“A minha diferença com o presidente da Câmara não é ideológica, mas de compromisso. O meu é com o social, o dele é com o grupo econômico que já governou Itabira”, diz o prefeito
Fotos: Carlos Cruz
Não haveria como encerrar esta série de entrevista com o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) sem falar de política, que está intrínseca e dita as diretrizes da administração pública, ainda mais quando o próprio chefe do executivo itabirano antecipa o processo eleitoral, lançando-se candidato à reeleição em outubro de 2024.
Nessa última parte dessa longa entrevista, o prefeito diz acreditar que o seu posicionamento favorável à eleição de Lula não impede que continue tendo o apoio e a parceria do vice-prefeito Marco Antônio Gomes (PL), com quem se identifica pelo compromisso com o social, com os hipossuficientes que mais precisam da ação da Prefeitura.
“Diferentemente de Heraldo Noronha (vereador, presidente da Câmara), que também apoiou Lula, mas com quem temos profundas divergências na política municipal. Ele apoia o grupo político e econômico que me antecedeu na prefeitura, com as suas políticas voltadas para uma minoria, a elite econômica de Itabira. Meu compromisso é com o social, com quem realmente precisa do apoio e das políticas públicas da prefeitura. Esperamos derrotar esse grupo novamente nas urnas, com o apoio da maioria do povo itabirano”, acredita o prefeito. A conferir (Carlos Cruz)
Prefeito, o seu pronunciamento falando em reeleição gerou muitas controvérsias, críticas e apoiamentos a esse lançamento extemporâneo de candidatura. Já que está posta, o que o faz acreditar na reeleição, lembrando que somente João Isael conseguiu sucesso em Itabira ao se reeleger em 2008. Todos os outros que tentaram, fracassaram. Acredita que essa história pode ser mudada?
Faltando ainda um bom tempo da eleição, é difícil fazer um prognóstico, mas acredito que o povo itabirano terá discernimento para aprovar as nossas propostas, avaliando positivamente o nosso governo. O resultado só saberemos nas urnas, depois da apuração.
O me leva a acreditar na reeleição é a certeza de que estamos no caminho certo, fazendo as coisas certas que estão amadurecendo e os resultados já estão aparecendo. Temos um projeto político e administrativo em curso para transformar a nossa cidade, distritos e todos os povoados que fazem parte deste nosso extenso município.
Temos recebidos feedbacks das pessoas, muitas com críticas e isso é bom, agrega e faz melhorar, são positivas. Muito diferente desse feedback que parte da imprensa, ligada ao grupo político e econômico que antes governava a cidade, quer passar para a população.
Outra coisa é o feedback que recebemos das lideranças comunitárias, das associações de moradores, das entidades de classe, do cidadão comum. É esse retorno que interessa.
Não acha que nessa guerra de narrativas em curso com a oposição, a situação está perdendo? Não seria interessante mostrar as realizações, muito mais que os projetos que ainda estão por vir?
Concordo, precisamos melhorar a nossa comunicação pela mídia, mas também nas ruas, no contato direto com a população. Já estamos vivendo essa guerra de narrativas e a política está diretamente nos debates e enfrentamentos. Que sejam democráticos e respeitosos.
Mas o que estamos vendo é parte da imprensa agindo com o único propósito de desconstruir a nossa imagem, tem sido muito instrumentalizada para esse fim. Não divulga nada de positivo que está acontecendo na cidade, na administração municipal, só o que é negativo ou o que vê como sendo negativo, sem a necessária e correta apuração jornalística.
Em todas as áreas estamos entregando aquilo que preconizamos, sintonizados com a vontade popular, com o nosso plano de metas para a saúde, educação, cultura, esportes, lazer.
Quando perguntam onde está o dinheiro de Itabira, o que responde?
Respondo que está nas reformas que estamos fazendo nas escolas muicipais, o que deve incluir todas, sem exceção. Estamos zerando o déficit de creche em Itabira pela primeira vez, assim como estamos mudando o perfil do ensino municipal, com o conceito da escola integral que estamos para implantar, com novas metodologias de ensino e robótica nas escolas.
Estamos preparando para ser a primeira cidade do Brasil a ter 100% dos alunos das escolas municipais estudando arte e esporte no contra turno escolar. Estamos investindo na saúde, fazendo essa inversão importante, investindo mais na rede primária e na saúde pública com saneamento básico.
Itabira ainda trata apenas 43% do seu esgoto, queremos chegar a 80%, quando o ideal, e a obrigação, é ter 100% do esgoto tratado, o que deve alcançar também os distritos de Ipoema e Carmo, com os povoados, tratando os efluentes para não mais poluírem os cursos d’água.
Estamos investindo nos esportes como nunca antes aconteceu em Itabira. Vamos inaugurar em breve, na antiga malharia Fio de Ouro, em um espaço que estava abandonado, um espaço para figurar entre os melhores centros de ginástica olímpica de Minas Gerais e do país.
Tudo público, investimento municipal em favor da juventude itabirana, dinheiro que retorna para o público.
Na cultura, se é fato que aumentou o número de eventos, ainda não se tem uma política cultural definida e que possa ter prosseguimento. Como fica?
É verdade, aumentamos o volume de eventos, mas falta estruturar uma política cultural duradoura, posta em lei para que tenha continuidade, trazendo bons resultados.
Até o fim do ano devemos apresentar uma proposta de política cultural, inclusive remodelando os museus (de Itabira e do Tropeiro, em Ipoema), além de criar novos.
Vamos ter um novo projeto de biblioteca pública e para isso estamos tendo assessoria de pessoal técnico da biblioteca municipal de São Paulo, que já está nos ajudando a pensar algo bem diferente. Isso para que seja uma biblioteca viva, interativa.
Mas tudo isso é para ser concluído em seu governo?
A maior parte, sim, principalmente ainda neste ano. Se não der, que seja no ano que vem, ainda que deixando outros projetos prontos para a próxima gestão, seja lá quem for o prefeito.
É preciso dar continuidade aos bons projetos, que estejam bem estruturados, prontos para execução, como é o caso do projeto Itabira Sustentável que iremos apresentar à sociedade itabirana até agosto.
Insisto, vai ter tempo com tantos projetos ainda por executar?
Vamos trabalhar muito para acontecer, nem que tenha de dormir quatro horas por noite. Vamos lutar para diminuir a pobreza em nosso município, com políticas públicas que beneficiem a maior parte da população, melhorando a assistência social. Infelizmente, temos em Itabira 12,6% da população vivendo em situação de extrema pobreza.
Isso é muito triste e contraditório para uma cidade rica, que ainda conta com os royalties do minério.
Sim, ainda temos esse percentual, infelizmente. Então precisamos investir muito mais na assistência social, na saúde, no saneamento básico e na zeladoria urbana, no esporte, cultura e educação.
Acredita que esse investimentos serão perceptíveis pela população a ponto de reverter em prol de sua recandidatura?
Acredito que mesmo com toda campanha contra e difamatória, os resultados serão bem perceptíveis, por mudarem a vida das pessoas. O nosso governo já tem impactado positivamente a vida de muitos moradores e outros resultados ainda virão, é só uma questão de tempo.
A nossa expectativa é que a população entenda cada vez mais que o nosso governo representa os anseios da maioria da população. É isso que nos leva a acreditar na reeleição.
Ao que tudo indica, talvez até pelo apoio declarado à candidatura vitoriosa de Lula, enquanto a maioria dos políticos locais ficou em cima do muro ou apoiando a candidatura derrotada nas urnas, a sua reeleição possa perder apoios importantes dos evangélicos e dos antipetistas que apoiaram o seu nome para prefeito em 2020. Acredita que vai ter esses apoios novamente, inclusive do vice-prefeito Marco Antônio Gomes?
Acredito que sim. Nós temos diferenças ideológicas, como é o caso com o vice-prefeito, mas estamos de acordo com as políticas de governo. Não sou de ficar em cima do muro e o meu posicionamento nas eleições foi uma maneira de ser sincero e honesto. O meu posicionamento ideológico define políticas públicas populares, faço parte de um partido que tem essa visão social.
Outra coisa é o posicionamento do prefeito enquanto gestor, como síndico da cidade, o que ele está fazendo para o povo. Eu tenho amigos bolsonaristas que entendem bem essas diferenças, que debatem comigo democraticamente, sem imposições.
Se o prefeito é socialista no sentido de buscar uma melhor distribuição da riqueza, com justiça social e políticas públicas, isso deve ser analisado sob o ponto de vista das realizações, dos retornos sociais que esses programas estão tendo. O vice-prefeito Marco Antônio Gomes endossa essas políticas, assim como muitos outros apoiadores que não são de esquerda.
Trabalhamos juntos por justiça social e assim devemos continuar em benefício da maioria da população, e não em prol de um grupo restrito, de interesse privado, como vimos na gestão anterior, quando a prefeitura virou balcão de negócios. Isso não pode se repetir em um município com mais de R$ 1 bilhão de arrecadação, que precisa urgentemente reverter a situação de extrema pobreza de parte da população e ainda assegurar o futuro sustentável do município sem a mineração.
Acredita que a maioria da população já sente que esse dinheiro vá reverter em seu favor ou isso está ainda só no discurso?
Creio que é perceptível pela maioria, que a nossa administração não está voltada para atender aos interesses de uma elite econômica, mas está a serviço do bem-estar da população, com estratégia e planejamento – e isso as pessoas que estão contra não querem e não vão enxergar.
O vice-prefeito, que é evangélico e pastor, participa de tudo isso. Temos um diálogo muito positivo. Sabemos que temos diferenças ideológicas, mas ele me respeita como eu também o respeito. E apoia quase tudo que fazemos, embora possa ter algumas restrições, o que é normal em uma relação democrática.
Teve o embate na nomeação da secretária de Educação e na proposta de criação do conselho municipal LGBTQI+, que está parado na Câmara indefinidamente.
Pois, é temos essas diferenças, mas elas não nos impedem de continuar juntos pelo social que acreditamos. Eu apoio a criação do conselho e gostaria que fosse aprovado na Câmara para ser sancionado.
Agora essas diferenças ideológicas vão continuar, não vejo como problema insanável. O que temos de ter é um programa mínimo de governança que priorize a questão social em favor dos necessitados, o que é também o olhar do vice-prefeito que coincide com as minhas convicções quanto aos resultados de nossas políticas públicas.
A minha expectativa é para que possamos continuar juntos, mantendo a esperança e a ação nos próximos dois anos e quatro meses que nos restam à frente da administração municipal. O vice-prefeito nunca foi ao meu gabinete reivindicar alguma coisa que não seja correta, que não fosse republicano. São essas coisas que nos unem a ponto de nossas diferenças ideológicas não nos separarem.
Ainda na questão ideológica, a sua identificação seria com o presidente da Câmara, vereador Heraldo Noronha, ainda no PTB, mas que já adiantou que migra para o PT assim que abrir a janela partidária sem incorrer em infidelidade. Ele também apoiou Lula, no entanto, na política municipal, vocês estão em campos opostos.
Pois está aí um bom exemplo de que na política municipal as diferenças e as convergências ideológicas nem sempre importam. Se eu tenho afinidade ideológica com o presidente da Câmara, isso não resulta em apoio à nossa política e administração municipal.
O presidente da Câmara apoia o grupo político e econômico que sucateou a nossa cidade nos últimos anos.
E que vai vir forte para disputar a eleição com o objetivo de retornar à Prefeitura.
Com certeza, esse grupo tem muito poder econômico. Vai disputar comigo e provavelmente vamos derrotá-lo novamente.
A minha divergência com Heraldo não é ideológica, são profundas diferenças em relação ao modelo de gestão da cidade.
O modelo que ele apoia, eu jamais apoiaria. É diametralmente oposto à minha relação com o vice-prefeito Marco Antônio Gomes, que jamais apoiaria um modelo de gestão à semelhança do governo passado, que foi de exclusão social, voltado para uma minoria, a elite econômica de Itabira.
O problema essencial não está na prefeitura e câmara está junto ao povo que idolatra a mineradora, está na alma de um povo que não reconhece deveres e direito. Esteve no Rio, o grupo das instalações culturais para visitar museus. Foi um escândalo, comportaram sem a devida civilidade urbana. Cometeram os crimes de, assédio moral, infâmia, difamação, dentro de um restaurante na Lapa. A cultura do ódio disseminada dentro e fora de casa. A cultura de Itabira precisa de um grande líder, que no mínimo saiba o que é dignidade humana.