Livro “Se baterem, cantem!” resgata resistência estudantil e é lançado hoje no Diretório da Medicina da UFMG, em BH
Fotos: Acervo Cememor - 4.jun.77/Cedecom
Obra revive o cerco de 1977 ao III Encontro Nacional de Estudantes e a luta pela reconstrução da UNE durante a ditadura
Neste sábado (11), das 16h às 17h, será lançado em Belo Horizonte, no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG, o livro Se baterem, cantem! – Estudantes desafiam a ditadura em 1977.
Organizado por Cândida Emília Borges Lemos, com textos de Angela Drummond, Izabel Zóglio, Samira Zaidan e Virgínia Castro, a obra resgata um dos episódios mais emblemáticos da repressão militar ao movimento estudantil: o cerco e prisão de cerca de 850 estudantes durante o III Encontro Nacional de Estudantes (III ENE), em junho de 1977.
O III ENE foi convocado por estudantes de todo o país com o objetivo de reconstruir a União Nacional dos Estudantes (UNE), extinta pela ditadura militar após o golpe de 1964. A reunião estava marcada para o dia 4 de junho de 1977, em Belo Horizonte, mas já na véspera, as forças repressivas se mobilizaram para impedir sua realização.
Comitivas estudantis começaram a chegar à capital mineira, e muitos se concentraram no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG, onde se organizava uma vigília. A repressão foi imediata e violenta.
A Polícia Militar cercou o prédio, invadiu o espaço com autorização do então governador biônico Aureliano Chaves e prendeu centenas de estudantes, que foram levados ao Parque de Exposições da Gameleira, transformado em centro de detenção improvisado.
A repressão em marcha com cerco, fichamento e intimidação
Segundo relatos publicados na Vila de Utopia, a repressão começou ainda na noite de sexta-feira, 3 de junho. Estudantes foram interceptados nos ônibus, fichados pela polícia e impedidos de se reunir.
O cerco ao Diretório da Medicina foi parte de uma operação coordenada para sufocar qualquer tentativa de reorganização política estudantil. A tropa de choque da PM agiu com brutalidade, invadindo o espaço sem mandado judicial, e sem permissão do então reitor Eduardo Osório Cisalpino (1920/2017), intimidando os presentes e prendendo indiscriminadamente.
A mobilização envolveu estudantes de diversas cidades, incluindo Itabira, que teve vários detidos na ocasião. Os itabiranos Jânio Bragança era o presidente do Diretório Central de Estudantes de Minas Gerais (DCE-MG), Lúcio Sampaio, ex-editor de O Cometa, presidia o Diretório Acadêmico (DA) da Fafich e José Afonso Cabral, o DA da Medicina.
A repressão não poupou ninguém dos que estavam presentes na noite de vigília no DA da Medicina. Foram todos levados em comboio para o parque da Gameleira, onde passaram horas sem alimentação, sem comunicação com familiares e sob vigilância armada.
Presença na vigília e na Gameleira
O editor deste site Vila de Utopia participou da vigília. Foi detido e levado para o parque da Gameleira, junto com os demais estudantes. Na reportagem publicada neste site Eles que amavam tanto a democracia. E a revolução também, Carlos Cruz testemunhou como foi o fim da detenção:
“Voltamos a pé para as nossas casas, de madrugada. Não havia transporte coletivo naquela hora. Estávamos cansados e famintos, mas felizes por ter participado de um encontro que não aconteceu, mas que acabou virando um marco na luta contra a ditadura.”
O texto na Vila de Utopia também destaca que, mesmo sem a realização formal do encontro, o III ENE entrou para a história como símbolo de resistência. A repressão não conseguiu apagar o espírito de luta dos estudantes, que continuaram a se mobilizar nos anos seguintes, contribuindo para a redemocratização do país.
Memória e significado
Essa mobilização culminou na realização do 31º Congresso da UNE, em Salvador, no ano de 1979, que marcou oficialmente a reconstrução da entidade.
Realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, o congresso reuniu mais de 6 mil estudantes de todo o Brasil, mesmo sob vigilância e ameaças do regime militar.
Foi nesse encontro histórico que a UNE foi formalmente refundada, após 15 anos de clandestinidade, retomando seu papel como principal entidade representativa dos estudantes universitários brasileiros.
A partir dali, a UNE voltou a atuar abertamente, fortalecendo a luta por eleições diretas, anistia ampla e irrestrita, e pela redemocratização do país, o que aconteceu com a promulgação da Constituição de 1988.
“Se baterem, cantem!”, a palavra de ordem que virou título do livro

O título do livro remete à palavra de ordem entoada pelos estudantes nas ruas e nas manifestações, naquela histórica ocasião: “Se baterem, cantem!”. A frase simboliza a resistência pacífica e corajosa diante da violência do Estado militarizado.
A obra reúne depoimentos inéditos, entrevistas e documentos que reconstroem a memória de um tempo de coragem, solidariedade e enfrentamento.
O lançamento do livro será no mesmo local onde os estudantes resistiram em 1977 no Diretório da Medicina da UFMG, o que reforça o caráter simbólico e histórico do evento.
É assim que esse lançamento é um reencontro com a memória, um tributo à juventude que ousou desafiar a ditadura e um lembrete da importância de manter viva a chama da democracia.
Serviço
Lançamento do livro Se baterem, cantem! – Estudantes desafiam a ditadura em 1977
Organização: Cândida Emília Borges Lemos
Autores: Angela Drummond, Izabel Zóglio, Samira Zaidan e Virgínia Castro
Quando: Sábado, 11 de outubro de 2025
Horário: Das 16h às 17h
Onde: Diretório Acadêmico Alfredo Balena – Faculdade de Medicina da UFMG
Endereço: Avenida Alfredo Balena, 190 – Santa Efigênia, Belo Horizonte (MG)
Entrada gratuita
Leia mais aqui: Vila de Utopia – Eles que amavam tanto a democracia. E a revolução também









