A torcida e o juiz do tapetão
Igor Guerra*
A torcida por um juiz ou time (lava-jato) que joga com 12 em campo, mais a mídia que censura os melhores momentos do time adversário, não é de massa. Muito menos é espontânea, mas guiada sob uma força que busca sectarismo, cada um por si.
Um jogo desvantajoso e forçado, como numa pelada em que um dono da bola chantagista define as regras, favorecendo a si mesmo. Como um operador do tapetão, que esconde comparsas e derruba quem incomoda seus planos.
Uma torcida que cantou vitória nas redes sociais, arrancou uma presidente, foi às ruas, vestiu a camisa e cumpriu às preces a vontade de sua entidade, os donos da bola, que alimentam esse desejo de aumentar privilégios ao som de panelas vazias.
Torcida que carrega um mascote empresarial, a instalação de uma estrutura golpista e uma promessa burguesa de felicidade. Querem um time neutro e contra a corrupção, dizem. Essa metáfora só cabe às sombras do futebol.
Esse sistema, empresas-Estado-mídia, que permite tolerantemente protestos sociais liberais e condições humanitárias limitadas, é o mesmo que desova as fisionomias patéticas e não orgásticas que são os seus fantoches.
Basta olhar para o fora-Temer, Dória e Bolsonaro. Além disso, é o mesmo a espetacularizar a democracia através das manipulações (mídia e campanhas eleitorais).
Não-orgástico porque não se ajusta aos sentimentos das pessoas, mas carece de disciplina sob tensão: emana temor e é compulsiva.
Esses fantoches e seus mini-equivalentes só têm um ato: o mesmo do sistema que os vomitou como não-realidades ativas. Ou seja, cumpridores do seu complexo de papéis.
Esse complexo se estende à medida que somos desviados a pensar eurocêntrica e norte americanizadamente. À medida que desaparecem com a cultura nacional e estimulam as estrangeiras, por uma ideologia de consumo vantajosa aos países ricos.
À medida que se expande a monocultura agrícola. À medida que as Universidades entregam a ciência às revistas “internacionais” e as patentes vão para as transnacionais. À medida que nós, subdesenvolvidos, não podemos ter pensamento próprio, torcemos para o dominador, o dono da bola.
O sono do auto-conhecimento mantém nossa colonização. E “para acordar nossa mente repressora é preciso libertar o êxtase: o prazer criativo, o sofrimento e a aceitação dos riscos. Que é a libertação de cada um para todos.”(David Cooper, em a Gramática da Vida).
A arte, o amor, o conhecimento e a solidariedade são revolucionários, alteram a história de uma pessoa ou do mundo. Põem a bola em campo, todos de igual para igual. Sem os donos da bola, cada um por todos, leva a geral à loucura, mostrando a beleza do verdadeiro jogo.
*Igor Guerra é estudante de agronomia nas horas vagas
Igor guerra (guguinha), o mito das palavras