vazamentos. Além disso, vários trechos da rede não foram instalados com profundidade adequada, sujeitando a tubulação a rompimentos devido ao tráfego de veículos”, acrescenta.

“São essas precárias condições que fazem parecer que a atual forma de captação possa parecer insuficiente. O certo é refazer a rede com base em projeto de engenharia, seguindo critérios das normas técnicas aplicáveis”, recomenda.

“E só fazer a ligação de nova residência à rede conforme normas técnicas da concessionária, e só naquelas que estiverem em situação legal, dentro das normas e da legislação.”

São questões básicas, diz Therezo, facilmente solucionáveis. “Mas preferiram construir uma ETA convencional, de operação mais complexa, cara e suscetível a períodos de interrupção na operação, mesmo que se equacione o problema de fornecimento de energia elétrica junto à concessionária”, critica.

“Para captar água do rio, vai ser preciso uma bomba para levar até a ETA, e de lá uma segunda bomba para levar a água até o reservatório atual na parte mais alta, sendo de lá distribuída pela rede, por gravidade. E olha que nos períodos chuvosos não é raro faltar energia elétrica no povoado, às vezes  por mais de um dia”, testemunha.

Água de nascentes

Agua do rio Tanque em suas nascentes na Serra dos Alves é limpa, ainda sem poluição. Mas sua captação para consumo humano é onerosa, enquanto se captada das atuais fontes com rede de distribuição revitalizada, e tratamento simplificado, é a mellhor opção, aponta engenheiro sanitarista (Carlos “Cabeça” Andrade)

Para o engenheiro, a prioridade em Serra dos Alves não é tratar água do rio. Isso pelo fato de o povoado dispor de nascentes com água limpa. “Para atender ao padrão de potabilidade, a água de nascente só precisa de uma aplicação de cloro, ou no máximo filtração”, prescreve.

A captação da água do rio, além de ser mais onerosa, em termos energéticos, fornece água turva em época de chuva, o que torna o tratamento mais complexo e caro.

“Tem, nesse caso, que fazer o tratamento convencional, com coagulação e floculação, com uso de produto químico, geralmente sulfato de alumínio, decantar, filtrar, gerando lodo de tratamento, um resíduo a ser descartado adequadamente. Isso onde tem água de nascente de boa qualidade, o que é um contrassenso”, considera.

Já o tratamento com água das nascentes,  que apresenta ótima qualidade, é bem mais simplificado. E, no caso da Serra dos Alves,  chega às residências por gravidade.

“Basta colocar um clorador de contato, que consiste em um tubo plástico contendo pastilhas de hipoclorito de cálcio, semelhante ao que se usa em piscina, que funciona de forma passiva. E no reservatório chega uma água própria para o consumo, não precisa mais que isso, na maioria das vezes”, defende Paulo Therezo.

“Se houver presença de sólidos em suspensão na água, basta inserir filtros de areia abaixo da captação. Já a ETA virou um elefante branco, sem finalidade”, insiste o engenheiro sanitarista, repetindo o óbvio ululante que a miopia municipal, ou interesses inconfessáveis, não quis perceber.

“O Saae considerava a água das nascentes imprópria para consumo humano, mas sem especificar se tal consideração estava baseada em análises laboratoriais, tanto da nascente atualmente em uso, quanto do rio Tanque”, recorda.

“Que se façam então análises pelo próprio SAAE ou pela Unifei, comparando a qualidade dessa água de nascente com a do rio Tanque, em períodos seco e chuvoso. Certamente, a água das nascentes apresentará melhor qualidade”, aposta.

 

 

 

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1 Comentário

  1. Coitado do Rio Tanque, como sofre.
    Essa de captar água bem próximo ao início do curso do rio é por si só uma coisa escabrosa, juntando que tem água de nascente próxima ao povoado então nem se fala.
    Os doutos técnicos responsáveis do SAAE parece que não fizeram um estudo técnico de qual das captações seriam mais viáveis e a administração passada comeu mosca nesta.
    Jogaram dinheiro fora, que triste…

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