A vergonha da humanidade
Pintura de José Jiménez Aranda, A escrava à venda, 1897
Por Marcos Schmidt
Divulgação de fatos e conhecimentos: ciências e afins – Uma jovem escrava, completamente nua, está sentada em um tapete. O letreiro que ela usa no pescoço traz uma inscrição grega (Rosa, 18 anos, à venda por 800 moedas), oferecendo-a como mercadoria em um mercado oriental. Ela inclina castamente a cabeça para esconder sua vergonha.
Atrás dela, os pés de seus possíveis compradores são visíveis ao seu redor para observar sua nudez indefesa. É uma das pinturas mais emblemáticas de Jiménez Aranda, bem como um dos nus femininos mais interessantes da pintura espanhola do século XIX.
É também uma pintura verdadeiramente única na obra do artista sevilhano, que inclui uma seleção surpreendentemente pobre de nus femininos em muito poucos cenários orientais, apesar do fato de que tais obras se tornaram moda algumas décadas antes no mercado internacional.
A concepção desse nu, por outro lado, revela uma visão totalmente naturalista do corpo feminino, com uma definição corporal que poderia estar ligada ao amplo uso da fotografia naquele período como elemento de estudo e análise do corpo humano no contexto das disciplinas artísticas.
Aqui Jiménez Aranda dá à postura casta da jovem uma sensualidade evocativa que brota de uma interpretação imediata e vibrante de sua nudez em tom absolutamente naturalista.
A modernidade do ângulo de visão íngreme para baixo é muito impressionante, colocando o espectador consideravelmente mais alto do que a jovem, sugerindo perfeitamente o ponto de vista do círculo de homens que lascivamente cercava a jovem humilhada.
Ao pintar apenas os pés, sem expandir o campo de visão, ele se concentra na sensação degradante e vergonhosa produzida pelos olhares de possíveis compradores ao redor da escrava, dando assim um grande efeito narrativo à composição.