A aria dos meninos mortos
Jorge de Lima
É muito tarde! E tudo é uma inutilidade!
Mas de repente um clamor estranho acabou de se ouvir!
Será a ária dos meninos mortos?
É muito tarde! As estrelas não são lindas.
Não há arvores, não há brisas, tudo está quieto
para eu ouvir a aria dos meninos mortos.
Os meus companheiros de infância, onde repousas para sempre?
A noite não tem berços embalando, nem borboletas noturnas,
nem as saudosas assombrações.
A poesia não consegue encontrar o amor nem os lábios sensuais.
Mas de repente um clamor acabou de se ouvir.
Será a aria dos meninos mortos?
Um era cego, o outro era pobre e doente como Job.
A noite não tem flores, nem nuvens nem cabras-cabriolas.
A poesia não consegue ouvir as fontes nem os acalentos
nem os pássaros escuros.
Ah! Os meninos mortos! Celidonia era branquinha…
Nada está propicio, Poesia!
Meninos mortos, meninos mortos,
a noite que veio é sem fim!
Poema extraído de Obras Completas, Jorge de Lima, Editora Nova Aguilar.
No destaque, No limite, obra de Manoel Bersan. Ateliê da Laura, Rio, 21/3/2017