A terceira via pode não ter voto para decolar
Rafael Jasovich*
A variedade de políticos que se apresenta à população como terceira opção de voto para as eleições presidenciais do ano que vem dificulta a construção de uma candidatura que seja forte o suficiente para bater de frente com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Enquanto os dois principais nomes da política nacional detêm uma parcela importante do eleitorado, a pulverização entre os demais candidatos afasta a possibilidade de que algum deles mude o destino do pleito.
Por mais que algumas estatísticas apontem a intenção de parte dos brasileiros de votar em um nome que não seja Bolsonaro ou Lula, como o recorde de abstenções nas eleições de 2018 (42,1 milhões de brasileiros votaram nulo, branco ou não compareceram ao local de votação), a impressão de momento é de que a terceira via não vai decolar.
Um retrato disso foi o pouco contingente de manifestantes nos atos de 12 de setembro, organizados pelo Movimento Brasil Livre (MBL), que tiveram como pauta o impeachment de Bolsonaro.
O fato de o PT não ter aderido ao ato, ao contrário do que fizeram potenciais presidenciáveis, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e Ciro Gomes (PDT), esvaziou o protesto e mostrou uma aparente rejeição à terceira via.
O eleitor ainda não conhece essa terceira via. Um candidato não é escolhido pela população, ele é trabalhado internamente e apresentado à população como alguém presidenciável.
Ter várias terceiras vias atrapalha, porque você fragmenta esses votos.
Ao contrário de Bolsonaro e Lula, a terceira via não consegue aglutinar um mesmo perfil de eleitores devido à pluralidade de pautas que são defendidas entre os seus candidatos.
Por enquanto, o melhor caminho para a terceira via ganhar força é que Bolsonaro ou Lula fiquem inelegíveis. Representantes da terceira via monitoram, por exemplo, a possibilidade de o atual presidente ficar de fora do pleito de 2022 por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode torná-lo inelegível no inquérito aberto para investigar os ataques ao sistema eleitoral e à legitimidade das eleições.
Nos próximos meses, os defensores de uma candidatura alternativa devem intensificar a mobilização pelo impeachment do atual presidente.
No Congresso Nacional, parlamentares tentam se organizar para promover atos em todo o país no feriado de 15 de novembro.
Para a senadora Simone Tebet (MDB-MS), as manifestações podem ter sucesso porque, até lá, a CPI da Covid já terá apresentado o relatório final, com diversos crimes imputados a Bolsonaro.
“Há um consenso entre os partidos de que há um ataque constante à imprensa livre, aos outros Poderes da República e aos pilares da democracia. Temos esse consenso. O que falta, agora, é um diálogo para entender como caminharemos juntos”, afirma.
Prévias no PSDB
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), participa de uma reunião hoje, às 12h, na sede do PSDB em Brasília para tratar de sua pré-candidatura à presidência da República. O tucano estará acompanhado do senador Izalci Lucas (PSDB-DF).
O governador paulista possui, até o momento, um terço da preferência do PSDB para as prévias da legenda, que acontecerão em novembro.
Nos últimos meses, visitou diferentes estados do país em busca de apoio. O maior adversário de Doria é o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Ciro Gomes (PDT)
Terceiro colocado nas últimas pesquisas sobre intenção de voto se credencia como um candidato de centro-esquerda.
Durante as manifestações de 12 de setembro, Ciro conseguiu aplausos de um público formado por eleitores de direita e centro-direita, que o pedetista precisa conquistar para ter chances de chegar ao segundo turno.
Aliados intimaram Ciro a melhorar nas pesquisas, caso contrário o abandonarão e não sabemos se pagarão a passagem para Paris.
Eduardo Leite (PSDB)
O governador do Rio Grande do Sul é o principal adversário de João Doria nas prévias do PSDB.
Apesar de não possuir um trunfo tão forte como o paulista, que ganhou popularidade ao garantir a chegada da CoronaVac ao Brasil, Leite possui apoio de uma parcela importante da legenda, como dos ex-presidentes da sigla Pedro Tobias e Antonio Carlos Pannunzio.
Para os tucanos, Eduardo Leite tem condições de “unir o país”.
Rodrigo Pacheco (DEM)
De perfil moderado, o presidente do Senado é tido como um nome que pode garantir serenidade em meio às tensões vividas no país.
Pacheco vem assumindo o papel de “apaziguador” diante dos recentes embates entre o Executivo e o Judiciário, o que agrada aos políticos que defende uma candidatura alternativa ao Planalto. Ele é a aposta do presidente do PSD, Gilberto Kassab, para disputar o pleito em 2022.
Sérgio Moro (sem partido)
O ex-juiz Sérgio Moro, ex-cabo-eleitoral e ministro de Bolsonaro, inquiridor da Lava-Jato, é outro nome que trabalha para ser o candidato da terceira via. Atualmente está nos Estados Unidos onde mora e anda trabalhando em consultorias.
Mas já deu sinais de que ainda pretende se habilitar como terceira via do centro contra o presidente e o candidato do PT.
Seus apoiadores o aguardam para o final do mês no país, quando deve decidir sobre sua filiação partidária, pré-requisito caso queira mesmo colocar o seu nome no escrutínio de 2022. Possivelmente ele deve se filiar ao Podemos.
A conferir
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional.