A lógica religiosa dominando a vida política

Veladimir Romano*

Entre as questões mais debatidas pelo pensamento marxista no domínio filosófico-político em tem uma frase ainda hoje bem icônica quando Karl Marx escreveu que a religião é o “ópio do povo” [Die Religion… Sie ist das Opium des Volkes. 1818-1882].

Do ponto de vista científico, não é o marxismo nesse reflexo ideológico, qualquer provir denominando como a religião sempre gostou e gastou na maioria do seu tempo, procurar estratégias rígidas favorecendo domínio moral até ao monopólio feito cálculo desde antigas civilizações trabalhando tendências itinerantes que fogem da sua espiritualidade para, isso sim, dominar comandos originariamente politizados.

Penetrar nas massas, impactar ideologias retoricamente religiosas, não obstante revoluções terem acontecido, terríveis conflitos sociais evoluindo; aqui, complacente, se compreende que sociedades de componente religiosa.

Foi assim que, tendencialmente, criaram superstições, erudita fraqueza ou até desperdício cultural, fáceis de amedrontar, confundir, acovardar, permanecendo vulgata estruturante dessa essência gregária ao dogma.

Intenções aumentaram transformando crença [qualquer cobre em ouro] numa supra pretendida palavra. Politizada a religião, descobrem outra forma de se chegar ao povo, aquele votante solitário nem sempre atento analista, que pensa como certos líderes ocuparam lugar consumindo religião e, monopolizando esta, em proveito próprio.

Essas são linhas gerais no processo do poder desejando articular pela ordem das ordens. Ser atraente aos olhos dos incautos, é a forma como a lógica religiosa usou e aplicou sua lenta revolução vindo desde o feudalismo ao absolutismo, vezes sem conta indo pelas insurreições populares.

Entretanto, deixando fugir o naturalismo, caiu a unidade entre contendas levando possível renovada consciência. Ficou um imperativo forçado e a permanência sentida ao radicalismo, procuram conexões por onde boa orgânica das massas elaboram novos padrões.

É assim que marginalizam o processo político, tal como se vem testemunhando com violência orientada do mais radical e fanático mundo islami(s)ta [se criou novo substantivo colocando a consoante “s”, diferenciando verdadeiros praticantes não radicais]. Aceleraram sua sobrevivência num trajeto turbulento, fechando sua própria gaiola.

Aproveitando tão frouxo exemplo, praticantes religiosos atuais buscam pilotar idêntica lógica ancestral, agora, arcaico privilégio a novos poderes, e assim conseguiram acumular pontuação tendencialmente profana, ameaçadora da própria liberdade.

Não fica em causa qualquer legitimidade religiosa. Em tempos idos, certos desvios como no presente, cristãos de várias origens, islamitas, xintoístas, ou mesmo budistas e demais ordens, aplicaram suas energias tentadoras implicando através da política, outras rivalidades perigosamente cobrando tributos.

São falsas ideologias fomentando mais teorias, igualando ditaduras, aligeirando indícios, reanimando mortes anunciadas. É assim que a religião volta sempre dispondo das mesmas armas, requinte retórico, usando credenciais sedutores para mais tarde aplicar sua força bruta desejando amputar sistemas que oferecem falsas aprovações.

Em todos os continentes, incluindo aqueles onde a presença [com influências tribais], secundaram igualmente fundamentalismos, o milagre acaba sendo sempre idêntico: Política e Religião nunca foi feliz casamento.

São compreendidas provocações primitivas, impureza politeísta adquirindo supremacia. Isso ocorre já desde Atenas, passando por Roma a Constantinopla, Memphis à Cidade Imperial.

Ou ainda em civilizações ameríndias ou pagãs africanas, divergentes doutrinas nunca fizeram muita diferença. Rivalizam-se com a usurpação politiqueira.

No seu nascimento, não se descobrem referenciais históricas pela demanda politizada nas palestras de Abraão, Crisna, Jesus, Maomé, Buda, Lutero, Lao Zi, Kunta, San ou mesmo Allan Kardec.

São importantes reveladores de uma certa Espiritualidade que ainda subiste no presente procurando debate, mas nunca política, que só chegou depois, por meio das ambições daqueles que, usando temas religiosos, ambicionaram [que através de grupos influentes, açambarcando o palco político, chegaram ao poder] estratégias convenientes pela tomada de mais alto comando favorável.

O agravante em certos grupos políticos é a combinação religiosa lutando pelo Poder para dominar a Economia, que é o que interessa, entregando ao povo novos formatos da velha escravidão. Religião e política se misturam em proveito dos que praticam a primeira, em nome de Deus, mas buscando influenciar pessoas em proveito de interesses particularistas.

Nos dois temas editados na década de 1940 pelo padre brasileiro Americo Corrêa Marques, ele nos encaminha dos finais do século 19 a uma realidade que hoje se identifica com as suas obras A Personalidade de Jesus no Labirinto Evangélico e depois com  Erros e Mentiras de uma Seita.

Padre Américo revela raciocínios, liberta preconceitos, disciplina capacidades, relatando como «ervas daninhas» aqueles que disseminaram tanta ignorância. E o resultado político mais recente tem ficado ao testemunho da Humanidade… esse antigo desejo monopolista, fanatizado atrativo através das provas e domínio sobre democráticas instituições, se revelaram derrotistas. Pelo simples exemplo, religiões adulteradas, são verdadeiro poder idealizando proveitos materialistas ao invés de clarificar novos trilhos espirituais.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

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