Flitabira 2025 reverencia os 80 anos de “A Rosa do Povo” e celebra os 120 anos de Érico Verissimo com grandes nomes da literatura e pegada ambiental

Arte: Divulgação

Conceição Evaristo, Loyola Brandão, Milton Hatoum e Ana Maria Machado dialogam com a atualidade da obra de Drummond em festival que transforma Itabira em encruzilhada literária, ética e ambiental

“Que rumor é esse na mata? / Por que se alarma a natureza? / Ai… É a moto-serra, que mata, / Cortante, oxigênio e beleza.”

Com esses versos do livro Mata Atlântica, Carlos Drummond de Andrade já denunciava, em poesia, a devastação ambiental no Brasil — e também em sua terra natal, Itabira, marcada historicamente pela mineração.

Hoje, Itabira enfrenta um dos quadros mais críticos de arborização urbana do país, com apenas 25,2% de suas vias públicas arborizadas, segundo dados oficiais do IBGE. Em tempos de mudanças climáticas, esse índice revela não apenas um desafio estético, mas uma urgência ambiental e social. Para enfrentar esse cenário, foi lançado o projeto Itabira Mais Verde, iniciativa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal (Semapa), que propõe uma construção coletiva da política de arborização urbana, com escuta popular, planejamento técnico e ações efetivas.

Reuniões comunitárias estão sendo realizadas em diversos bairros, convidando moradores a contribuírem com ideias e sugestões para transformar a paisagem urbana e mitigar os efeitos da crise climática.

Ao celebrar os 80 anos de A Rosa do Povo, a quinta edição do Flitabira reafirma seu compromisso com o meio ambiente e o bem-estar social ao renovar sua parceria com o Instituto Terra, fundado por Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado. O convênio prevê o plantio de árvores nativas na reserva do Instituto, em Aimorés (MG), educação ambiental, formação de jovens profissionais especializados e, futuramente, a recuperação de nascentes — ações que conectam cultura e natureza com preservação, como Drummond sempre defendeu.

Como todo evento público, um festival literário também gera impacto ambiental. O aumento de veículos no entorno, a montagem de estruturas, o deslocamento de convidados de outras regiões — tudo isso contribui para o acréscimo de emissões de dióxido de carbono na atmosfera. A forma mais eficaz e simbólica de compensar esse impacto é o plantio de árvores, que além de absorver carbono, contribui para a restauração ambiental e o equilíbrio climático.

A recuperação de nascentes, área em que o Instituto Terra tem excelência há 27 anos, também está prevista como etapa futura do convênio com o Flitabira. É uma frente que também Itabira precisa desencadear com urgência, especialmente para preservar o rio Tanque, que em grande extensão já não conta com mata ciliar e sofre há décadas com o assoreamento. A degradação do rio compromete não apenas o ecossistema local, mas também o futuro abastecimento da cidade, que enfrenta neste ano uma das crises hídricas mais severas de sua história, dede que foi agravada pela mineração em larga escala.

Enquanto essas ações de reabilitação da mata ciliar não acontece no curso desse rio, o maior da “aldeia” de Drummond, o projeto Itabira Mais Verde segue como uma resposta imediata e necessária à transformação dessa realidade, pelo menos na cidade. A proposta é tornar mais verde a paisagem urbana, com o apoio participativo da população itabirana, que precisa se engajar no plantio, na preservação e na valorização dos espaços públicos arborizados.

Mais verde na cidade significa temperaturas mais amenas, melhor qualidade do ar, redução de enchentes, bem-estar físico e mental, além de valorizar os espaços coletivos e fortalecimento da biodiversidade urbana. É uma mudança que começa com o gesto de plantar, mas que se multiplica em benefícios duradouros para o meio ambiente, para a saúde da população e para a memória coletiva de uma cidade. Isso para tornar mais bonita a “fotografia na parede”, por uma Itabira mais verde, viva e respirável, com menos pó de minério suspenso na atmosfera.

O 5º Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira) acontece de 29 de outubro a 2 de novembro, de quarta a domingo, com programação presencial em uma grande tenda que será montada na avenida Daniel Grisolia — e também no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), com atividades digitais nas redes sociais do evento.

Todas as ações são gratuitas e abertas ao público.

Drummond e a encruzilhada do presente

Com o tema Literatura, Encruzilhada e A Rosa do Povo, o Flitabira 2025 homenageia a obra mais politizada de Carlos Drummond de Andrade, publicada em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo. A Rosa do Povo reúne 55 poemas escritos entre 1943 e 1945, período marcado por angústias coletivas, censura, violência e esperança de reconstrução. É considerada a obra mais extensa e madura do poeta, e um marco do lirismo social na literatura brasileira.

Nesse livro, Drummond abandona o humor e o coloquialismo de obras anteriores para adotar um tom grave e solene, com versos livres e brancos que expressam a tensão entre o engajamento político e o ceticismo pessoal. A rosa, símbolo da poesia, é também a flor do povo — expressão das dores, contradições e esperanças de uma época sombria. Como escreveu no poema Nosso Tempo: “O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista / e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas / promete ajudar a destruí-lo.”

Em 2025, A Rosa do Povo continua sendo uma flor que nasce do asfalto, como um gesto de solidariedade e resistência diante do absurdo. Sua atualidade se revela na persistência das encruzilhadas que vive o Brasil e o mundo com as guerras e genocídios, com as crises ambientais, ameaças à democracia, desigualdades sociais e o esvaziamento do sentido coletivo, do espírito comunitário.

A palavra poética de Drummond não é apenas espelho da realidade. É a bússola ética, capaz de apontar caminhos e provocar transformações. É assim que, ao trazer essa obra para o centro do debate, o Flitabira convida o público a refletir sobre o papel da literatura como espaço de escolha e consciência. Afinal, A Rosa do Povo não é apenas memória de um tempo dilacerado — é também convocação para o presente, para que a poesia continue sendo instrumento de luta, escuta e reconstrução.

Patrono Érico Verissimo: 120 anos de legado

O Flitabira também celebra os 120 anos de nascimento de Érico Verissimo, patrono da edição. Autor de obras como Olhai os lírios do campo e O tempo e o vento, Verissimo será homenageado com o Ciclo de Debates Virtuais Érico Verissimo: 120 anos, em parceria com o Sesc SP.

Entre os participantes estão Jeferson Tenório, Paulo Scott, Itamar Vieira Junior, Socorro Acioli, Sérgio Rodrigues, Eloar Guazzelli, Letícia Wierzchowski, Thiago Lacerda, Márcia de Lima e Silva e Fernanda Verissimo.

Autores homenageados e convidados

Quatro grandes nomes da literatura brasileira contemporânea são homenageados nesta edição: Conceição Evaristo, com sua escrevivência que transforma memória em resistência, Ignácio de Loyola Brandão, cuja obra denuncia distopias sociais e políticas, Milton Hatoum, que entrelaça identidade, história e deslocamento na Amazônia, e Ana Maria Machado, cuja literatura infantil e adulta amplia horizontes da imaginação e da cidadania.

Eles se juntam a uma constelação de convidados que cruzam fronteiras entre literatura, jornalismo, memória e arte. São eles:
Itamar Vieira Junior, Miriam Leitão, Pedro Drummond, Paulo Scott, Ana Paula Araújo, Ricardo Aleixo, Cidinha da Silva, Eliane Marques, Matheus Leitão, Teresa Cárdenas, Simone Paulino, Leo Cunha, Silvana Tavano, Dona Rosinha, Morgana Kretzmann, Camila Fabbri, Geni Núñez, Ângelo Oswaldo.

E mais Edney Silvestre, Ilan Brenman, Alexandre Coimbra Amaral, Flávia Ayer, Taiane Santi Martins, Bernardo Ajzenberg, Aírton Souza, Alessandra Roscoe, Cláudia Flor D’Maria, Seu João Xavier, Paloma Jorge Amado, Isabela Noronha, Edmílson Caminha, Tino Freitas, entre outros.

Flitabira da Gente

Na avenida ao lado do Teatro da FCCDA, o festival promove o Flitabira da Gente, espaço dedicado a empreendedores locais com estandes de artesanato, gastronomia, tranças e produtos culturais. A proposta é valorizar o comércio criativo da cidade e promover diversidade cultural.

Isso acontece desde a sua estreia, em 2021, ao incentivar o setor criativo-econômico e o comércio local. Em sua quinta edição, não seria diferente: agora o chamado Flitabira da Gente, o evento recebe, na avenida Daniel Grisolia, ao lado do centro cultural da FCCDA, empreendedores locais.

O local promete ser um dos pontos mais dinâmicos do Flitabira, contando com estandes de artesanato, variedade de produtos manufaturados por artesãos da cidade.

Formulário de inscrição disponível em breve no site oficial

Lançamento de livros

Uma das marcas do Flitabira é a valorização da produção independente. Autoras e autores terão espaço para lançar gratuitamente suas obras durante o Festival, com a única contrapartida de doar dois exemplares para bibliotecas da cidade (a doação fica sob responsabilidade da produção do Flitabira). As vendas também poderão ser realizadas diretamente pelos escritores, via Pix, sem cobrança de comissão.

Para lançar seu livro no 5.º Flitabira, o(a) autor(a) deve preencher este formulário até o dia 17 de outubro. Após o preenchimento, a equipe do Festival entrará em contato para agendar a data e hora do lançamento, que será realizado na livraria do Flitabira. Posteriormente, a agenda será divulgada no site do Festival e a produção do evento enviará para o autor inscrito um flyer para divulgação.

Prêmio de Redação e Desenho

Perpetuando a tradição de suas edições anteriores, o 5.º Flitabira realiza o Prêmio de Redação e Desenho do evento. Com o tema A literatura na encruzilhada – O valor do livro e do escritor na vida de um país, a proposta do concurso é inspirar reflexões sobre o papel que os livros desempenham na vida cotidiana, o impacto de um escritor na sociedade, quais escolhas podem ser feitas para manter a literatura viva, e demais questões tangentes à construção de um Brasil mais leitor, crítico e criativo.

O prêmio é voltado para estudantes entre 4 e 18 anos de idade, matriculados em escolas públicas e particulares de Itabira. O concurso é dividido em seis categorias: três para redação e três para desenho, respeitando as faixas etárias e também garantindo a participação de pessoas com deficiência (PCDs).

Os estudantes podem participar com apenas um trabalho por categoria, que deve ser digitalizado e enviado pela escola à organização do Evento. As redações devem ser escritas à mão, com caneta preta ou azul, na folha oficial disponibilizada no site do 5.º Flitabira. Já os desenhos podem ser feitos com o material da escolha do aluno.

A premiação é um estímulo à parte: os primeiros colocados de cada categoria receberão R$1.000,00, os segundos colocados, R$500,00, e os terceiros, R$300,00. Além disso, os professores dos alunos premiados serão presenteados com livros selecionados pela organização do Festival.

As inscrições vão de 1º de setembro a 21 de outubro de 2025, e os trabalhos devem ser enviados para o e-mail redacao@flitabira.com.br, acompanhados do Termo de Autorização (para estudantes menores de 18 anos de idade).

Todos os documentos, incluindo o regulamento da premiação e as folhas de desenho e redação, estão disponíveis em http://flitabira.com.br. A divulgação dos vencedores será feita no dia 1º de novembro, durante a cerimônia de premiação no 5.º Flitabira.

Maratona de Leitura – Seja Breve

Dentro da programação do 5.º Flitabira, está a Maratona de Leitura – Seja Breve, uma atividade formativa voltada para a leitura e reflexão, em parceria com a Editora Seja Breve, de Bernardo Ajzenberg e Cadão Volpato.

O desafio propõe que cada participante tenha quatro horas para ler um livro escolhido na hora e, logo depois, escreva uma redação com reflexões sobre a obra. A data e o local da realização da ação, que acontece durante o Festival, serão divulgados em breve, no site do 5.º Flitabira.

Serão disponibilizadas 25 vagas ao público, e as inscrições devem ser feitas por meio de formulário on-line (a ser divulgado). Os dez melhores textos serão premiados com R$300,00 cada. Os laureados serão anunciados no sábado (1/11), na cerimônia do Prêmio de Redação e Desenho. Todos os participantes receberão, como presente, o livro que leram durante a maratona e um certificado oficial.

Trata-se de mais uma atividade gratuita e aberta a qualquer pessoa interessada, sem restrição de idade.

Sobre o 5.º Flitabira

Com uma programação extensa, para todos os públicos, o 5.º Flitabira promove debates literários, lançamentos de livros, contação de histórias para crianças, prêmio de redação, apresentações musicais, entre outros. O Festival homenageia os escritores Conceição Evaristo, Ignácio de Loyola Brandão, Milton Hatoum e Ana Maria Machado e tem a curadoria de Afonso Borges, Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches.

O 5.º Flitabira é patrocinado pela Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem apoio da Prefeitura de Itabira.

Serviço

5.º Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira
De 29 de outubro a 2 de novembro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Avenida Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @flitabira
Entrada gratuita

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