Greenwashing: por que essa prática pode impactar investimentos pós COP30?

Foto: Instituto Jornada da Amazônia/
Reprodução

Juliana Franco*

A realização da COP30 em Belém, trouxe discussões decisivas para o futuro das práticas ambientais e reforçou a importância de compromissos concretos na transição para uma economia de baixo carbono. Para empresas e investidores, o evento sinalizou uma nova era de expectativas: mais regulação, maior transparência e a consolidação de diretrizes que promovem a responsabilidade climática.

Eventos, como essa conferência, também funcionam como catalisadores para um movimento global em prol da transparência ambiental. Embora o Brasil tenha melhorado a divulgação de dados sobre desmatamento e crimes florestais, ainda existem falhas significativas na abertura de informações sobre crimes contra a fauna, grilagem de terras e uso de agrotóxicos.

O estudo Dados Abertos e Combate a Crimes Ambientais, produzido pela Transparência Internacional – Brasil, Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji) e Instituto Centro de Vida (ICV), revelou que a transparência de dados para ações de combate a crimes ambientais no Brasil ainda é insuficiente.

A análise de 41 bases de dados geridas por órgãos públicos, nos níveis federal e dos Estados da Amazônia Legal, mostra um percentual de abertura de 65% das bases federais e de apenas 33% na média dos nove Estados da Amazônia Legal.

Governos, consumidores e investidores exigem informações verificáveis sobre emissões, uso de recursos e metas ambientais. Isso representa uma mudança na forma como as empresas comunicam suas ações, transformando práticas ambientais de um diferencial reputacional para um componente essencial na avaliação de riscos e oportunidades.

Esses desdobramentos criam oportunidades de valorização, enquanto empresas que não se adaptarem a essa realidade provavelmente enfrentarão custos de capital mais altos e redução no interesse de investidores. Assim, a credibilidade das práticas ambientais corporativas passa a ser central no processo decisório do mercado financeiro, como parte de uma estratégia econômica global que integra sustentabilidade.

Companhias que fracassam em demonstrar compromisso com a sustentabilidade de maneira concreta tornam-se alvos de desconfiança e deixam espaço para denúncias de greenwashing, prática que contradiz a nova mentalidade de transparência e responsabilidade.

De acordo com o levantamento Greenwashing no Brasil: Um estudo sobre as alegações ambientais nos produtos Edição 2024, realizado pela Market Analysis Brasil com o apoio do Instituto Akatu, 85% das alegações ambientais em produtos vendidos no país são falsas ou enganosas, um índice semelhante ao registrado há dez anos (83%).

Isso indica que, apesar do aumento do discurso verde no mercado, a transparência das marcas ainda não evoluiu na mesma proporção.

Relatórios padronizados e auditáveis são, cada vez mais, uma obrigação para competir no mercado. Nesse contexto, essas ações não apenas contradizem a agenda ambiental global, mas também colocam empresas em risco significativo, afetando investimentos, reputação e a confiança do consumidor.

Para investidores brasileiros, nove em cada dez entrevistados, 98%, dizem que relatórios corporativos de sustentabilidade contém informações não comprovadas, segundo Pesquisa Global com Investidores 2023 da PwC.

Empresas que exageram ou falsificam seu comprometimento ambiental podem levar investidores a tomarem decisões com base em dados incorretos, resultando em perdas financeiras.

Além disso, quando tais práticas são descobertas, a confiança no valor de mercado da empresa despenca. As consequências incluem desvalorização imediata das ações, maior custo de capital e danos irreversíveis à reputação.

Além do mercado financeiro, essa prática também afeta profundamente a reputação corporativa e a confiança dos consumidores. Vivemos em uma era em que os consumidores estão cada vez mais críticos e informados sobre práticas empresariais.

Redes sociais e mídia amplificam denúncias de incoerências, resultando em boicotes, críticas públicas e, muitas vezes, perdas substanciais nas vendas.

Empresas que recorrem ao greenwashing enfrentam dificuldades para reconstruir sua credibilidade, especialmente porque práticas enganosas em sustentabilidade costumam sugerir falhas mais amplas de governança.

A COP30 consolidou um caminho sem volta: o papel da sustentabilidade em práticas empresariais deixou de ser opcional. A transparência, autenticidade e compromisso em atender às demandas ambientais são, simultaneamente, obrigações éticas e estratégias de mercado.

greenwashing, longe de ser uma solução fácil, tornou-se um risco inaceitável para empresas que buscam prosperar em um mundo orientado por métricas ESG.

*Juliana Franco, é professora do de Ciências Econômicas da UniCesumar EAD.

 

 

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