A Cidadezinha e a guerra da Tríplice Aliança Parte – 5 – última da série

Artilharia uruguaia se prepara para a Batalha do Boqueirão

Fotos: coleção BN-Rio
Pesquisa: Cristina Silveira

A extensão da Guerra da Tríplice Aliança no século 21

Nesta parte 5, a querida audiência desta vila da utopia itabirana saberá se Virgílio José Barbalho foi ou não foi à guerra. Se o Barbalho foi e voltou, ou, ficou quentinho no colo da mamãe chupando jabuticabas e jogando as cascas pela janela.

Aqui e agora certo é que, após 158 anos de seu término, a Guerra da Tríplice Aliança volta ao bureau da diplomacia. Por enquanto sem artilharias, sem obuseiro, sem munição explosiva magneto hidrodinâmica, misseis, drones kamikazes, enfim as armas futuristas.

Por justa causa, no dia 30 de novembro de 2020, o governo do Paraguai constituiu uma comissão no Parlamento do Mercosul (Parlasul) para analisar o genocídio contra o seu povo reduzido a 70% durante o conflito.

O Parlasul aceitou o pedido em 4 de abril de 2022, na 5ª. audiência pública. O investigador Domingo Laíno disse que a comissão “busca reparar o Paraguai. Deve-se 1º. fazer a reparação econômica” – pede 150 bilhões de dólares -, “depois a reparação material e a reparação intelectual”.

Uma guerra não termina nunca, o que se interrompe é o corpo-a-corpo no campo de batalha, o espírito e a necessidade da guerra permanece nos planos dos mandatários.

Urra! Viva os valentes soldados russos! (Cristina Silveira, uma Z)

Macaquitos. O enterro da Tríplice Aliança (El Centinela, 9 de maio de 1867).

Pergunta inocente

Para quem viram umas vacas de leite que o cabo de cavalaria do corpo policial João Paulo de Meira foi no cavalo n. 59 do mesmo corpo buscar no retiro do comandante superior interino da Guarda Nacional da Itabira?

Serão em paga da autorização para continuar em seus excessos contra o guarda nacional Virgílio José Barbalho?

Sendo assim, nada mais barato, ou correu dinheiro grosso?

O Progresso da Concussão.

[Constitucional (MG), 9/11/1867. BN-Rio]

Mulheres e crianças paraguaias, maiores vítimas da guerra. Coleção BN-Rio.

Resposta a um certo bacharel

Publicação a pedido. Chegando ao meu conhecimento que certo bacharel pouco amante da honestidade, e assaz malévolo, como já o confessou, propala por todos os cantos desta cidade, e até nos espetáculos públicos que eu na qualidade de chefe de seção da secretaria da presidência prestava informações falsas com o único fim de obstar a que o guarda nacional designado pelo comandante superior da Itabira, Virgílio José Barbalho conseguisse sua soltura, recebendo para isso alguns queijos e uma vaca, desafio solenemente ao referido bacharel que apresente provas de que com efeito prestei tais informações, e recebi os presentes acima referidos, sob pena de ser reputado com vil e infame caluniador da honra alheia, caso não o faça.

Ouro Preto, 22 de novembro de 1867. Hono io Augusto Dias d Magalhães. [Diário de Minas, 23/11/1867. BN-Rio]

Conde d’Eu e aliados no fim da guerra, 1870.

Despotismo

Prometemos no número passado desta folha referir ao público com toda a minuciosidade o ato de despotismo praticado pelo Exmo. sr. Machado, contra um guarda nacional Virgílio José Barbalho.

É o que vamos fazer.

  1. Exc.ª. dormiu o sono de Epimênides, não durante quarenta e sete anos, mas somente quatro, e ao despertar ensinaram-lhe da corte a máxima imoral de Talleyrand, bispo renegado, realista de ontem, republicano de hoje e imperialista de amanhã:

“Os governos podem cometer um crime, mas nunca uma falta”.

Sancionar o arbítrio do comandante superior da Itabira contra um pobre guarda, designar a este ilegalmente, prendê-lo em uma enxovia, e remetê-lo no meio de recrutas para a guerra, rejeitando substitutos legais e fiança, era um crime; e o presidente, nestes tempos de progresso imoral, pode comete-lo, e o governo paternal do imperador costuma agraciar incontinente tão relevante serviço.

Punir um comandante superior, uma influência progressista sob o ridículo pretexto de ter abusado de sua autoridade; fazer justiça ao guarda, soltando-o, não obstante a ameaça do mesmo comandante e de mais 6 ou oito oficiais progressistas; embora importasse isto a realização de um dos princípios da escola liberal, seria ir de encontro à missão que em Minas vem desempenhar o sr. José da Costa – fazer a eleição de senador no sentido barrigudo…

E isto é uma falta política, que, S. Exc.ª. sabe, o paternal governo do Imperador jamais perdoa!

Chefes de Estado do Brasil, Argentina e Paraguai (Semana Ilustrada, 1865).

“Deixem passar a justiça do rei.”

O povo que aprenda, mas não resista, não impeça a marcha do progresso da liberdade.

O sr. Souza Ribeiro conhece perfeitamente o valor e utilidade de uma ponte.

E o barrigudismo lançou sobre o pudor, a justiça e a honra uma ponte pênsil, por onde transitam os sectários do progresso, e sobre a qual muitos passam usando ainda de manobra.

Aí vai a história sem comentos nem floreios, descarnada e simples como a própria verdade:

Virgílio José Barbalho, guarda nacional da Itabira, em março de 1865 foi designado para o serviço de guerra, declarando o comandante superior que os designados não precisavam fardar-se.

Virgílio justificou isenção perante a presidência e não sendo atendido ofereceu um substituto, que foi aceito e remetido para esta capital.

Depois disso mandou o comandante do seu batalhão, Joaquim Carlos, intimá-lo para que se apresentasse fardado, quando, entretanto, nunca exigiu isto dos outros guardas, e quando ele mesmo nunca se fardara.

Não tendo Virgílio cumprido a ordem, foi por diversas vezes preso em 1865 e 1866. Ultimamente tendo obtido do comandante superior efetivo 4 meses de licença para mascatear, foi por Joaquim Carlos, apenas assumira interinamente o comando superior preso por diversas vezes sendo a última em 20 de fevereiro deste ano, na cadeia onde se conservou até há pouco, sem mais outra formalidade além da de ir o cabo de 7 em 7 dias as grades da cadeia renovar-lhe a ordem de prisão até que se apresentasse fardado.

Em vista deste arbítrio dirigiu a mãe da vítima uma petição ao governo imperial, sobre a qual informou o comandante superior interino, Joaquim Carlos: – que não encontrando na lei n. 602 meios de corrigir o guarda usara daquele alvitre!

E trazendo pessoalmente esta peça vergonhosa ao vice-presidente com uma carta do vigário da Itabira, Monsenhor Felicíssimo, inimigo do irmão da vítima e amigo íntimo do dr. Elias, ficou a representação abafada na secretaria do governo, assim como outras quatro dirigidas por Virgílio ao mesmo vice-presidente.

Vindo o procurador de Virgílio a esta capital reclamar do governo providencias para que cessasse a perseguição acintosa, de que estava sendo vitima o seu cliente, obteve enfim por intermédio do secretário interino uma portaria ordenando ao comandante superior a soltura do guarda.

Um prisioneiro paraguaio

Mas Joaquim Carlos escondendo-se na sua fazenda, para não receber a portaria, partiu daí para esta capital sem passar previamente o comando, com cartas do vigário, com as algibeiras recheadas, e com um abaixo assinado de alguns oficiais barrigudos declarando, que se Virgílio fosse solto eles pediriam suas demissões, e ao mesmo tempo fazendo ver que guerreariam o governo na eleição para senadores.

O procurador de Virgílio havia já regressado da capital; de Santa Barbara, onde se achava, soubera dos movimentos do comandante e escrevera ao sr. José da Costa Machado avisando-o de tudo; ao que S. Exc.ª. respondeu, que se o comandante não cumprisse a ordem de seu antecessor ele participasse-lhe para poder providenciar.

Continuava o comando acéfalo, e não havendo quem recebesse o ofício do presidente mandando soltar o guarda, o procurador deste dirigiu uma petição ao sr. José da Costa, que despachou – ouvisse-se o comandante superior!…

Afinal conseguiu-se sempre do sr. Joaquim Carlos que havia já voltado de Ouro Preto, depois de longas conferencias com o sr. Machado, receber o ofício que continha a ordem de soltura!

Mas ele que tinha ameaçado a S. Exc.ª. com a guerra sua e dos oficiais barrigudos na próxima eleição de senador, traçando em roda de S. Exc.ª. este terrível circuito de Pompílio de que um agente de eleições como S. Exc.ª. não se pode sair airosamente, nenhum caso fez do oficio, e o procurador de Virgílio voltou a capital afim de entender-se de novo com o sr. presidente.

O sr. José da Costa, depois de discutir com este por muito tempo, declarou-lhe que ia mandar vir o guarda do teatro das paixões para esta capital, afim de fazer justiça.

Fez-lhe ver o procurador, que Virgílio já havia dado substituto em 1865, que estava pronto a provar a sua isenção, e que em todo o caso ele, o procurador, oferecia depositar um pajem seu, robusto e sadio e mais de 2:000$ para no caso de Virgílio não poder provar a sua isenção, ficar aquele como substituto, ou comprar-se outro.

E concluiu, fazendo ver a S. Exc.ª. que um soldado de Polícia fora acompanhar o comandante superior a Itabira e dali voltara com duas vacas…………………………………………………………….

S. Exc.ª. persistiu em mandar buscar Virgílio, afim de fazer-lhe justiça, e mandou duas praças a Itabira para conduzi-lo a capital.

Chegado Virgílio a Ouro Preto, começou S. Exc.ª. a sua justiça mandando preso para a cadeia com uma portaria ao chefe de Polícia, afim de marchar no dia seguinte como designado para a corte em uma leva de recrutas!!…

Ao saber disso o procurador de Virgílio, dirigiu-se ao sr. José da Costa, fazendo-lhe ver que não era possível o seu cliente partir no dia seguinte; pois que tinha de justificar a sua isenção, e concluiu pedindo um prazo razoável para isso.

S. Exc.ª. então revestindo-se de um ar lamurioso disse que não sabia como proceder entre a impertinência dele, procurador, e o capricho do sr. Joaquim Carlos!…

Respondeu-lhe aquele, que procedesse conforme a sua consciência, interpondo-se entre o forte e o fraco.

Fim da Guerra

S. Exc.ª. então com o rosto encandecido, com os olhos crepitantes de cólera prorrompeu em gritos contra o procurador e declarou-lhe que podia requerer e protestar como quisesse, descompô-lo no Constitucional, chama-lo capitão-mor, por que S. Exc.ª. não fazia caso de semelhantes desabafos; que o procurador era inconveniente e comprometia as suas causas!…

Entretanto o irmão de Virgílio requereu para dar substituto por este, e apresentou um pajem para isto. Depois de deter a petição desde as dez horas da manhã até uma da tarde, mandou-a S. Exc.ª. ao comandante superior da capital o sr. Carlos de Assis, que declarou não ser possível mais a inspeção naquele dia (eram 2 horas da tarde!!) e que no dia seguinte muito cedo, prometia sob palavra de honra, que faria inspecionar o subtítulo.

No dia seguinte as 8 horas da manhã recebeu o procurador do designado uma epistola do sr. Carlos de Assis, dizendo que não podia mais se ocupar com inspeções e substituições em vista de outras ocupações mais importantes, que trazia-lhe o desempenho dos deveres de seu emprego, e que por isso não podia ir proceder a inspeção do substituto de Virgílio e a substituição respectiva!…

E, entretanto, nesse mesmo dia perante o sr. Carlos de Assis procedia-se a despesa de um guarda nacional designado do Ubá, que nenhuma isenção tinha!!…

Em vista da carta do sr. Assis fez Modesto, irmão de Virgílio, uma petição ao sr. José da Costa pedindo providências, e S. Exc.ª. guardou a petição e deteve Modesto até as 11 horas da manhã, justamente a hora em que devia partir a leva, declarando-lhe que se não fosse o procurador de Virgílio teria feito justiça a este!… e, entretanto, nenhuma providência dava.

Então Modesto ofereceu a S. Exc. cinco escravos, todos de boa figura, sadios e robustos, pedindo que os mandasse depositar, para dentre eles escolher um substituto; mas que não mandasse seu irmão naquele dia!…

Disse-lhe mais que depositava além dos escravos a quantia que S. Exc.ª. exigisse, com tanto que seu irmão não partisse…

Pediu-lhe que deixasse Virgílio preso na cadeia mesmo onde estava, e que ele, Modesto, se comprometia sob fiança a ir conduzir o substituto depois de inspecionado e aceito, até o lugar em que encontrasse a leva de recrutas…

Mas tudo foi de balde! O sr. José da Costa foi inflexível… e passou sobre a ponte da lei e da humanidade!…

E Virgílio seguiu na leva!…

[Constitucional (MG), 30/11/1867. BN-Rio]

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1 Comentário

  1. Na hora H, a Argentina e Uruguay pularam fora do campo de batalha e tudo ficou por conta do Brasil e seu mal treinado exército, o qual parecia mais um ajuntamento mambembe e que demorou a tomar forma.

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