Manoel Nunes Viana em contradições
Mauro Andrade Moura
Pelo conteúdo histórico que chega até nós hoje em dia, Manoel Nunes Viana foi uma pessoa bastante carismática entre os seus parceiros e comandados ante suas lidas comerciais e nos embates da Guerra dos Emboabas.
Nascido em Viana do Castelo, norte de Portugal, em finais do século XVIII, ainda jovem chegou ao Brasil na praça de Salvador – BA. Consta no registro da alfândega “passa Manuel Nunes Viana, homem de mediana estatura, cara redonda, olhos pardos, cabelo preto, com sua carregação que consta de vinte e três cargas de molhados. Rio Grande, 14 de maio de 1717”.
Nota-se em seu registro uma condição constante nas pessoas vindas do reino para a colônia, a de adotarem como sobrenome a terra de onde vieram, daí o “Viana”.
Chegando ao Brasil trabalhava como mascate e com o tempo conseguiu a confiança da viúva e donatária D. Isabel Guedes de Brito, filha do Mestre-de-Campo Antonio Guedes de Brito e viúva do Cel. Silva Pimentel, Nunes Viana recebeu dela uma procuração para defender seus direitos sobre o imenso domínio herdado do pai, compreendendo 160 léguas de terra do Morro do Chapéu às nascentes do rio das Velhas, e assim ganhava o poder de um homem “que vendia os gados e vigiava os caminhos”.
Mas, além de defender os interesses da D. Isabel, Nunes Viana trabalhava como mascate e assim introduzia nas minas os ”produtos oriundos do reino e da Bahia em troca de ouro em pó”.
Sabido é que, com o descobrimento das muitas lavras de ouro no centro de Minas Gerais a partir de 1693 com a bandeira de Antônio Arzão em Cataguases, financiado pelo Carlos Pedroso da Silveira, ocorre uma explosão demográfica nessa região que não tinha víveres para suprir a tanta gente.
Nunes Viana com grande rebanho bovino e com aceso a mercadorias e alimentos em Salvador – BA, além do fumo e aguardente, em sua imprescindível rota margeando o Rio São Francisco e o Rio das Velhas até as proximidades de Sabará e Caeté, seguia mascateando os alimentos em troca do ouro em pó, além de ir adquirindo a confiança dos esfomeados mineiros.
Foi conquistando espaço e recebendo datas minerais, principalmente em sociedade com o primo Manoel Rodrigues Soares em Catas Altas, bem como na localidade de Caeté.
Como toda essa região já vinha sendo ocupada inicialmente pelos bandeirantes paulistas, odisseia iniciada pelo grande Fernão Dias Paes Leme, sempre acompanhado pelo filho Garcia Roiz Paes e o genro Manoel de Borba Gato, esses e os demais paulistas se consideravam os legítimos “donos” das lavras e da exploração do ouro face aos longos anos e vultosos investimentos que fizeram para a descoberta do “Sabarabuçu” ou “Eldorado”.
Sucedeu que os paulistas mineradores precisavam dos víveres e carne bovina que estava em mãos de Nunes Viana e pagavam tudo a preço de ouro, pois era a moeda corrente nas minas. O preço do alimento foi subindo e o mascate Nunes Viana e sua gente ampliando seu domínio adquirindo novas lavras minerais por troca de liquidação das contas da comida fornecida, contrariando o desejo dos paulistas em manterem essas terras sob seu domínio.
Em 1708 eclode a sangrenta Guerra dos Emboabas, sendo os emboabas capitaneados pelo Nunes Viana e os paulistas pelo Borba Gato, que já vivia nesta região por longas décadas.
Como já citei anteriormente, essa guerra insana foi entre cristãos-novos portugueses e cristãos-novos paulistas, em sua maioria. Sabido é da origem sefaradita de Manoel Nunes Viana e seus parceiros Bento do Amaral Coutinho e Sebastião Pereira de Aguilar, bem como a de Manoel de Borba Gato e seu cunhado Garcia Roiz Paes, além dos primos paulistas Bartolomeu Bueno da Silva, “o Feio ou o Anhanguera”, e Amador Bueno da Veiga.
Dentre as pessoas que influenciaram Manoel Nunes Viana, temos a figura do criptojudeu Miguel de Mendonça Valladolid, homem de negócios que percorria as rotas do comércio São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Bahia, Colônia do Sacramento, e que lhe ensinou as orações judaicas.
Valladolid recebeu ordem de prisão em 10 de Abril de 1728 do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa, tendo sido entregue aos cárceres em 26 de Novembro de 1729 e de lá nunca mais saiu.
No compasso da Guerra dos Emboabas, Nunes Viana foi sagrado na Capela de Cachoeira do Campo pelos seus parceiros como governador das Minas, o que seria a primeira eleição no absoluto mundo português de setecentos. Obviamente que não foi aceito isto pela coroa portuguesa, tendo sido a Guerra dos Emboabas fator determinante para a divisão da província do Rio de Janeiro e criação da província de São Paulo e Minas de Ouro, atual Minas Gerais. Em seguida despacharam o Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, governador nomeado pela coroa portuguesa, para apaziguar os combatentes.
São lugares de destaque de palco de batalhas na Guerra dos Emboabas:
-Rio das Velhas – Sabará, antiga Sabarabuçu;
-Morro Queimado, entre Caeté e Barão de Cocais;
-Cachoeira do Campo;
-Guarapiranga; e
-Capão da Traição, entre Tiradentes e São João Del Rey, de onde surgiu o nome Rio das Mortes.
Nunes Viana vivia em mundos paralelos, distintos. Da pobreza na infância e juventude à opulência em fase adulta. Os muitos filhos que teve sem nunca ter casado, porém reconhecendo a todos em testamento. Os estudos judaicos com o amigo Miguel de Mendonça Valladolid e as filhas encaminhadas aos conventos católicos. Os muitos títulos recebidos da coroa portuguesa mesmo sendo conhecida sua ascendência judaica, fato este proibido por decreto régio após a instituição da inquisição católica em Portugal. E a guerra que evitou em participar mas não se furtou em atuar nela.
Neste seu mundo de contradições, Nunes Viana, naquela remota época, tinha em sua biblioteca os títulos:
-Mystica Ciudad de Dios, de Soror Maria Agreda (1685);
-Las Guerras Civiles de Granada, de Ginés Pérez de Hita (1595-1619)
-Portugal Restaurado. do conde da Ericeira (1710)
Teve ainda o cuidado de patrocinar Nuno Marques Pereira, pagando pelo terceiro volume das “Décadas”, de autoria de Diogo do Couto (Lisboa, 1736), o qual lhe foi dedicado.
Fontes:
-Wikipédia;
-A saga de Manoel Nunes Viana, autor João Cândido da Silva Neto;
-Tribulações do Povo de Israel em São Paulo, autor Marcelo Meira Amaral Bogaciovas;
– Ser marrano em Minas Colonial, autora Prof. Anita Novinsky; e
-Carta padrão a Manoel Nunes Viana, Arquivo Público Mineiro.
Manoel Rodrigues Soares e Manoel Nunes Viana perseguiram muito o povo de Catas Altas:
Meu três vezes hexavô materno, o capitão Thomé Fernandes do Valle foi um dos perseguidos.
EXTRAÍDO DO LIVRO DE GUARDAMORIA DE CATAS ALTAS QUE VAI DE 1737 A 1744:
Cópia do Bando de 14 de junho de 1722, a respeito da contenda que estava acontecendo em Catas Altas:
“Faço saber aos que este meo Bando que por quanto estes povos da Cattas Alttas e o Mestre de Campo Manoel Rodrigues Soares, seos sócios e Pedro Vaz também com seo sócio Thomé Fernandes andão há muitos tempos em grandes contendas sobre a forma de minerar a respeito da repartição das agoas o que tem servido de grande prejuizo ao serviço de El Rey Nosso Senhor por senão ter extraído destas terras o ouro todo que se podia ter tirado… mandando que suspendessem as lavras dos sobreditos, athé que eu viesse a este arrayal a descidir o que parecesse conveniente, conforme a El Rey Nosso Senhor; e com outro sim todos estes povos tem experimentado um grande prejuizo se não consentir que ninguém athe agora lavrase naquellas partes aonde se entende que há mays abundância de ouro… fui hoje fazer vistoria nos serviços e agoas das contendas levando em minha companhia todas aquellas pessoas que me pareceram de sam consciência e verdadeiras intelligência de minerar por serem mineiros antigos e muito intelligentes nestes serviços deste arrayal… (…) … mando e declaro que se observe o seguinte: que Pedro Vaz e o sócio trabalhem no seo serviço que tem principiado no Morro das Cattas Alttas trabalhando com a água do primeiro córrego; e que o Mestre de Campo Manoel Rodrigues Soares, e seos sócios trabalhem com a agoa toda em que tinha a maior parte o Licenciado José Gomes… (…) … este meu bando se publicará a som de caixas neste arrayal das Cattas Alttas…” Assinaram: Dom Lourenço de Almeida e o secretário do governo Manoel de Alfonseca de Azevedo que redigiu o documento.
Acredito que sim, Éder.
Afinal de contas dizem que as rugas aconteceram em Caetés, mas na verdade foi no Morro Queimado.
O Nunes Viana percebeu a fragilidade dos bandeirantes e tentou tomar tudo para ele, só não sabia que o Borba Gato também era bastantemente de estopim bem curtinho.
Meu “avô” Amador Bueno da Veiga veio de Guaratinguetá ao que depois ficou conhecido como Rio das Mortes e empreendeu uma única batalha, a que conteve o avanço dos emboabas.
Excelentes informações sobre a G. dos Emboabas. Vou procurar maiores informações sobre Guarapiranga. Não sabia dessa ramificação.
Att. Ângela
Muito bem, Ângela.
Gostaria de conhecer o que encontrar a respeito de Guarapiranga.
Oi, Mauro,
Esta “crônica?” esta muito boa, principalmente porque parece que ele ainda foi muito pouco estudado.
Mas não esqueça de guardar todas, porque quando tiver mais de umas 60, você estará com um livro nas mãos, é só mandar publicar.
Um grande abraço,
Lênio Richa
genealogiabrasileira.com
Bom dia, amigo Lênio.
Essa crónica do Nunes Viana é um resumo dos atos, feitos e desfeitos dele e a história da vida dele mesmo daria um filme épico.
Publiquei-a na intenção de que sirva de referência para a nova biblioteca que estamos criando em Tiradentes-MG tenha o nome do Emboaba.
Só de poesias que compus já dá para publicar uma brochura… rs
Grato pela gentileza,
Mauro
Muito interessante.
Principalmente analisando que hoje nenhuma dessas cidades tem grande importância econômica.
Gostaria de saber por que essas cidades nao se desenvolveram mais como Belo Horizonte.
Abracos,
Jordao
Bom dia, meu sobrinho.
O atraso económico dessas cidades deveu-se ao sistema de exploração do ouro, que era só o de aluvião, aquele escorrido pelas margens dos rios. Outros dizem que Portugal levava tudo para a metrópole Lisboa, sim, levaram, mas sempre se esquecem do investimento que foi feito aqui a mando da Coroa e a quantidade de ouro contrabandeada principalmente pelos “santos do pau oco”.
Aqui em Itabira, nossa família passou cem anos guardando ouro, diferentemente das demais e das outras regiões, para depois fundarem as duas fábricas de tecido que funcionaram quase cem anos.
Belo Horizonte cresceu somente por conta de ser a capital, pois aqui no Brasil temos o “mau” costume de serem as capitais a receberem os primeiros e maiores investimentos com fundos públicos.
Veja bem, retiraram o dinheiro do Ministério do Turismo que seria destinado a Itabira para retirar a fiação do Centro Histórico em favor a requalificação da Pampulha, que de histórico quase nada tem, exatamente por estar na capital de Minas Gerais.
E, nesta crónica, está lá a participação do nosso “avô” Amador Bueno da Veiga, o comandante que conteve um pouco o ímpeto dos emboabas.
Beijinhos nas crianças,
Mauro
Boa noite.
Me chamo Fábio Augusto Nunes Viana.
Estou estudando a árvore genealógica bda família.
Sei que meus ancestrais viveram na Bahia
Tocantins Matogrosso Goiás.
Estive em Israel como voluntário no exercito e por ter aprendido com facilidade o Idioma disseram que era memoria genética.
Foi aí que cheguei até esse nome.
Se puderem me passar mais informações agradeço.Hj sou casado com uma Israelense brasileira estamos nos preparando para voltar a Israel.Para educar nossos filhos.
Olá, Fábio Augusto.
Esse nome “Viana” significa que a pessoa é oriunda de Viana do Castelo, norte de Portugal e bem na divisa com a Galiza.
Também sou Viana, porém por um outro lado mas que também é de Viana do Castelo.
Sou Denilson Santos Nunes Vianna
O sobre nome Nunes Vianna vem do meu pai
Um dos irmãos de meu avô chamava-se Manoel Nunes Viana
Minha bisavó Chamava Paulina Nunes Viana
Meu bisavô Manoel Anacleto Nunes Viana
Estou estudando a árvore geologica
Então, Denilson.
Manoel Nunes Vianna deixou duas filhas dele no Convento de Macaúbas, Jaboticatubas, e vi documentos de um filho dele com o mesmo nome pleiteando funções públicas já em meados do século XVIII.
É tentar chegar sua genealogia até este.
Grato pela leitura,
Mauro
Olá, boa tarde
Você saberia dizer qual é a ligação entre esse Manoel Nunes Viana e um Antônio Nunes Viana, português de Viana do Castelo, que provavelmente também viveu nesse período em Catas Altas ? Este Antônio Nunes Viana era casado com Escolástica Pires Monteiro e nascido antes de 1700. Sua filha, Maria do Rosário Viana, nascida por volta de 1733 foi depois para a região de Prados.
Nos batismos de seus netos em Prados, a Escolástica Pires Monteiro está como natural e batizada em Catas Altas do Mato Dentro.
Bom dia.
Normalmente quando se utilizava um nome desse, o Vianna, era para designar a origem da pessoa.
Pelo visto o Antônio e o Manoel, ambos Nunes, eram de Viana do Castelo, porém, sem documentos, é difícil de afirmar se eram parentes.
O Manoel era filho de Antônio Nunes Viegas.
Saudações,
Mauro
Estou atras dessa infornacao, ate sobre Escolástica Pires Monteiro…munha descentende…Ja descobriu algo…esta bem dificil sobre esse casal!
Então, Danilo.
Pires e Monteiro são famílias que vieram de São Paulo para Minas Gerais e Escolástica era nome comum no século XIX.
Eu sou Viana, meu DNA cromossomo Y é J1, típico do povo Judeu… vi que esse Manoel Nunes Viana consta no Museu da Inquisição como Judeu Sefardita e que viveu aqui em Minas Gerais na região de Caeté, consegui identificar também que ele veio de Viana do castelo… resta saber se é ancestral meu, pois minha família também tem origem em Viana do Castelo.
Como vai, Leandro.
Além deste Nunes Viana, há os Viana de Santa Luzia e os Viana da Serra do Cipó.
Conseguiu saber a região onde viviam seus avós e bisavós?
Saudações,
Mauro