A infantilização da fé: como o ultraconservadorismo religioso reforça o patriarcado e alimenta o ódio

Líderes religiosos ultraconservadores usam a fé para reforçar o patriarcado, silenciar mulheres e atacar a diversidade

Foto: Rovena Rosa/
Agência Brasil

Ultraconservadores têm se fortalecido ao promover a submissão cega dos fiéis, a dominação masculina e a perseguição sistemática a grupos LGBTQIA+, em nome de uma suposta moral patriarcal

Por Henrique Cortez*

EcoDebate – Em muitas partes do mundo, o ultraconservadorismo religioso evoluiu para mais do que uma doutrina espiritual — tornou-se um mecanismo de controle.

Por trás de sua fachada de retidão moral, esconde-se um sistema profundamente enraizado, projetado para infantilizar os fiéis, suprimir a dissidência e sustentar a dominação patriarcal.

Infantilizando os fiéis

Movimentos religiosos ultraconservadores frequentemente exigem obediência cega. Os seguidores são desencorajados a pensar criticamente e ensinados a depender inteiramente das autoridades religiosas para orientação.

Essa infantilização — tratar adultos como incapazes de pensar por si mesmos — cria uma dependência que favorece os líderes, que se posicionam como figuras paternas. Esses líderes se tornam os árbitros supremos da verdade, da moralidade e até mesmo de decisões pessoais, como casamento e educação.

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A ascensão do patriarca da seita

No centro desse sistema está a figura patriarcal — o líder religioso que encarna autoridade, masculinidade e favor divino. As mulheres, nessa visão de mundo, são relegadas a papéis secundários: cuidadoras domésticas, apoiadoras silenciosas e responsáveis pela criação dos filhos.

Seu valor espiritual é frequentemente medido pela submissão à autoridade masculina e pela capacidade de manter estruturas familiares tradicionais.

Essa dinâmica não apenas marginaliza as mulheres, mas também reforça uma hierarquia rígida de gênero que sufoca o progresso e a igualdade.

O modelo patriarcal é apresentado como divinamente ordenado, tornando a resistência não apenas uma transgressão social, mas também espiritual.

O ódio como ferramenta de controle

Talvez o aspecto mais preocupante seja a forma como ideologias religiosas ultraconservadoras usam o ódio contra pessoas LGBTQIA+ como instrumento de dominação.

Ao retratar identidades LGBTQIA+ como ameaças à ordem patriarcal, esses movimentos cultivam medo e hostilidade.

Pessoas LGBTQIA+ são rotuladas como rebeldes contra a lei divina, não por suas ações, mas porque sua existência desafia a estrutura binária e hierárquica que o ultraconservadorismo busca preservar.

Esse pânico moral fabricado serve a dois propósitos: unir os fiéis contra um “inimigo comum” e desviar a atenção de abusos internos e contradições dentro da própria seita.

Urgência da reflexão crítica

A fé religiosa pode ser uma fonte profunda de significado e comunidade. Mas quando se torna uma ferramenta de infantilização, patriarcado e ódio, ela precisa ser questionada.

A crença, em tese, deveria empoderar, não escravizar. Deveria elevar todas as pessoas, independentemente de gênero ou identidade — e não reduzi-las a papéis definidos por dogmas.

À medida que as sociedades enfrentam a influência do ultraconservadorismo religioso, o desafio é claro: defender a liberdade de crença, qualquer que seja, enquanto resistimos a sistemas que exploram essa liberdade para perpetuar desigualdade e divisão.

*Henrique Cortez, jornalista e ambientalista. Editor do EcoDebate.

 

 

 

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