Seca prolongada deixa bairros de Itabira sem água, e Saae faz manobra com rodízio para enfrentar a crise hídrica

Situação do manancial Pureza é crítica desde o início da estiagem

Foto: Filipe Augusto/
Ascom/PMI

Com mananciais em baixa e estações de tratamento de água operando no limite, rodízio de água permanece e moradores relatam até uma semana sem abastecimento

Como vem ocorrendo há décadas, nos últimos anos com mais intensidade, Itabira vive mais uma crise hídrica. Com os principais mananciais em baixa vazão (Pureza, Gatos, Três Fontes, Areão e Rio de Peixe), a Prefeitura decretou estado de emergência e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) implantou um regime de rodízio no abastecimento.

Segundo o Saae, a medida foi aprovada pela Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento Básico de Minas Gerais (ARISB-MG) – e busca equilibrar a distribuição diante da queda acentuada na captação de água bruta.

A situação é crítica e afeta diretamente a população. Moradores que não dispõem de reservatórios maiores têm relatado passar dias, e até semana inteira, sem água em casa. Um morador do bairro Água Fresca disse ter ficado mais de uma semana sem que uma única gota chegasse à sua caixa d’água.

Mananciais em colapso

De acordo com o Saae, a escassez é generalizada, mas afeta com maior intensidade os sistemas alimentados por fontes superficiais, como as Estações de Tratamento de Água (ETAs) Pureza e Gatos.

Na ETA Pureza, responsável por abastecer cerca de 60% dos bairros da cidade, a vazão caiu 30,3% entre fevereiro e setembro, chegando a 91 litros por segundo, volume esse que só possível graças à captação emergencial no córrego Rio de Peixe, iniciada em agosto.

Já na ETA Gatos, a queda foi de 40,53%, com média de apenas 29 litros por segundo em setembro.

Embora menos severa que a de 2024, a estiagem de 2025 continua impondo grandes desafios. Sem chuvas significativas desde abril, os mananciais não se recompõem, e a cidade segue em alerta.

Daí que o Saae reforça a importância do uso consciente da água e mantém medidas emergenciais para garantir o abastecimento alternado em todas as regiões.

Interrupções e reclamações

Em resposta à reclamação de um morador encaminhada pela reportagem, o Saae reconhece que, embora o calendário de racionamento esteja sendo seguido, interrupções pontuais têm agravado a percepção de falhas no fornecimento.

No dia 30 de setembro, uma queda na vazão do anel hidráulico abastecido pela Vale afetou bairros como Gabiroba. Já em 2 de outubro, uma manutenção da Cemig interrompeu o fornecimento de energia à ETA Areão, comprometendo o abastecimento em regiões como Água Fresca.

A autarquia explica que, após religamentos, o tempo de preenchimento das tubulações e reservatórios pode causar demora na normalização, especialmente em áreas mais elevadas.

Vale e o TAC: reforço com dificuldades
A barragem Santana, da Vale, ainda não atingiu o nível mínimo registrado no ano passado, mas já se encontra próxima desse patamar, o que indica a recorrência de uma seca severa (Foto: Carlos Cruz)

Por força de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Vale é obrigada a suplementar o sistema de abastecimento com 160 litros por segundo (l/S), via alça hidráulica.

Desde o início do racionamento, em 24 de setembro, a mineradora tem contribuído a mais com reforços diários entre 17 e 56 l/s. Segundo o Saae, a empresa vem cumprindo o TAC, embora com dificuldades operacionais para manter o volume pactuado.

“O Saae tem mantido diálogo permanente com a Vale desde o mês de agosto, com o objetivo de acompanhar o cumprimento das obrigações previstas TAC”, informa a autarquia municipal.

Pelo TAC, a Vale é obrigada a fornecer esse reforço, para amenizar a crise hídrica na cidade, provocada pelo quase monopólio das outorgas que a mineração detém, deixando a cidade por décadas com recursos escassos.

Esse reforço deve ocorrer enquanto prosseguem as obras do novo sistema de captação e tratamento de água do rio Tanque, que promete ser a “solução definitiva” para o abastecimento de Itabira.

Com investimento de R$ 1,17 bilhão, que serão alocados pela Vale, novo sistema de abastecimento na cidade prevê a construção de uma adutora, estações elevatórias e uma nova Estação de Tratamento de Água (ETA) no Alto do Pinheiro, bairro Campestre.

A conclusão das obras está prevista para 2027. Até lá, a população de Itabira deverá enfrentar pelo menos mais um ano de escassez hídrica em 2026, já que não há fontes alternativas disponíveis além das captações profundas de água nos aquíferos rebaixados pela atividade mineradora.

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