Alberto Silva, ex-governador do Piauí, e ex-aluno da Unifei, desperta para a vocação ao ver na infância engenheiro consertar rádio

Campus da Unifei em Itabira, no distrito industrial Maria Casemira Andrade Lage

Foto: Carlos Cruz

Em discurso na Unifei, político relembrou episódio da infância que serve de reflexão sobre a crise de interesse pela engenharia no Brasil

Paulo Sizuo Waki*

Por volta da década de 1930-40, o jovem Alberto Silva (1918-2009), vivia na fazenda de seu avô. Na época o grande e único bem de entretenimento era o rádio. A família toda se reunia em torno do aparelho para ficar ouvindo os programas.

Um dia o rádio pifou! Foi aquele alvoroço, como viveriam sem o rádio? Não havia nada que pusesse o aparelho a funcionar novamente. Alguém lembrou que havia uma pessoa na fazenda, trabalhando na manutenção das máquinas do engenho e, talvez, essa pessoa pudesse consertar o equipamento.

Correram a chamar o moço que adentrou o recinto e passou a examinar o aparelho. Abriu a caixa, algumas peças trocadas, e lá estava o rádio a funcionar novamente. Todos ficaram maravilhados, o rapaz era mágico, um portento de competência.

Ao ser inquirido, o moço respondeu tranquilamente, sou engenheiro e faz parte das minhas competências. Mais algumas perguntas e todos já sabiam que o rapaz estudara em Itajubá.

Fez-se a fama, engenheiro de Itajubá era muito bom, até sabia consertar rádio!

Alberto Silva, que a tudo ouvia, passou a repetir sem parar: “quando crescer vou ser engenheiro de Itajubá!”.

O tempo passou, Alberto estudou, foi para Itajubá e se formou em engenharia. Não deve ter exercido a profissão por muito tempo, pois logo enveredou pela política, foi deputado, senador e governador do Piauí.

Mas, ter estudado e se formado em engenharia por Itajubá, teve papel importante na história e trajetória de vida de Alberto Silva.

Esta história foi contada pelo governador em seu discurso, quando foi paraninfo de uma das turmas de formandos da Unifei.

E Alberto Silva termina o seu discurso falando: “Hoje sou engenheiro de Itajubá!”.

Para saber mais sobre o ex-governador Alberto Silva, acesse aqui:

E também aqui aqui: https://youtu.be/6ExO1PoisJk?si=7hNN1lwGHSz8KZDq

Essa história, além de ser interessante pelo seu aspecto humano, é exemplar para ilustrar o momento que vivemos na engenharia. No início do século XX, um pequeno exemplo (consertar rádio) foi fundamental para despertar num jovem o seu desejo de se tornar engenheiro.

É verdade! Um exemplo vale mais que mil palavras para convencer as pessoas.

Outro ponto importante, não é o dinheiro que leva o jovem a seguir determinada carreira. Dinheiro conta, mas não é tudo. O desejo de se tornar “herói” conta bastante.

E agora vamos a alguns fatos que foram noticiados recentemente:

O CEO da CIEE fala na Jovem Pan News sobre a crise de interesse dos jovens pela engenharia.

A relação dos inscritos, no vestibular da Unifei, mostra a baixa procura pelas vagas em cursos de engenharia: somente 50% dos cursos ofertados tiveram mais candidatos que vagas.

Lógico que diversos fatores contribuem para esse desinteresse pela área. Mas, me parece que a crise de interesse por engenharia passa pela “falta de exemplos da importância de ser engenheiro”. E não adianta ficar contratando marqueteiros se não houver exemplos a serem seguidos.

E vamos ao fato final, o anúncio do prêmio Nobel de Física este ano. Os três vencedores foram reconhecidos pelas suas contribuições no estudo do tunelamento macroscópico, um fenômeno intrinsecamente quântico transposto ao mundo macroscópico, que deverá balizar os futuros desenvolvimentos tecnológicos, em especial a computação quântica.

A engenharia será chamada a atuar num contexto bastante complexo, muito distante da realidade do nosso mundo cotidiano (basta ver a dificuldade dos repórteres em explicar o que era tunelamento, microscópico ou macroscópico).

Leia aqui: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=nobel-fisica-2025&id=010110251007

Os exemplos de atuação impactante da engenharia já não tratam de simples consertos de rádio, mas sim de operar complexos microscópicos quânticos, cujo funcionamento está muito além da capacidade de compreensão de um ser humano normal.

E como se faz para “vender um produto” que o consumidor não sabe para que serve? A atuação do engenheiro ficou bastante complexa.

* Paulo Sizuo Waki é bacharel e doutor em Física pela Universidade de São Paulo. Pós-graduado em Planejamento e Gestão em Ciência e Tecnologia pela Fundação João Pinheiro – BH. Professor da Unifei desde julho de 1979, onde ocupou vários cargos de direção. Foi Diretor de Política Científica e Programas Especiais do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *